ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 26 de agosto de 2012

FALTA DE POLICIAIS INDIGNA CIDADE


ZERO HORA 26 de agosto de 2012 | N° 17173


JANAÍNA KALSING* | Picada Café
Colaboraram Luís Bissigo e Thiago Copetti

Picada Café acordou assustada neste sábado, repetindo uma pergunta:

– Polícia, para quê?

O sentimento de indignação, compartilhado entre os 5 mil moradores da cidade da Serra, é porque muitos deles ligaram ao número 190, no começo da madrugada, para avisar da movimentação estranha. Mas foram tentativas em vão: ninguém atendia.

O aposentado Edgar Poettcher, 53 anos, reside em frente à agência. Despertou assustado com a movimentação e logo se apressou em acordar a mulher. Enquanto espiava pela janela a ação dos bandidos, a mulher tentava, insistentemente, acionar o polícia. Não recordam ao certo o número de ligações, mas o suficiente para desistirem.

– Acho que estou tranquilo agora porque tomamos medicação, mas sentimos muito medo. Nós precisamos de mais segurança. A cidade não é mais a mesma – desabafou o aposentado, no fim da manhã de sábado, enquanto assistia à prefeitura retirar os entulhos da explosão.

O industriário aposentado Antônio Schmitt, 53 anos, também observava, incrédulo, os destroços da agência. Estava acordado quando ouviu de casa, no limite do município com Presidente Lucena , a 6 quilômetros dali, o estrondo. Pensou que pudesse ser um planta que tem nos arredores de casa que tivesse caído, mas não. Não pregou o olho quando descobriu, pelo rádio, da explosão.

– Dei graças a Deus por não estar perto. Soube que muita gente tentou ligar para a polícia, mas não foi atendido. A gente precisa de mais segurança .

Uma idosa, que reside perto da agência e não quis se identificar, conta que ouviu toda a movimentação no início da madrugada. Pensou que alguém vizinho estivesse fazendo mudança, mas estranhou, por causa do horário. Quando foi olhar pela janela de casa, viu homens usando máscaras e munidos de revólveres. Assustada, ligou para a polícia, mas não conseguiu contato. Para garantir a segurança, sentou-se num cantinho da cozinha, ao lado do fogão.

– Só consegui voltar para a cama perto das 4h, mas estava muito nervosa, com a garganta seca. Só consigo agradecer que a minha casa tem grades. A gente precisa de mais atenção, de mais reforço policial – afirmou a moradora.


BM admite efetivo insuficiente

Há 29 anos na Brigada Militar, o tenente-coronel Marcelo Dornelles dos Santos, comandante do primeiro batalhão de policiamento em áreas turísticas – que abrange Picada Café–, afirma que não ter um policial militar de plantão na cidade na hora do ataque é fruto de efetivo insuficiente em uma situação que se repete em todo o Estado.

– Não posso dizer se vou receber mais efetivo ou não. Que eu preciso é evidente. Atuo com um número muito pequeno de policiais, como todo o Estado. Nossa esperança é que alguma dessas novas turmas de soldados venha para a região.

Na próxima semana, diz Dornelles, deve chegar na cidade um novo sargento para assumir o comando em Picada Café.

A Polícia Civil também promete intensificar a reação contra os ataques com explosivos. No dia 14, após ação criminosa semelhante em Torres, o delegado Guilherme Wondracek, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirmou que a Polícia Civil se preparava para uma ação contundente.

O maior exemplo desse trabalho, diz Wondracek, foi a prisão de Enivaldo Farias, o Cafuringa, na semana passada. Ele é apontado como um dos líderes dos recentes ataques no Estado. Na oportunidade, o diretor do Deic chegou a dizer que esperava por alguns dias mais tranquilos. O ataque deste sábado, porém, quebrou a esperança de calmaria.

– Os ataques são imprevisíveis, mas nossa resposta foi com a prisão de um dos principais líderes dos ataques. E outros cairão em breve – garantiu Wondracek.



Ataque com explosivo desafia polícia

Bando saqueou dois caixas eletrônicos e fez um refém em Picada Café, que estava sem PM de plantão durante ação criminosa

A explosão em mais um banco voltou a expor a fragilidade do policiamento no Estado. No momento em que um grupo de assaltantes detonou dois caixas eletrônicos do Banco do Brasil de Picada Café, por volta das 2h30min deste sábado, não havia policiais militares de plantão na cidade – na madrugada, a vigilância fica sob a responsabilidade da Brigada Militar da vizinha Nova Petrópolis.

Este foi o 15º ataque a banco com explosivos no ano no Estado – a maior parte, em cidades com menos de 30 mil habitantes, onde a escassez de policiais se torna mais evidente. Segundo a Brigada Militar, quatro homens armados atacaram o Banco do Brasil da Rua Emancipação, no centro de Picada Café. Conforme o relato de um vizinho, os criminosos prepararam a detonação por cerca de meia hora, período em quew interromperam o trânsito na via e renderam um pedestre. Outros vizinhos, que acompanhavam a movimentação pela janela, tentaram acionar a polícia pelo fone 190, mas não tiveram resposta.

Depois da explosão, mais 20 minutos teriam se passado até que o grupo fugisse, dando tiros para o alto e levando um refém – um homem de 28 anos que transitava de moto pelo local. Ele foi solto no bairro Joaneta, atendido em estado de choque no posto de saúde local e logo liberado. Quando os policiais chegaram ao local da explosão, só encontraram a destruição.

Cidade fica desguarnecida durante seis horas por dia

A polícia montou barreiras em estradas federais e estaduais e realizou buscas na região, com apoio do Batalhão de Operações Especiais, mas até a manhã de sábado não havia localizado suspeitos. Pela manhã, a operação encontrou um carro preto abandonado em Santa Maria do Herval, provavelmente o veículo usado na fuga.

Há uma semana, o plantão da BM de Picada Café é interrompido por volta da 1h e retomado às 7h. Nesse intervalo, é a polícia de Nova Petrópolis (distante 12 quilômetros) quem realiza o policiamento. Conforme o responsável interino pela BM de Picada Café, sargento Edson Moreira, a medida se deve à falta de efetivo.

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