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terça-feira, 3 de maio de 2011

CRIMES ATRIBUÍDOS A PMs SE ESPALHAM POR NOVE CIDADES DE GOIÁS

Renato Alves E Saulo Araújo - CORREIO BRAZILIENSE, 03/05/2011

A prática do extermínio em Goiás não se restringe a um grupo de policiais militares nem a uma cidade. Desde o fim dos anos 1990, crimes denunciados à Justiça e atribuídos a PMs se estenderam a pelo menos nove municípios. As histórias de horror protagonizadas pelos agentes de segurança vão das clássicas e forjadas trocas de tiros, em que o suposto bandido acaba com um tiro na nuca, morto sem chance de defesa, às execuções após o sequestro da vítima.

Nesse terceiro dia de publicação da série “Crimes de farda”, o Correio Braziliense mostra as localidades com o maior número de casos e também como o hoje tenente-coronel Ricardo Rocha carrega a fama de ser o principal matador da Polícia Militar de Goiás. O título foi dado pelo Ministério Público e pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia do estado. Ele aparece como um dos 19 militares presos na Operação Sexto Mandamento, desencadeada pela Polícia Federal (PF) em 15 de fevereiro último.

Nos últimos 10 anos, os integrantes da organização criminosa investigada pelo Ministério Público e por agentes federais começaram a fortalecer a atuação em Formosa, Rio Verde, Alvorada do Norte, bem como em Goiânia. Assim, onde se instalavam, em decorrência de remoções às diferentes unidades da PM de Goiás, o número de vítimas de homicídios em supostos confrontos com homens da corporação aumentavam consideravelmente.

A maioria das mortes em supostas trocas de tiros entre PMs e bandidos ocorreu de 2003 a 2005, quando o então major Ricardo Rocha comandou as Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam). Foi o período em que a Polícia Militar goiana mais matou na capital do estado. De 6 de março de 2003 a 15 de maio de 2005, foram registrados 117 homicídios em Goiânia, cuja autoria é atribuída a PMs, a maioria da Rotam. Das 117 vítimas, 48,7% (57 pessoas) não tinham ficha criminal. Outras 60 (51,3%) eram foragidas da Justiça ou acusadas de algum crime. Rocha assumiu a Rotam após deixar Rio Verde, onde foi acusado de liderar um esquadrão da morte quando era subcomandante do batalhão da cidade do sudoeste goiano.

Então capitão, Rocha teria participado da execução de ao menos seis pessoas em Rio Verde, segundo investigações do Ministério Público goiano. Cinco teriam sido assassinados de uma vez, à beira de um córrego, em 2003. Eram fugitivos da cadeia municipal, que morreram após serem rendidos e sem portar armas. A matança em Goiânia também chamou a atenção do Ministério Público goiano, que abriu outra investigação contra Rocha. Com a patente de major, acabou transferido para Formosa, onde assumiu o batalhão local. E, justamente enquanto ele esteve no comando, a PM matou como nunca no município a 70km de Brasília.

Policiais militares admitem ter tirado a vida de 10 das 48 pessoas assassinadas em 2008 na cidade de 90 mil habitantes. Outros cinco casos ocorreram no segundo semestre de 2007. Os PMs alegam confrontos com bandidos armados. Mas a maioria das vítimas não respondia por delitos graves e morreu com ao menos um tiro na cabeça. Em dezembro de 2008, jovens e adolescentes acabaram executados com disparos na cabeça por homens encapuzados. Outro caso igual ocorreu em fevereiro de 2009. Em todos, os autores agiram em dupla. Vestidos de preto, usaram pistolas, armas idênticas às restritas à polícia.

Busca por justiça

Rodrigo Barco, 18 anos, foi um dos jovens vítimas da Rotam no período em que Ricardo Rocha comandou a unidade. O rapaz morreu em Goiânia, em março de 2005. Desde então, o pai dele, o professor Divino Rodrigues Barco, 58, luta por justiça. Divino conta que o filho foi vítima de um sequestro relâmpago. A dupla de criminosos usava um carro roubado. Ao tomar conhecimento da ocorrência, a Rotam iniciou a perseguição ao veículo. Uma equipe prendeu um suspeito, mas outro conseguiu escapar. Sem chance de explicar que não era ladrão, militares colocaram Rodrigo de joelhos e o executaram com três tiros no pescoço e três no peito.

Na época, os policiais militares disseram que Rodrigo disparou contra a guarnição, mas exames do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia provaram que todos os disparos foram dados de cima para baixo, sugerindo que Rodrigo estava rendido. O comandante da operação, capitão Marco Aurélio Godinho, e dois subordinados nunca ficaram detidos. A corregedoria da PM arquivou o processo contra eles. Por não se calar, Divino Barco passou a sofrer ameaças. “Eles (os PMs) já acabaram com a minha vida. Não me importo se me matarem hoje, porque a pessoa que eu mais amava no mundo não está mais aqui”, desabafa.

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