Ex-comandante da PM acusou secretário de estado de tentar proteger o tráfico. De hábitos simples, o coronel Erir Ribeiro da Costa Filho trocou a residência oficial da Zona Sul do Rio para manter sua rotina na Baixada
ELENILCE BOTTARI
O GLOBO
Atualizado:5/08/13 - 23h56
Em 2003, o então tenente-coronel Erir deixa o 4º BPM - Marcos Tristão/20-5-2003
RIO - Há pouco mais de dez anos, em 20 de maio de 2003, o então tenente-coronel Erir Ribeiro da Costa Filho era preso ao final de um discurso, durante a transmissão de comando do 4º BPM (Mangueira), em que afirmava que estava sendo afastado do cargo pelo tráfico de drogas. Era o final de um cabo de guerra que começara em fevereiro daquele ano quando ele encaminhou um relatório à Secretaria de Segurança Pública informando que o secretário estadual de Esportes e presidente da Suderj, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, havia lhe pedido a redução do número de ações da PM no Morro da Mangueira. De acordo com relatório de Erir, os traficantes queriam uma “trégua” porque se sentiam “acuados” e não estavam “vendendo nada”. Na época, o secretário negou a acusação e alegou que fora ao batalhão para falar sobre o risco de haver vítimas de balas perdidas durante as operações feitas pela PM em horário escolar.
Embora o relatório de Erir fosse reservado, ele saiu de cena atirando, ao perder o comando do batalhão.
— Meu secretário de Segurança Pública, hoje, o bem foi derrotado pelo mal através da política — disse Erir, em um dos trechos do explosivo discurso.
Em outro momento, Erir afirmou que a política estava “destruindo gradativamente” a PM. Disse ainda esperar que a governadora (na época, Rosinha Garotinho), ao abrir a Bíblia, fosse “iluminada por Deus, que vai lhe mostrar o caminho certo para a escolha de alguns assessores na área de segurança pública, sem influência política, por ser uma área muito sensível e que pode destruir qualquer sonho político”. Na época, o secretário de Segurança era Anthony Garotinho.
O militar voltaria aos holofotes anos depois, em 2011, quando o assassinato da juíza Patrícia Acioly, em 12 de agosto, deu início a uma das mais graves crises da segurança do estado. Erir foi chamado para assumir o comando da Polícia Militar. Na época, o comandante-geral da corporação era o coronel Mário Sérgio Duarte, que pediu pra sair, depois que as investigações sobre a execução da magistrada concluíram que o crime fora planejado pelo ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), Cláudio Luiz Silva de Oliveira, que era homem de sua confiança e a quem havia dado o comando do 22º BPM (Maré).
A escolha de Erir foi considerada, na ocasião, um recado direto do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, à tropa: cerco à corrupção. E, no primeiro discurso que fez sobre o novo comandante, Beltrame frisou que ele teria autonomia para comandar.
Afinado, Erir — que agora dá uma anistia para delitos de menor gravidade cometidos por policiais militares — assumiu afirmando que iria apertar o cinto no combate à corrupção e na escolha dos novos comandantes de batalhões. E, logo de cara, deu o tom de sua administração ao recusar se mudar para a residência oficial dos comandantes da PM, na Praia do Flamengo, para continuar levando uma vida simples, em Nilópolis, na Baixada.
— Os líderes terão que dar o exemplo. Aqueles que não derem o exemplo vão responder — destacou.
A promessa, pelo menos segundo as estatísticas oficiais, foi cumprida. No início deste ano, a PM anunciou ter expulsado 317 policiais em 2012, um recorde na história da corporação. Houve um aumento de 121% em relação a 2011, quando 143 homens da tropa foram expulsos, e de 272% em relação a 2010, com 85 expulsões. Em entrevista, o coronel Erir Ribeiro disse considerar que esse índice estava relacionado à nova filosofia adotada à frente da instituição:
— Eles estão percebendo que não adianta se esconder e continuar na corrupção. Nós vamos deixar esse legado: uma polícia melhor e mais digna. Aqueles que não se adaptarem, que não aceitarem essa nova orientação, vão embora.
Erir perde outra vez para a política que, em poucos anos, já o derrubara e o catapultara ao cargo máximo da PM. Mas, no início de sua gestão como comandante-geral, ele já esteve tão forte que entrou com uma ação contra o estado e ganhou o direito a uma gratificação paga administrativamente a 54 coronéis desde 1994. O processo contra o estado havia começado em 2010, quando Erir estava à frente do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA), na Zona Oeste. Na ocasião, não comunicou oficialmente ao Estado-Maior da PM que ingressaria com a ação judicial — norma prevista, para qualquer praça ou oficial, no artigo 49 do Estatuto dos Policiais Militares.
Atualizado:5/08/13 - 23h56
Em 2003, o então tenente-coronel Erir deixa o 4º BPM - Marcos Tristão/20-5-2003
RIO - Há pouco mais de dez anos, em 20 de maio de 2003, o então tenente-coronel Erir Ribeiro da Costa Filho era preso ao final de um discurso, durante a transmissão de comando do 4º BPM (Mangueira), em que afirmava que estava sendo afastado do cargo pelo tráfico de drogas. Era o final de um cabo de guerra que começara em fevereiro daquele ano quando ele encaminhou um relatório à Secretaria de Segurança Pública informando que o secretário estadual de Esportes e presidente da Suderj, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, havia lhe pedido a redução do número de ações da PM no Morro da Mangueira. De acordo com relatório de Erir, os traficantes queriam uma “trégua” porque se sentiam “acuados” e não estavam “vendendo nada”. Na época, o secretário negou a acusação e alegou que fora ao batalhão para falar sobre o risco de haver vítimas de balas perdidas durante as operações feitas pela PM em horário escolar.
Embora o relatório de Erir fosse reservado, ele saiu de cena atirando, ao perder o comando do batalhão.
— Meu secretário de Segurança Pública, hoje, o bem foi derrotado pelo mal através da política — disse Erir, em um dos trechos do explosivo discurso.
Em outro momento, Erir afirmou que a política estava “destruindo gradativamente” a PM. Disse ainda esperar que a governadora (na época, Rosinha Garotinho), ao abrir a Bíblia, fosse “iluminada por Deus, que vai lhe mostrar o caminho certo para a escolha de alguns assessores na área de segurança pública, sem influência política, por ser uma área muito sensível e que pode destruir qualquer sonho político”. Na época, o secretário de Segurança era Anthony Garotinho.
O militar voltaria aos holofotes anos depois, em 2011, quando o assassinato da juíza Patrícia Acioly, em 12 de agosto, deu início a uma das mais graves crises da segurança do estado. Erir foi chamado para assumir o comando da Polícia Militar. Na época, o comandante-geral da corporação era o coronel Mário Sérgio Duarte, que pediu pra sair, depois que as investigações sobre a execução da magistrada concluíram que o crime fora planejado pelo ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), Cláudio Luiz Silva de Oliveira, que era homem de sua confiança e a quem havia dado o comando do 22º BPM (Maré).
A escolha de Erir foi considerada, na ocasião, um recado direto do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, à tropa: cerco à corrupção. E, no primeiro discurso que fez sobre o novo comandante, Beltrame frisou que ele teria autonomia para comandar.
Afinado, Erir — que agora dá uma anistia para delitos de menor gravidade cometidos por policiais militares — assumiu afirmando que iria apertar o cinto no combate à corrupção e na escolha dos novos comandantes de batalhões. E, logo de cara, deu o tom de sua administração ao recusar se mudar para a residência oficial dos comandantes da PM, na Praia do Flamengo, para continuar levando uma vida simples, em Nilópolis, na Baixada.
— Os líderes terão que dar o exemplo. Aqueles que não derem o exemplo vão responder — destacou.
A promessa, pelo menos segundo as estatísticas oficiais, foi cumprida. No início deste ano, a PM anunciou ter expulsado 317 policiais em 2012, um recorde na história da corporação. Houve um aumento de 121% em relação a 2011, quando 143 homens da tropa foram expulsos, e de 272% em relação a 2010, com 85 expulsões. Em entrevista, o coronel Erir Ribeiro disse considerar que esse índice estava relacionado à nova filosofia adotada à frente da instituição:
— Eles estão percebendo que não adianta se esconder e continuar na corrupção. Nós vamos deixar esse legado: uma polícia melhor e mais digna. Aqueles que não se adaptarem, que não aceitarem essa nova orientação, vão embora.
Erir perde outra vez para a política que, em poucos anos, já o derrubara e o catapultara ao cargo máximo da PM. Mas, no início de sua gestão como comandante-geral, ele já esteve tão forte que entrou com uma ação contra o estado e ganhou o direito a uma gratificação paga administrativamente a 54 coronéis desde 1994. O processo contra o estado havia começado em 2010, quando Erir estava à frente do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA), na Zona Oeste. Na ocasião, não comunicou oficialmente ao Estado-Maior da PM que ingressaria com a ação judicial — norma prevista, para qualquer praça ou oficial, no artigo 49 do Estatuto dos Policiais Militares.
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