ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

sábado, 7 de maio de 2011

FILHOS DE MÃES POLICIAIS - ENTRE O MEDO E O ORGULHO


Entre o medo e o orgulho, filhos lidam com o perigo da profissão das mães policiais. Além de cuidar do lar, elas trazem na cintura uma pistola e a missão de proteger os cidadãos. Carolina Rocha - DIÁRIO GAÚCHO, 06/05/2011

Nas palavras deles, é fácil concluir: há medo, mas também muito orgulho.

São tantos abraços, beijos e carinhos que o amor de mãe transborda... Também, durante sete meses, a distância entre Porto Alegre e Santa Maria (300km) parecia maior do que a que separa a Terra do Sol.

Saudade que a segundo sargento da Brigada Militar Cláudia Maria da Silva Almeida, 40 anos, promete matar dia a dia.

- "Colegas perderam pais".

Mãe de três filhos - Thyago, 18 anos, João Claudio, 15, e Lukas, 14 -, ela ensinou aos filhos o amor pela farda e pela disciplina.

- Fazendo o trabalho dela, protege a sociedade e a gente também - conta João Claudio, que pretende seguir os passos de Cláudia na carreira.

E os meninos sabem os riscos da profissão.

- Tenho colegas que já perderam seus pais em ação. Mas o orgulho é maior que o medo - lembra João Claudio.

A mãe conta que os três foram criados praticamente dentro do quartel. Depois da temporada de curso na Região Central, Cláudia faz tudo para agradar. Até o estrogonofe que o caçula Lukas adora.

E os guris não cansam de rasgar elogios à sargento do 11º BPM, na Capital.

- É ótima mãe e ótima profissional. Tenho orgulho dela - finaliza João Claudio.
- Do dever ao cafuné.

Depois de seis horas no patrulhamento ostensivo e mais seis no quartel, a sargento Cláudia encontra forças para ir a reuniões escolares, buscar os filhos, ver as lições de casa e fazer cafuné nos guris.

- A gente tira a farda e volta a ser só mãe. Claro que lembro deles o tempo inteiro. Mas sei que, na hora da ação, quando precisamos agir, tenho de pensar no meu dever - conta a PM.

- "É importante estar pronta para salvar o mundo"

Uma lágrima. Duas lágrimas. Três lágrimas. A quarta lágrima não rola no rosto da técnica em Enfermagem Eduarda, 20 anos, mas sim no da mãe dela, uma policial civil de 42 anos. E olha que Eduarda nem tinha começado a falar sobre o orgulho que sente de quem a embalou.

- A mãe sempre mostrou que é importante ser delicada e feminina e estar pronta, seja maquiada ou de salto alto, para salvar o mundo - diz Eduarda, deixando escapar um sorriso.

A mulher está na Polícia Civil há 16 anos, quando trocou as salas de aula - onde alfabetizava crianças, do Vale do Sinos -, pelas delegacias. Ela trabalha no Denarc. Para preservar a segurança dos filhos e não prejudicar os trabalhos de investigação, ela pediu para não mostrar o rosto e será chamada pela inicial C.

- "Eu sei que posso não voltar"

Na casa dela, a regra é não sair de cara amarrada.

- Ninguém sai de casa brigado. Sei que posso não voltar. Meu marido sabe que pode não voltar. Nossos filhos também sabem - conta a mãe, consciente dos riscos da profissão que tanto ama.

Mãe e filha estão acostumadas com a dura rotina policial. Quando sai da delegacia e volta para casa, C. encontra o marido, que é soldado da Brigada Militar, e os outros dois filhos a sua espera: uma menina de 13 anos e um menino de nove anos.

E quando não está no plantão como socorrista ou na UTI Neo Natal do Hospital São Lucas, Eduarda também procura o colo da mãe.

- "Sabe quando o orgulho explode?"

Se ela sente orgulho da mãe? A resposta é rápida e cúmplice.

- Claro! Muito maior que qualquer medo. Sabe quando o orgulho explode o peito?

E as lágrimas dão lugar ao abraço e aos sorrisos.

- Da matéria-prima ao produto final

Uma das coisas que C. deixa mais transparecer é o valor que dá à educação dos filhos.

Conta que o jeito é o mesmo empregado pela mãe dela.

- Muitas mães estão esquecendo o que é ser mãe. É ser amiga, mas é estar um patamar acima do filho. É importante a hierarquia - ressalta.

E a professora que virou policial civil vê, no seu trabalho, o reflexo dessa falta de ensino de valores.

- Trabalhava com a matéria-prima. Hoje, trabalho com o produto final - resume.

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