Presos por arrastar mulher, dois PMs já responderam por homicídio. São eles os subtenentes Rodney Miguel Arcanjo e Adir Serrano Machado, que estavam à frente da patrulha
SÉRGIO RAMALHO
WALESKA BORGES
O GLOBO
Publicado:18/03/14 - 5h00
Os filhos gêmeos de Cláudia, Pablo e Pâmela, choram durante o velório. Parentes e amigos pediram justiça quando o caixão desceu Márcia Foletto / Agência O Globo
RIO — Os subtenentes Rodney Miguel Arcanjo e Adir Serrano Machado, que estavam à frente da patrulha que arrastou por 250 metros o corpo da auxiliar de serviços gerais Cláudia da Silva Ferreira, baleada na manhã do último domingo no Morro da Congonha, em Madureira, já responderam a inquéritos por homicídio. Os dois oficiais e o sargento Alex Sandro da Silva, que também estava no veículo policial, foram presos disciplinarmente nesta segunda-feira por determinação do comando da PM.
Os três PMs transportaram Cláudia na caçamba de uma Blazer. No trajeto para o hospital, o porta-malas abriu e parte do corpo ficou para fora, sendo arrastada por um trecho da Avenida Edgard Romero, em Madureira. A cena foi registrada em celular por um carro que seguia atrás, e o vídeo foi divulgado no site do jornal “Extra”. Menos de 24 horas após o episódio, os dois subtenentes e o sargento foram levados ao Batalhão Prisional. O trio será investigado pela Polícia Civil, que apura a morte de Cláudia, e responderá a Inquérito Policial Militar (IPM). O subtenente Rodney respondeu a dois processos por homicídio quando estava no batalhão de Magé, na Baixada Fluminense. Adir Machado também foi processado por homicídio, mas o inquérito foi arquivado em 2005. A PM não informou há quanto tempo eles estão na corporação.
Cláudia foi enterrada no início da tarde deesta segunda-feira no Cemitério de Irajá. Cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia e, no momento do sepultamento, pediram justiça. Sobre o caixão, foi colocada a camisa do uniforme de trabalho dela. Emocionados, amigos e parentes protestaram durante a descida do caixão. Com aplausos e gritos de “Ô ô ô, mataram o morador”. No atestado de óbito, consta como a causa da morte “laceração cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax por ação perfurocortante”. O laudo da perícia também apontou que a tranca da caçamba da patrulha não apresentava defeito, conforme um dos PMs alegou em depoimento.
Sem a presença de autoridades
Para o viúvo, Alexandre Fernandes da Silva, Cláudia foi vítima de execução. Segundo ele, que foi ao enterro com os quatro filhos, os policiais teriam atirado nela de propósito. Ele disse que não houve troca de tiros com os bandidos.
— Os policiais se amedrontaram com R$ 6 e um copo de café, que era o que ela tinha nas mãos. Todo mundo viu que não houve tiroteio. Se tivesse troca de tiros, ela teria sido baleada na frente e atrás.
O irmão de Cláudia, Júlio César Silva Ferreira, de 42 anos, disse que a família deverá processar o Estado pela forma com que os policiais socorreram a vítima. Segundo ele, Cláudia foi baleada quando saía de casa para comprar pão e mortadela. As notas de R$ 2 que estavam na mão dela foram entregues à família pelo hospital.
— O socorro foi completamente equivocado. É difícil explicar o que estou sentindo hoje. Aconteceu com ela e amanhã será com outro. Só muda a comunidade, e a PM chega atirando e matando o trabalhador. Ela foi jogada no carro de qualquer maneira — disse Júlio César. — Foi uma execução malsucedida. Depois disseram na delegacia que eram quatro armas, mas isso é mentira. Ela levou três tiros de curta distância. Isso é uma execução. Não queremos que fique impune. Senão ela será só mais um Amarildo.
Nenhuma autoridade pública foi ao velório de Cláudia. A família informou que, até ontem à tarde, ninguém do governo do estado havia entrado em contato para falar sobre o caso. Em nota, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame disse repudiar a conduta dos PMs.
Depois do enterro, cerca de 150 pessoas fizeram um protesto, fechando a Edgard Romero em ambos os sentidos. Eles queimaram móveis velhos, pneus e lixo. Os manifestantes ainda levavam uma faixa que dizia: “A PM matou mais um morador de uma favela do Rio de Janeiro”.
Publicado:18/03/14 - 5h00
Os filhos gêmeos de Cláudia, Pablo e Pâmela, choram durante o velório. Parentes e amigos pediram justiça quando o caixão desceu Márcia Foletto / Agência O Globo
RIO — Os subtenentes Rodney Miguel Arcanjo e Adir Serrano Machado, que estavam à frente da patrulha que arrastou por 250 metros o corpo da auxiliar de serviços gerais Cláudia da Silva Ferreira, baleada na manhã do último domingo no Morro da Congonha, em Madureira, já responderam a inquéritos por homicídio. Os dois oficiais e o sargento Alex Sandro da Silva, que também estava no veículo policial, foram presos disciplinarmente nesta segunda-feira por determinação do comando da PM.
Os três PMs transportaram Cláudia na caçamba de uma Blazer. No trajeto para o hospital, o porta-malas abriu e parte do corpo ficou para fora, sendo arrastada por um trecho da Avenida Edgard Romero, em Madureira. A cena foi registrada em celular por um carro que seguia atrás, e o vídeo foi divulgado no site do jornal “Extra”. Menos de 24 horas após o episódio, os dois subtenentes e o sargento foram levados ao Batalhão Prisional. O trio será investigado pela Polícia Civil, que apura a morte de Cláudia, e responderá a Inquérito Policial Militar (IPM). O subtenente Rodney respondeu a dois processos por homicídio quando estava no batalhão de Magé, na Baixada Fluminense. Adir Machado também foi processado por homicídio, mas o inquérito foi arquivado em 2005. A PM não informou há quanto tempo eles estão na corporação.
Cláudia foi enterrada no início da tarde deesta segunda-feira no Cemitério de Irajá. Cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia e, no momento do sepultamento, pediram justiça. Sobre o caixão, foi colocada a camisa do uniforme de trabalho dela. Emocionados, amigos e parentes protestaram durante a descida do caixão. Com aplausos e gritos de “Ô ô ô, mataram o morador”. No atestado de óbito, consta como a causa da morte “laceração cardíaca e pulmonar de ferimento transfixante do tórax por ação perfurocortante”. O laudo da perícia também apontou que a tranca da caçamba da patrulha não apresentava defeito, conforme um dos PMs alegou em depoimento.
Sem a presença de autoridades
Para o viúvo, Alexandre Fernandes da Silva, Cláudia foi vítima de execução. Segundo ele, que foi ao enterro com os quatro filhos, os policiais teriam atirado nela de propósito. Ele disse que não houve troca de tiros com os bandidos.
— Os policiais se amedrontaram com R$ 6 e um copo de café, que era o que ela tinha nas mãos. Todo mundo viu que não houve tiroteio. Se tivesse troca de tiros, ela teria sido baleada na frente e atrás.
O irmão de Cláudia, Júlio César Silva Ferreira, de 42 anos, disse que a família deverá processar o Estado pela forma com que os policiais socorreram a vítima. Segundo ele, Cláudia foi baleada quando saía de casa para comprar pão e mortadela. As notas de R$ 2 que estavam na mão dela foram entregues à família pelo hospital.
— O socorro foi completamente equivocado. É difícil explicar o que estou sentindo hoje. Aconteceu com ela e amanhã será com outro. Só muda a comunidade, e a PM chega atirando e matando o trabalhador. Ela foi jogada no carro de qualquer maneira — disse Júlio César. — Foi uma execução malsucedida. Depois disseram na delegacia que eram quatro armas, mas isso é mentira. Ela levou três tiros de curta distância. Isso é uma execução. Não queremos que fique impune. Senão ela será só mais um Amarildo.
Nenhuma autoridade pública foi ao velório de Cláudia. A família informou que, até ontem à tarde, ninguém do governo do estado havia entrado em contato para falar sobre o caso. Em nota, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame disse repudiar a conduta dos PMs.
Depois do enterro, cerca de 150 pessoas fizeram um protesto, fechando a Edgard Romero em ambos os sentidos. Eles queimaram móveis velhos, pneus e lixo. Os manifestantes ainda levavam uma faixa que dizia: “A PM matou mais um morador de uma favela do Rio de Janeiro”.
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