Os casos que abalaram os pilares do comando da PM. A atuação durante os protestos e o desaparecimento de Amarildo na Rocinha puseram a polícia em xeque
VERA ARAÚJO
O GLOBO
Atualizado:6/08/13 - 0h00
Um PM joga spray de pimenta num jovem durante uma manifestação em frente ao Palácio Guanabara. Ações teriam desestabilizado Costa Filho Pedro Kirilos/11-7-2013
RIO - A decisão do coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, comandante geral da PM, de anistiar policiais militares que respondiam por punições disciplinares foi apenas o ápice de uma crise envolvendo ele e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Os dois, segundo pessoas próximas, não estavam se entendendo há pelo menos dois meses. O problema foi agravado pela reação negativa da população à atuação da PM durante os protestos nas ruas. Ao comentar as manifestações, Costa Filho acusou advogados da OAB de proteger “bandidos”, e teve um bate-boca com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), pelo Twitter, ao defender os policiais militares.
Truculência nos protestos
A atuação muitas vezes truculenta de PMs acabou minando a imagem do ex-comandante. A cena de uma manifestante indefesa, aparentemente sem oferecer qualquer perigo, atingida por um jato de spray de pimenta, lançado por um policial do Batalhão do Choque, rodou o mundo. A foto chegou a ser manchete de uma edição do jornal "The New York Times", dos EUA, com destaque.
No início de julho, a reação de policiais militares aos protestos em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, deixou novo saldo negativo. Cerca de 30 manifestantes e quase o mesmo número de PMs entraram na Casa de Saúde Pinheiro Machado, durante um confronto. O gás lacrimogêneo lançado pelos policiais tomou a unidade. A fumaça também invadiu apartamentos das imediações. Manifestantes foram perseguidos até a Praça São Salvador. Bares foram invadidos. No dia seguinte, o forte cheiro de gás lacrimogêneo continuou causando ardência nos olhos e na garganta de moradores e comerciantes da região. E balas de borracha podiam ser encontradas em diversos pontos do bairro.
Também abalou o comando da PM o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, que sumiu depois de deixar a sede da UPP na Favela da Rocinha, para onde fora levado. Pelo menos três manifestações já foram feitas por moradores da Rocinha, exigindo a elucidação do caso. Os protestos fecharam a Autoestrada Lagoa-Barra, dando um nó no trânsito. Parentes do ajudante de pedreiro não têm dúvidas de que Amarildo está morto.
O que o coronel Erir enfrentou
Abril de 2012: O policial do Batalhão de Choque Rodrigo Alves, de 33 anos, é morto a tiros durante um patrulhamento a pé na Favela da Rocinha. Ele chega a ser levado para o hospital, mas não resiste.
Setembro de 2012: Outro policial militar, Diego Bruno Barbosa Henriques, de 24 anos, é morto a tiros durante um patrulhamento na Rocinha. O soldado e mais três policiais entraram a pé em uma localidade conhecida como Terreirão, onde foram surpreendidos por dois homens armados.
Dezembro de 2012: A prisão de mais de 50 policiais militares do 15º BPM (Duque de Caxias) resulta na exoneração do comandante do batalhão, o tenente-coronel Claudio de Lucas Lima. Os policiais foram acusados de receber propina de bandidos para não coibir o tráfico em 13 favelas de Caxias. “Não aceitaremos mais ser humilhados”, disse Erir na ocasião.
Maio de 2013: Intenso tiroteio na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, assusta participantes da maratona Desafio da Paz. Alguns corredores desistiram de participar da prova. Mas a largada foi dada, e a prova teve a presença do secretário José Mariano Beltrame.
Junho de 2013: O engenheiro Gil Augusto Barbosa, de 53 anos, é baleado na cabeça ao errar o caminho e entrar na comunidade Vila do João, na Zona Norte. Barbosa morreu um mês depois. Seus familiares se revoltaram, alegando que a área, próxima ao Complexo da Maré, na Linha Amarela, é mal sinalizada. Isso acabou motivando a prefeitura a recolocar a sinalização após o incidente.
Junho de 2013: Uma ação do Bope na Favela Nova Holanda, na Maré, deixa dez pessoas mortas e gera protestos indignados de moradores. Entre as vítimas, Eraldo Santos da Silva, de 35 anos, e Jonatha Farias da Silva, de 16, ambos sem passagens pela polícia, além do sargento do Bope Ednelson Jerônimo.
Atualizado:6/08/13 - 0h00
Um PM joga spray de pimenta num jovem durante uma manifestação em frente ao Palácio Guanabara. Ações teriam desestabilizado Costa Filho Pedro Kirilos/11-7-2013
RIO - A decisão do coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, comandante geral da PM, de anistiar policiais militares que respondiam por punições disciplinares foi apenas o ápice de uma crise envolvendo ele e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Os dois, segundo pessoas próximas, não estavam se entendendo há pelo menos dois meses. O problema foi agravado pela reação negativa da população à atuação da PM durante os protestos nas ruas. Ao comentar as manifestações, Costa Filho acusou advogados da OAB de proteger “bandidos”, e teve um bate-boca com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), pelo Twitter, ao defender os policiais militares.
Truculência nos protestos
A atuação muitas vezes truculenta de PMs acabou minando a imagem do ex-comandante. A cena de uma manifestante indefesa, aparentemente sem oferecer qualquer perigo, atingida por um jato de spray de pimenta, lançado por um policial do Batalhão do Choque, rodou o mundo. A foto chegou a ser manchete de uma edição do jornal "The New York Times", dos EUA, com destaque.
No início de julho, a reação de policiais militares aos protestos em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, deixou novo saldo negativo. Cerca de 30 manifestantes e quase o mesmo número de PMs entraram na Casa de Saúde Pinheiro Machado, durante um confronto. O gás lacrimogêneo lançado pelos policiais tomou a unidade. A fumaça também invadiu apartamentos das imediações. Manifestantes foram perseguidos até a Praça São Salvador. Bares foram invadidos. No dia seguinte, o forte cheiro de gás lacrimogêneo continuou causando ardência nos olhos e na garganta de moradores e comerciantes da região. E balas de borracha podiam ser encontradas em diversos pontos do bairro.
Também abalou o comando da PM o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, que sumiu depois de deixar a sede da UPP na Favela da Rocinha, para onde fora levado. Pelo menos três manifestações já foram feitas por moradores da Rocinha, exigindo a elucidação do caso. Os protestos fecharam a Autoestrada Lagoa-Barra, dando um nó no trânsito. Parentes do ajudante de pedreiro não têm dúvidas de que Amarildo está morto.
O que o coronel Erir enfrentou
Abril de 2012: O policial do Batalhão de Choque Rodrigo Alves, de 33 anos, é morto a tiros durante um patrulhamento a pé na Favela da Rocinha. Ele chega a ser levado para o hospital, mas não resiste.
Setembro de 2012: Outro policial militar, Diego Bruno Barbosa Henriques, de 24 anos, é morto a tiros durante um patrulhamento na Rocinha. O soldado e mais três policiais entraram a pé em uma localidade conhecida como Terreirão, onde foram surpreendidos por dois homens armados.
Dezembro de 2012: A prisão de mais de 50 policiais militares do 15º BPM (Duque de Caxias) resulta na exoneração do comandante do batalhão, o tenente-coronel Claudio de Lucas Lima. Os policiais foram acusados de receber propina de bandidos para não coibir o tráfico em 13 favelas de Caxias. “Não aceitaremos mais ser humilhados”, disse Erir na ocasião.
Maio de 2013: Intenso tiroteio na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, assusta participantes da maratona Desafio da Paz. Alguns corredores desistiram de participar da prova. Mas a largada foi dada, e a prova teve a presença do secretário José Mariano Beltrame.
Junho de 2013: O engenheiro Gil Augusto Barbosa, de 53 anos, é baleado na cabeça ao errar o caminho e entrar na comunidade Vila do João, na Zona Norte. Barbosa morreu um mês depois. Seus familiares se revoltaram, alegando que a área, próxima ao Complexo da Maré, na Linha Amarela, é mal sinalizada. Isso acabou motivando a prefeitura a recolocar a sinalização após o incidente.
Junho de 2013: Uma ação do Bope na Favela Nova Holanda, na Maré, deixa dez pessoas mortas e gera protestos indignados de moradores. Entre as vítimas, Eraldo Santos da Silva, de 35 anos, e Jonatha Farias da Silva, de 16, ambos sem passagens pela polícia, além do sargento do Bope Ednelson Jerônimo.
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