ZERO HORA 07/08/2013 | 05h02
Fernanda da Costa, em Nova Boa Vista
Repórter na Segurança
Em Nova Boa Vista, apenas um policial militar para 1,9 mil habitantes. A pequena cidade do norte do Estado tem, na prática, apenas um BM, que mora em outra cidade
Soldado Vagner Verza, único brigadiano que atua em Nova Boa Vista, mora e também trabalha em Carazinho, a cerca de 50 quilômetros da cidade
Já era o final da manhã quando o morador de Nova Boa Vista, no Norte, Harlei Lorscheiter, 44 anos, chegou ao posto policial da cidade. Bateu algumas vezes na porta e, sem resposta, resolveu olhar pelo vidro da janela. O cenário estampava apenas uma mesa com computador e uma cadeira vazia.
Mesmo com dois policiais lotados na cidade de 1,9 mil habitantes, na prática os moradores são protegidos atualmente por apenas um profissional, conforme o prefeito Márcio Thums (PTB). Para completar, este policial mora em Carazinho, a cerca de 50 quilômetros do município. O outro brigadiano, que mora na cidade, sofreu um acidente de trânsito durante o trabalho e está afastado.
Devido à carência de efetivo, moradores como Lorscheiter têm de viajar para conseguir auxílio do órgão policial. Na manhã de terça-feira, o agricultor compareceu à Brigada Militar para registrar a perda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), já que o município não conta com delegacia da Polícia Civil.
Como não havia brigadiano, Lorscheiter afirmou que teria de percorrer 10,5 quilômetros para efetuar o registro, na delegacia de Sarandi. O problema, segundo ele, seria dirigir até a cidade vizinha sem um documento para provar a perda da CNH:
— E se me pararem na estrada? O que eu vou dizer?
O agricultor relata que a cidade é calma, mas que a falta de policiais causa transtornos, como o que ele viveu. Em menos de 10 minutos, outro morador teve a mesma decepção de Lorscheiter. Sem querer se identificar, o homem apenas contou que pretendia registrar uma ocorrência com relação a uma dívida. Ao encontrar o posto fechado, também teve de viajar a Sarandi.
Quem anda a pé ou de carro pela principal via da cidade passa obrigatoriamente pela maior parte do comércio e dos serviços. Na Avenida Jacob Sobrinho estão localizados bancos, supermercados, postos de combustíveis, lojas, farmácia, concessionária de veículos e joalheria.
— Se acontecer algo grave, estamos lascados — afirma Leonir Schneider, 27 anos, gerente de um posto de combustíveis, que pede ao governo a colocação de pelo menos um policial por turno para proteger os moradores. da cidade
O posto onde Schneider trabalha funciona até as 20h, duas horas depois que a maioria do comércio fecha as portas, e quando raramente há um policial de serviço:
— Tenho medo de que, se os bandidos souberem que só temos um policial na cidade, venham nos assaltar.
Em 2008, cidade não tinha um policial sequer
Embora ainda seja crítica, a situação da cidade já foi pior. Até setembro de 2008, não havia nenhum policial lotado no município. O pior, porém, é que a realidade de Nova Boa Vista não é exceção no Estado. Segundo a Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar, 45% das cidades gaúchas sofrem com falta de efetivo.
O único brigadiano que trabalha na cidade, o soldado Vagner Verza, não foi autorizado a dar entrevistas. Ele chegou ao posto policial por volta do meio-dia, depois de trabalhar no interior do município. Durante a noite, ele também atuou em Carazinho.
No início de junho, a agência da cooperativa de crédito Crehnor, um dos dois bancos da cidade, foi arrombada por quatro homens armados. O grupo entrou no local por volta das 4h30min, mas fugiu sem levar nada, depois que o alarme foi acionado.
A gerente da agência, Raquel Sommer Milani, 29 anos, diz que o efetivo policial reduzido é motivo de preocupação. Segundo ela, em vez de esperar alguém atender o telefone do posto policial da cidade, os moradores preferem ligar para a Brigada de Sarandi, que funciona 24 horas por dia.
— Não temos como saber em que turno terá policial aqui. O tempo que gastamos esperando alguém atender é suficiente para um bandido fugir.
Em maio, dois bancos foram assaltados em cidades vizinhas a Nova Boa Vista: Constantina e Sarandi. Nos dois casos, os bandidos fizeram reféns, assustando os moradores da região.
O prefeito Márcio Thums recebe constantes reclamações dos comerciantes, temerosos em relação à insegurança. Segundo ele, na mesma madrugada em que o banco foi arrombado, os bandidos ainda entraram em um supermercado e levaram mercadorias. Em outro caso, há um ano, dois homens em uma motocicleta roubaram todo o dinheiro de um bar, em plena tarde.
— Essas ocorrências deixaram os moradores apreensivos — diz Thums.
CONTRAPONTO - O que diz o major Sérgio Portela, comandante do 38º Batalhão de Polícia Militar, com sede em Carazinho: "Sofremos com a carência de efetivo em Nova Boa Vista e ainda tivemos o imprevisto de termos um policial afastado por motivos de saúde. Para suprir essa falta, trabalhamos com um esquema de patrulhamento conjunto, em que reunimos o efetivo de cidades vizinhas para atuar nesses locais. Para trabalhar em eventos ou em operações planejadas no município, contamos com o apoio do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Passo Fundo."
Repórter na Segurança
Em Nova Boa Vista, apenas um policial militar para 1,9 mil habitantes. A pequena cidade do norte do Estado tem, na prática, apenas um BM, que mora em outra cidade
Soldado Vagner Verza, único brigadiano que atua em Nova Boa Vista, mora e também trabalha em Carazinho, a cerca de 50 quilômetros da cidade
Foto: Diogo Zanatta / Especial
Já era o final da manhã quando o morador de Nova Boa Vista, no Norte, Harlei Lorscheiter, 44 anos, chegou ao posto policial da cidade. Bateu algumas vezes na porta e, sem resposta, resolveu olhar pelo vidro da janela. O cenário estampava apenas uma mesa com computador e uma cadeira vazia.
Mesmo com dois policiais lotados na cidade de 1,9 mil habitantes, na prática os moradores são protegidos atualmente por apenas um profissional, conforme o prefeito Márcio Thums (PTB). Para completar, este policial mora em Carazinho, a cerca de 50 quilômetros do município. O outro brigadiano, que mora na cidade, sofreu um acidente de trânsito durante o trabalho e está afastado.
Devido à carência de efetivo, moradores como Lorscheiter têm de viajar para conseguir auxílio do órgão policial. Na manhã de terça-feira, o agricultor compareceu à Brigada Militar para registrar a perda da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), já que o município não conta com delegacia da Polícia Civil.
Como não havia brigadiano, Lorscheiter afirmou que teria de percorrer 10,5 quilômetros para efetuar o registro, na delegacia de Sarandi. O problema, segundo ele, seria dirigir até a cidade vizinha sem um documento para provar a perda da CNH:
— E se me pararem na estrada? O que eu vou dizer?
O agricultor relata que a cidade é calma, mas que a falta de policiais causa transtornos, como o que ele viveu. Em menos de 10 minutos, outro morador teve a mesma decepção de Lorscheiter. Sem querer se identificar, o homem apenas contou que pretendia registrar uma ocorrência com relação a uma dívida. Ao encontrar o posto fechado, também teve de viajar a Sarandi.
Quem anda a pé ou de carro pela principal via da cidade passa obrigatoriamente pela maior parte do comércio e dos serviços. Na Avenida Jacob Sobrinho estão localizados bancos, supermercados, postos de combustíveis, lojas, farmácia, concessionária de veículos e joalheria.
— Se acontecer algo grave, estamos lascados — afirma Leonir Schneider, 27 anos, gerente de um posto de combustíveis, que pede ao governo a colocação de pelo menos um policial por turno para proteger os moradores. da cidade
O posto onde Schneider trabalha funciona até as 20h, duas horas depois que a maioria do comércio fecha as portas, e quando raramente há um policial de serviço:
— Tenho medo de que, se os bandidos souberem que só temos um policial na cidade, venham nos assaltar.
Em 2008, cidade não tinha um policial sequer
Embora ainda seja crítica, a situação da cidade já foi pior. Até setembro de 2008, não havia nenhum policial lotado no município. O pior, porém, é que a realidade de Nova Boa Vista não é exceção no Estado. Segundo a Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar, 45% das cidades gaúchas sofrem com falta de efetivo.
O único brigadiano que trabalha na cidade, o soldado Vagner Verza, não foi autorizado a dar entrevistas. Ele chegou ao posto policial por volta do meio-dia, depois de trabalhar no interior do município. Durante a noite, ele também atuou em Carazinho.
No início de junho, a agência da cooperativa de crédito Crehnor, um dos dois bancos da cidade, foi arrombada por quatro homens armados. O grupo entrou no local por volta das 4h30min, mas fugiu sem levar nada, depois que o alarme foi acionado.
A gerente da agência, Raquel Sommer Milani, 29 anos, diz que o efetivo policial reduzido é motivo de preocupação. Segundo ela, em vez de esperar alguém atender o telefone do posto policial da cidade, os moradores preferem ligar para a Brigada de Sarandi, que funciona 24 horas por dia.
— Não temos como saber em que turno terá policial aqui. O tempo que gastamos esperando alguém atender é suficiente para um bandido fugir.
Em maio, dois bancos foram assaltados em cidades vizinhas a Nova Boa Vista: Constantina e Sarandi. Nos dois casos, os bandidos fizeram reféns, assustando os moradores da região.
O prefeito Márcio Thums recebe constantes reclamações dos comerciantes, temerosos em relação à insegurança. Segundo ele, na mesma madrugada em que o banco foi arrombado, os bandidos ainda entraram em um supermercado e levaram mercadorias. Em outro caso, há um ano, dois homens em uma motocicleta roubaram todo o dinheiro de um bar, em plena tarde.
— Essas ocorrências deixaram os moradores apreensivos — diz Thums.
CONTRAPONTO - O que diz o major Sérgio Portela, comandante do 38º Batalhão de Polícia Militar, com sede em Carazinho: "Sofremos com a carência de efetivo em Nova Boa Vista e ainda tivemos o imprevisto de termos um policial afastado por motivos de saúde. Para suprir essa falta, trabalhamos com um esquema de patrulhamento conjunto, em que reunimos o efetivo de cidades vizinhas para atuar nesses locais. Para trabalhar em eventos ou em operações planejadas no município, contamos com o apoio do Batalhão de Operações Especiais (BOE) de Passo Fundo."
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