PM diz que não fazia operação no momento em que menina foi morta . Menina de 6 anos morreu baleada enquanto brincava na rua na noite deste domingo
Pablo Rebello - O GLOBO 20/08/12 - 10h07
RIO - A Polícia Militar disse que não fazia operação em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, no momento em que a menina Yasmin de Moura Camilo foi morta. Em nota, a PM informou que um blindado estava estacionado na Estrada do Camboatá com o objetivo de reprimir o roubo de veículos. Segundo o comunicado, “um motorista que passava pelo local avisou aos policiais militares que perto dali havia cerca de 30 de bandidos tentando fechar a rua”.
Com isso, os policiais do 41º BPM (Irajá) deslocaram o blindado até o local para checar a denúncia. Ao chegar no endereço, os agentes foram recebidos a tiros. Segundo o comandante do batalhão de Irajá, tenente-coronel Carlos Eduardo Sarmento, os policiais militares não revidaram. Na mesma nota, a PM lamenta a morte de Yasmin e diz ainda que os PMs disponibilizaram as armas para o delegado da 39ª DP (Pavuna), que registrou o caso.
Na manhã desta segunda-feira, a mãe de Yasmin - que tem 6 anos e não 4, como havia sido informado - disse que a menina não tinha certidão de nascimento. A ambulante Tereza Odete Bento de Moura, de 38 anos, que tem ainda mais sete filhos, explicou que ainda não providenciou o documento porque não vive mais com o pai da menina e precisa dele para solicitar a certidão. Tereza disse ainda que perdeu todos os documentos pessoais há três meses e ainda não retirou a segunda via deles.
Muito abalada, a mulher disse que está sem dormir nem comer desde este domingo.
- Passei muito mal. Parece que arrancaram um pedaço de mim - disse ela.
O corpo de Yasmin está no Hospital Souza Aguiar, no Centro, para onde foi levado depois de passar pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros. O pai da menina, o garçom Antônio Camilo Severeno, de 42 anos, contou que estava trabalhando no momento em que a filha foi atingida por um tiro de fuzil.
A mãe da menina disse que, pouco antes de Yasmin ser baleada, a filha insistiu para brincar no pula-pula, que é montado todo domingo no pagode da comunidade. A criança foi atingida enquanto a mãe levava o filho caçula, de 1 ano e 8 meses, para casa. Quando voltou, Tereza encontrou a menina caída no chão. O pai soube do acontecido por uma vizinha. Quando chegou na casa da ex-mulher, a menina já havia sido levada pelos policiais para a UPA do bairro.
De acordo com vizinhos, a criança foi baleada após um carro blindado da Polícia Militar ter entrado na comunidade Terra Nostra. Por volta de 23h30m, quando os tiros foram disparados, houve muita correria e a criança ficou caída no chão. Após perceberem que a menina havia sido baleada, os moradores cercaram o carro blindado do 41º BPM (Irajá), informaram que a criança estava ferida e pediram que os policiais a socorressem.
A mãe da criança carregou a filha nos braços até o carro blindado, que as levou até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros, onde foi constatado que o tiro de fuzil 762 entrou pela nuca e ficou alojado na cabeça. A criança faleceu no Hospital Souza Aguiar, no Centro, para onde foi transferida com perda de massa encefálica. A mãe de Yasmim foi encaminhada para a 39ª DP (Pavuna) pelo policiais militares, onde o caso foi registrado.
Funcionários da UPA relataram que ao darem entrada na unidade, os PMs contaram que a criança havia sido baleada em um confronto entre traficantes de facções criminosas rivais. O padrinho de Yasmim, que pediu para ter a identidade preservada, contesta a versão e alegou que os policias entraram atirando na comunidade e que não havia tiroteio.
- Não tinha tiroteio. Estava tendo um pagode. Se houve invasão foi da parte deles (policiais) - contou o padrinho de Yasmim.
No último sábado, o adolescente Elizeu Santos Trigueiro da Silva, de 15 anos, foi morto durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Favela do Arará, em Benfica. Em nota, a corporação afirma que o menor foi encontrado ferido numa da vielas da comunidade, mas parentes dizem que ele foi baleado pelos policiais. Os pais do menino, que foi enterrado neste domingo, pretendem processar o Estado
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
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