COMISSÕES / SEGURANÇA PÚBLICA - PM e Polícia Civil devem ser unificadas? A Polícia Rodoviária deve ser incorporada à PF? Senado dá início à discussão - Eli Teixeira / Agência Senado - 09/05/2011
O Senado fez nesta terça-feira (9) a primeira audiência para discutir uma proposta de emenda constitucional (PEC 21/05) do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) que reestrutura os órgãos de segurança no país. Ela prevê que a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Ferroviária serão incorporadas à Polícia Federal e que os estados poderão unificar sua polícia militar e civil. O projeto tira o Corpo de Bombeiros da PM, vinculando-o à Defesa Civil, e permite que as guardas municipais atuem na segurança pública.
A audiência foi promovida pela Subcomissão de Segurança Pública, que funciona no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, representando a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, afirmou que a PF já está sobrecarregada, com pessoal insuficiente, e não deveria receber novas atribuições - no caso, os policiais rodoviários.
Ele sugeriu que, a exemplo do que é feito hoje em países da Europa, o governo crie uma Polícia Federal de Segurança, que cuidaria das fronteiras, dos portos e aeroportos. A PF trabalharia apenas como polícia judiciária, dos crimes federais, como tráfico de drogas e de armas e crimes contra a União. Nesse caso, a atual Polícia Rodoviária poderia ser incorporada à nova Polícia Federal de Segurança.
Já Alexandre Augusto Aragon, representante da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, opinou que as polícias militar e civil "inevitavelmente serão unificadas", mas isso deverá ser feito de forma gradual e depois que a legislação estabelecer claramente as competências de cada uma delas. Com a unificação, opinou, a PM continuaria com sua responsabilidade na segurança pública e poderia cuidar dos crimes de pequena monta, enquanto os civis ficariam com os crimes contra as pessoas.
Aragon alertou que a PEC 21/05, ao autorizar as guardas municipais a atuarem na segurança pública, cria o risco de que prefeitos usem a nova força como sua guarda pessoal, colocando esses agentes a serviço de poderes políticos. Disse ainda que os bombeiros não terão o menor interesse em se separar das PMs para ficar com a Defesa Civil.
O presidente da Subcomissão de Segurança Pública e autor do projeto, senador Tasso Jereissati, sustentou que a existência de duas polícias nos estados, com comandos separados, não é eficiente e que há resistência corporativa contra a unificação. Por isso, vários projetos com essa finalidade acabaram sendo arquivados nos últimos anos no Congresso Nacional. Informou que a subcomissão ouvirá nos próximos meses todos os envolvidos e especialistas em segurança pública.
O senador Romeu Tuma (PTB-SP), indicado relator do projeto, informou que não concorda com a proposta, acreditando que uma legislação que defina com clareza o que compete à PM e à polícia civil resolverá boa parte dos problemas hoje existentes, inclusive conflitos entre as duas corporações. Disse que a Polícia Rodoviária Federal vem fazendo "um excelente trabalho" no combate ao tráfico de drogas e de armas depois que passou a receber equipamentos modernos. O senador César Borges (PR-BA), que presidiu a audiência pública, opinou que, mesmo sem unificação das duas polícias, os comandos devem ser unificados.
Ao final, o representante dos delegados federais, Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, defendeu que o diretor-geral da PF tenha mandato aprovado pelo Senado, deixando de ser "uma polícia do Executivo, mas da República". Por sua vez, o representante da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Alexandre Augusto Aragon, observou que boa parte dos policiais militares quer a unificação por acreditar que seus salários serão elevados ao nível dos policiais civis, "o que é uma ilusão". Ele aplaudiu o fim da Justiça Militar, contida no projeto, e a criação de um fundo para investimentos das polícias, que seria formado com 5% da arrecadação federal e 9% das receitas estaduais e municipais.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - De que adianta projetar mudanças no aparato policial sem a construção de um sistema integrado de preservação da ordem pública e defesa civil? Acompanhe esta análise simples das seguintes questões:
- QUESTÃO POLCIAL - Ao incorporar a polícia rodoviária federal à polícia federal, os governantes vão sobrecarregar uma polícia que tem finalidades específicas e contundentes contra o crime organizado internacional e interestadual. A Polícia Federal é uma polícia investigativa por natureza e tem que ser enxuta para evitar a corrupção e aumentar a eficácia operacional, enquanto que a PRF deveria ser transformada em Polícia de Fronteiras com seus segmentos investigativo, ostensivo e pericial. Com referência aos Corpos de Bombeiros, estes não precisam necessariamente deixar os quadros das Instituições militares estaduais, mas é importante que assumam legalmente a área de Defesa Civil. A questão da unificação PM e PC é algo superado devido à cultura e estrutura paramilitar e civil que diferenciam as suas polícias. Seria bem melhor passar a Polícia Civil, uma polícia judiciária e investigativa, para os quadros do MP e do Judiciário, atuando em crimes de improbidade, prevaricação, corrupção, lavagem de dinheiro, crimes tributários, crime organizado e no vácuo da Polícia Estadual, esta assumida pelas PMs. A PM de cada Estado se transformariam em Polícia Estadual com seus segmentos investigativo, ostensivo e pericial, o ciclo completo da atividade policial, assumindo todas as rodovias, inclusive as federais dentro do território da unidade federativa.
- QUESTÃO MINISTERIAL - A criação de um Ministério da Segurança e Defesa Civil seria importante para analisar o cenário, identificar os objetivos prioritários, estabelecer as estratégias e propor políticas, projetos de lei, processos e ações para a eficácia dos instrumentos de coação, justiça e cidadania na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Este órgão ministerial teria o papel de harmonizar as relações, integrar e mobilizar os Poderes e a sociedade organizada para a paz social no Brasil.
- QUESTÃO SISTÊMICA - É preciso reconhecer que "SEGURANÇA PÚBLICA" é um conjunto de ações e processos administrativos (Poder Executivo), normativos (Poder Legislativo) e jurídicos (Poder Judiciário) essenciais à preservação da Ordem Pública (Paz Social), da Vida e do Patrimônio das pessoas. Que as FORÇAS POLICIAIS são salvaguardas da cidadania, auxiliares da justiça e ferramentas iniciais nos processos legais que têm continuidade na justiça e na execução penal. Que a JUSTIÇA deve sanar suas mazelas para se aproximar da sociedade, dos delitos, das polícias, dos presídios e das questões de ordem pública, dando celeridade aos processos. Que o Ministério Público e a Defensoria pública precisam se estruturar para o papel de corregedoria e para garantir a denúncia e o contraditório. E que a Saúde e a Educação são direitos que complementam o sistema pelo tratamento das dependências e doenças mentais e pela inclusão e capacitação das pessoas no meio social e mercado de trabalho.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
UNIFICAÇÃO DAS POLÍCIAS, RETIRADA DOS BOMBEIROS E INCORPORAÇÃO DA PRF À PF
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