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Entre o medo e o orgulho, filhos lidam com o perigo da profissão das mães policiais. Além de cuidar do lar, elas trazem na cintura uma pistola e a missão de proteger os cidadãos. Carolina Rocha - DIÁRIO GAÚCHO, 06/05/2011
Nas palavras deles, é fácil concluir: há medo, mas também muito orgulho.
São tantos abraços, beijos e carinhos que o amor de mãe transborda... Também, durante sete meses, a distância entre Porto Alegre e Santa Maria (300km) parecia maior do que a que separa a Terra do Sol.
Saudade que a segundo sargento da Brigada Militar Cláudia Maria da Silva Almeida, 40 anos, promete matar dia a dia.
- "Colegas perderam pais".
Mãe de três filhos - Thyago, 18 anos, João Claudio, 15, e Lukas, 14 -, ela ensinou aos filhos o amor pela farda e pela disciplina.
- Fazendo o trabalho dela, protege a sociedade e a gente também - conta João Claudio, que pretende seguir os passos de Cláudia na carreira.
E os meninos sabem os riscos da profissão.
- Tenho colegas que já perderam seus pais em ação. Mas o orgulho é maior que o medo - lembra João Claudio.
A mãe conta que os três foram criados praticamente dentro do quartel. Depois da temporada de curso na Região Central, Cláudia faz tudo para agradar. Até o estrogonofe que o caçula Lukas adora.
E os guris não cansam de rasgar elogios à sargento do 11º BPM, na Capital.
- É ótima mãe e ótima profissional. Tenho orgulho dela - finaliza João Claudio.
- Do dever ao cafuné.
Depois de seis horas no patrulhamento ostensivo e mais seis no quartel, a sargento Cláudia encontra forças para ir a reuniões escolares, buscar os filhos, ver as lições de casa e fazer cafuné nos guris.
- A gente tira a farda e volta a ser só mãe. Claro que lembro deles o tempo inteiro. Mas sei que, na hora da ação, quando precisamos agir, tenho de pensar no meu dever - conta a PM.
- "É importante estar pronta para salvar o mundo"
Uma lágrima. Duas lágrimas. Três lágrimas. A quarta lágrima não rola no rosto da técnica em Enfermagem Eduarda, 20 anos, mas sim no da mãe dela, uma policial civil de 42 anos. E olha que Eduarda nem tinha começado a falar sobre o orgulho que sente de quem a embalou.
- A mãe sempre mostrou que é importante ser delicada e feminina e estar pronta, seja maquiada ou de salto alto, para salvar o mundo - diz Eduarda, deixando escapar um sorriso.
A mulher está na Polícia Civil há 16 anos, quando trocou as salas de aula - onde alfabetizava crianças, do Vale do Sinos -, pelas delegacias. Ela trabalha no Denarc. Para preservar a segurança dos filhos e não prejudicar os trabalhos de investigação, ela pediu para não mostrar o rosto e será chamada pela inicial C.
- "Eu sei que posso não voltar"
Na casa dela, a regra é não sair de cara amarrada.
- Ninguém sai de casa brigado. Sei que posso não voltar. Meu marido sabe que pode não voltar. Nossos filhos também sabem - conta a mãe, consciente dos riscos da profissão que tanto ama.
Mãe e filha estão acostumadas com a dura rotina policial. Quando sai da delegacia e volta para casa, C. encontra o marido, que é soldado da Brigada Militar, e os outros dois filhos a sua espera: uma menina de 13 anos e um menino de nove anos.
E quando não está no plantão como socorrista ou na UTI Neo Natal do Hospital São Lucas, Eduarda também procura o colo da mãe.
- "Sabe quando o orgulho explode?"
Se ela sente orgulho da mãe? A resposta é rápida e cúmplice.
- Claro! Muito maior que qualquer medo. Sabe quando o orgulho explode o peito?
E as lágrimas dão lugar ao abraço e aos sorrisos.
- Da matéria-prima ao produto final
Uma das coisas que C. deixa mais transparecer é o valor que dá à educação dos filhos.
Conta que o jeito é o mesmo empregado pela mãe dela.
- Muitas mães estão esquecendo o que é ser mãe. É ser amiga, mas é estar um patamar acima do filho. É importante a hierarquia - ressalta.
E a professora que virou policial civil vê, no seu trabalho, o reflexo dessa falta de ensino de valores.
- Trabalhava com a matéria-prima. Hoje, trabalho com o produto final - resume.
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