O Estado de S.Paulo 15 de março de 2014 | 3h 01
OPINIÃO
Surgem os primeiros sinais animadores de que as manifestações de rua podem perfeitamente - como em geral acontecia antes da entrada em cena dos black blocs - transcorrer de forma pacífica. Um exemplo disso foi o ato de protesto contra a Copa do Mundo realizado quinta-feira na capital paulista, muito diferente dos anteriores. Graças a uma decisão da Justiça, que manteve a liberdade de ação da polícia, e a um forte dispositivo por esta montado, os manifestantes puderam expor livremente seu descontentamento, sem serem perturbados e comprometidos pela ação de grupos violentos.
O ato, do qual participaram cerca de 1.500 pessoas, começou às 19h15 no Largo da Batata, na zona oeste, passou pelas Avenidas Faria Lima, Rebouças e Paulista, seguiu pela Rua Vergueiro e terminou na Praça da Sé. Esse longo trajeto foi percorrido com poucos incidentes. Um cordão de policiais militares (PMs) - ao todo, 2.500 deles participaram da ação - acompanhou a passeata pelos dois lados das avenidas.
Policiais se postaram também ao lado de lojas, agências bancárias e postos de gasolina para prevenir depredações. Na Paulista, eles bloquearam as pistas para facilitar suas manobras, quando sentiram a aproximação de um grupo de black blocs, na altura do prédio da Fiesp, e conseguiram evitar o confronto. Esse foi um dos poucos momentos de tensão.
Uma agência do Banco do Brasil e a Estação Trianon-Masp do Metrô foram depredadas e cinco pessoas detidas, entre as quais um menor. Um coquetel molotov foi lançado por manifestantes, mas não feriu ninguém. O protesto não foi, portanto, inteiramente pacífico. Mas, quando comparado com o realizado dia 22 do mês passado, quando a PM mudou a sua tática, conseguiu cercar e isolar os black blocs e deteve 262 manifestantes, a mudança é enorme. Também os dois atos de vandalismo de quinta-feira contrastam com o quebra-quebra generalizado que vinha caracterizando as manifestações até há pouco tempo.
Essa relativa calma trouxe de volta o apoio de moradores de algumas das vias pelas quais passaram os manifestantes, como a Rebouças, que haviam se retraído por causa da violência dos black blocs e o desvirtuamento dos protestos.
O descontentamento da grande maioria da população com o vandalismo, apontado por pesquisas de opinião, colaborou grandemente para a mudança da maneira de agir da PM. Ela se caracteriza por um comportamento mais sereno e contido - sem deixar de lado a firmeza que a situação exige para tratar com desordeiros e criminosos que se escondem atrás de máscaras - e pela tática de isolar esse grupo dos manifestantes pacíficos.
Uma unidade especial foi criada para facilitar essa tarefa - o chamado "pelotão ninja", integrado por policiais especialmente treinados para isso e especializados em artes marciais. Os resultados obtidos pela PM na manifestação de 22 de fevereiro na neutralização dos black blocs foram tão bons que o próprio governo federal - que por muito tempo evitou tomar uma atitude mais dura em relação aos vândalos, com medo de ser rotulado de "repressor" pelos politicamente corretos - resolveu recomendar às polícias de outros Estados que estudem a adoção dessa tática.
O Black Bloc e outros grupos violentos logo perceberam o perigo de tal mudança para eles. O grupo autointitulado Advogados Ativistas - não importa se por simpatia ou não pelos black blocs - entrou com ação na Justiça, com pedido de liminar, antes da manifestação de quinta-feira, para proibir a PM de utilizar o pelotão ninja e fazer prisões para averiguações antes da prática de vandalismo. Se tivessem êxito nessa empreitada, a ação da PM para conter a violência seria seriamente comprometida.
A decisão do desembargador Roberto Mortari, negando a liminar, foi exemplar: "A atuação policial preventiva, com vistas à manutenção da ordem pública, é legítima, e não pode ser afastada, sem prejuízo de rigorosa apuração e punição de eventuais abusos, se acaso constatados". Estão sendo criadas, assim, as condições para colocar os vândalos em seu devido lugar.
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