ZERO HORA 21 de março de 2014 | N° 17739
LETÍCIA COSTA
Operações das polícias matam cinco pessoas por dia no país
Na tentativa de combater a criminalidade, policiais mataram, em média, cinco pessoas por dia em todo país, em 2012. Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro da Segurança Público, que não consolidou os dados de 2013.
O sociólogo Luís Flávio Sapori, coordenador do Centro de Pesquisas em Segurança Pública da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, do qual foi extraído o dado de que, a cada dia, cinco pessoas são mortas pela polícia, considera que o policial brasileiro mata muito. Em comparação com os EUA, o número é 4,6 vezes superior.
– Parte deste grave fenômeno se explica pela cultura policial que valoriza a ação violenta do agente da lei, independentemente da preservação da integridade física. Na prática, o policial ignora o que aprendeu na academia. Utiliza a arma de fogo a qualquer preço e não distingue quem é ou não criminoso – afirma Sapori.
Especialistas sugerem mais rigor na punição de desvios
Para o professor, existem duas maneiras de lidar com o problema: aumentar o rigor na punição da conduta dos policiais e investir massivamente na capacidade técnica, inclusive do efetivo na rua.
– Eles precisam entender que têm alternativas, que não precisa matar o oponente para garantir a própria segurança e da população. Um policial americano pensa dez vezes antes de matar, ele sabe que o custo profissional para ele é muito grande. É isso que o policial tem de perceber – comenta Sapori.
Além de questão envolvendo a formação, o sociólogo Rodrigo Azevedo, pós-doutor em Criminologia e coordenador do Pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, alerta para um desejo da população de que os bandidos sejam punidos. Essa aprovação da violência contra supostos criminosos, traz mais liberdade para a ação policial. Na opinião de Azevedo, há problemas na estrutura das polícias brasileiras e o fato de uma delas ser militar dificultaria a implementação de políticas de policiamento comunitário.
– Temos a militar, que faz o policiamento ostensivo, e a civil que faz toda investigação. Esse modelo é exclusivamente brasileiro e está superado. Gera uma desconexão no trabalho das polícias e um conflito de competências – defende.
Embora os dados consolidados de 2013 sejam liberados apenas no final deste ano, o Rio de Janeiro tem o índice mais alto de pessoas mortas em confronto com as polícias civis e militares em 2013, com 416 casos.
Tiros foram disparados de fora para dentro de Fiorino. Perfurações na lataria e no vidro sugerem que jovens estavam no baú de veículo e não atiraram em PMs
Peritos não identificaram marcas de tiros que tenham partido de dentro para fora do bagageiro da caminhonete Fiorino que era ocupada por quatro amigos na madrugada de domingo, em Bento Gonçalves, na Serra. Dois deles morreram após serem baleados por policiais militares. Apenas foram localizadas no veículo marcas de tiros de fora para dentro. A informação é do coordenador da 2ª Coordenadoria Regional do Departamento de Perícias do Interior (DPI), Airton Kraemer.
Odepartamento deu como concluído o levantamento pericial na Fiorino na tarde de terça-feira. O laudo, porém, deve ser emitido pela perícia em 30 dias.
Segundo Kraemer, a caminhonete foi atingida com dois tipos de armas: uma curta e outra longa. Elas foram utilizadas pelos PMs como reação a disparos que supostamente partiram da Fiorino. Os projéteis que transfixaram o vidro e a carroceria do veículo foram recolhidos no bagageiro. Na oportunidade, morreram Anderson Styburski, 16 anos, e Danubio Cruz da Costa, 20 anos, que estavam no baú.
Essas informações preliminares, contudo, não descartam a hipótese investigada pela Polícia Civil de que tiros tenham sido deflagrados da cabine do veículo. Nesse caso, a autoria recairia com mais chance sobre o motorista ou o carona, já que os passageiros do bagageiro teriam campo de visão restrito, reduzido à janela de comunicação com a cabine.
Segundo os PMs, o revólver calibre 38 apreendido na Fiorino estava no bagageiro da caminhonete, sob uma mochila, e contava com dois tiros deflagrados. Nesse tipo de arma, o cartucho não é descartado no momento do disparo e fica retido no tmbor do revólver. Outro ponto a que a perícia se ateve foi quanto às digitais colhidas na lataria da Fiorino e objetos do interior, como capacetes. Esse exame pode embasar a versão de parentes das vítimas de que o bagageiro do veículo foi mexido por policiais antes da chegada da perícia, com a arma tendo sido plantada nesse compartimento.
– Não divulgaremos laudos preliminares à polícia. Como se trata de um caso delicado e controverso, vamos tratá-lo com todo cuidado e remeteremos o laudo só quando concluído, daqui a 30 dias. Tanto o levantamento do local do crime quanto da Fiorino serão encaminhados juntos – contextualiza Kraemer.
Operações das polícias matam cinco pessoas por dia no país
Na tentativa de combater a criminalidade, policiais mataram, em média, cinco pessoas por dia em todo país, em 2012. Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro da Segurança Público, que não consolidou os dados de 2013.
O sociólogo Luís Flávio Sapori, coordenador do Centro de Pesquisas em Segurança Pública da PUC Minas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, do qual foi extraído o dado de que, a cada dia, cinco pessoas são mortas pela polícia, considera que o policial brasileiro mata muito. Em comparação com os EUA, o número é 4,6 vezes superior.
– Parte deste grave fenômeno se explica pela cultura policial que valoriza a ação violenta do agente da lei, independentemente da preservação da integridade física. Na prática, o policial ignora o que aprendeu na academia. Utiliza a arma de fogo a qualquer preço e não distingue quem é ou não criminoso – afirma Sapori.
Especialistas sugerem mais rigor na punição de desvios
Para o professor, existem duas maneiras de lidar com o problema: aumentar o rigor na punição da conduta dos policiais e investir massivamente na capacidade técnica, inclusive do efetivo na rua.
– Eles precisam entender que têm alternativas, que não precisa matar o oponente para garantir a própria segurança e da população. Um policial americano pensa dez vezes antes de matar, ele sabe que o custo profissional para ele é muito grande. É isso que o policial tem de perceber – comenta Sapori.
Além de questão envolvendo a formação, o sociólogo Rodrigo Azevedo, pós-doutor em Criminologia e coordenador do Pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, alerta para um desejo da população de que os bandidos sejam punidos. Essa aprovação da violência contra supostos criminosos, traz mais liberdade para a ação policial. Na opinião de Azevedo, há problemas na estrutura das polícias brasileiras e o fato de uma delas ser militar dificultaria a implementação de políticas de policiamento comunitário.
– Temos a militar, que faz o policiamento ostensivo, e a civil que faz toda investigação. Esse modelo é exclusivamente brasileiro e está superado. Gera uma desconexão no trabalho das polícias e um conflito de competências – defende.
Embora os dados consolidados de 2013 sejam liberados apenas no final deste ano, o Rio de Janeiro tem o índice mais alto de pessoas mortas em confronto com as polícias civis e militares em 2013, com 416 casos.
Tiros foram disparados de fora para dentro de Fiorino. Perfurações na lataria e no vidro sugerem que jovens estavam no baú de veículo e não atiraram em PMs
Peritos não identificaram marcas de tiros que tenham partido de dentro para fora do bagageiro da caminhonete Fiorino que era ocupada por quatro amigos na madrugada de domingo, em Bento Gonçalves, na Serra. Dois deles morreram após serem baleados por policiais militares. Apenas foram localizadas no veículo marcas de tiros de fora para dentro. A informação é do coordenador da 2ª Coordenadoria Regional do Departamento de Perícias do Interior (DPI), Airton Kraemer.
Odepartamento deu como concluído o levantamento pericial na Fiorino na tarde de terça-feira. O laudo, porém, deve ser emitido pela perícia em 30 dias.
Segundo Kraemer, a caminhonete foi atingida com dois tipos de armas: uma curta e outra longa. Elas foram utilizadas pelos PMs como reação a disparos que supostamente partiram da Fiorino. Os projéteis que transfixaram o vidro e a carroceria do veículo foram recolhidos no bagageiro. Na oportunidade, morreram Anderson Styburski, 16 anos, e Danubio Cruz da Costa, 20 anos, que estavam no baú.
Essas informações preliminares, contudo, não descartam a hipótese investigada pela Polícia Civil de que tiros tenham sido deflagrados da cabine do veículo. Nesse caso, a autoria recairia com mais chance sobre o motorista ou o carona, já que os passageiros do bagageiro teriam campo de visão restrito, reduzido à janela de comunicação com a cabine.
Segundo os PMs, o revólver calibre 38 apreendido na Fiorino estava no bagageiro da caminhonete, sob uma mochila, e contava com dois tiros deflagrados. Nesse tipo de arma, o cartucho não é descartado no momento do disparo e fica retido no tmbor do revólver. Outro ponto a que a perícia se ateve foi quanto às digitais colhidas na lataria da Fiorino e objetos do interior, como capacetes. Esse exame pode embasar a versão de parentes das vítimas de que o bagageiro do veículo foi mexido por policiais antes da chegada da perícia, com a arma tendo sido plantada nesse compartimento.
– Não divulgaremos laudos preliminares à polícia. Como se trata de um caso delicado e controverso, vamos tratá-lo com todo cuidado e remeteremos o laudo só quando concluído, daqui a 30 dias. Tanto o levantamento do local do crime quanto da Fiorino serão encaminhados juntos – contextualiza Kraemer.
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