MP aceita pedido de liberdade de PMs presos por arrastar mulher. Para promotor, ainda não há elementos para denúncia contra eles. Dois PMs somam 16 casos de homicídios em intervenções policiais
ANA CLAUDIA COSTA
GUSTAVO GOULART
RUBEN BERTA
O GLOBO
Atualizado:19/03/14 - 21h55
Policiais presos pela morte de Cláudia Silva Ferreira prestaram novo depoimento na 29ª DP (Madureira) nesta quarta-feira Marcelo Carnaval / Agência O Globo
RIO - Apesar de toda a comoção causada pela morte da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, o Ministério Público aceitou o pedido de liberdade feito pela defesa dos três policiais que estavam no carro que a arrastou por cerca de 350 metros após ela ter sido baleada na manhã do último domingo, no Morro da Congonha. Os subtenentes Rodney Miguel Archanjo e Adir Serrano Machado e o sargento Alex Sandro da Silva Alves estão presos desde segunda-feira. Nesta quarta, eles prestaram depoimento na 29ª DP (Madureira). De acordo com o promotor Paulo Roberto Mello Cunha, da Auditoria da Justiça Militar Estadual, ainda não há elementos suficientes para fazer uma denúncia que mantenha os acusados na cadeia. Caberá agora ao juízo da Auditoria Militar dar a palavra final.
— Os policiais foram detidos por inobservância de lei, regulamento ou instrução, cuja pena prevista no Código Penal Militar é de seis meses de detenção. Ainda não foram enviados elementos que embasem uma denúncia pelo Ministério Público, e a prisão em flagrante tem um prazo de cinco dias. Quando as investigações evoluírem, poderemos pedir a prisão preventiva — afirmou o promotor.
Dois dos três PMs que estavam no carro têm em seu histórico casos de homicídios decorrentes de intervenção policial, conhecidos no passado como autos de resistência. Segundo informações da Polícia Civil, o subtenente Rodney tem três registros e Adir Serrano, 13. O sargento Alex Sandro não tem qualquer ocorrência desse tipo.
Um laudo preliminar mostra que o tiro que atingiu a auxiliar de serviços gerais partiu de um fuzil automático leve (FAL), de calibre 7.62, uma arma de guerra usada atualmente tanto pelas Forças Armadas e pela Polícia Militar, como também por traficantes. A informação é de uma fonte na polícia, com base no resultado do exame de perícia do Instituto Médico-Legal (IML). A bala atingiu Cláudia pelo lado direito do tórax, perfurou o coração e atravessou o corpo dela. Agora, a Polícia Civil vai tentar descobrir a trajetória do projétil, para saber se o tiro partiu do ponto onde estavam os bandidos ou onde havia policiais. O laudo completo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) deve ficar pronto hoje.
Nesta quarta, os três policiais prestaram depoimento entre 16h30m e 21h. O último a depor foi o sargento Alex Sandro, que dirigia o veículo que transportou a mulher. O advogado dele Marcos Espínola contou que o militar disse que não percebeu a porta aberta e que freou o carro logo após ter sido alertado por um colega.
— Foi um acidente de trabalho. Ele não teve a intenção — disse Espínola.
Os policiais, que estão presos em Bangu 8, chegaram à delegacia por volta das 16h30m desta quarta para depor. Um grande aparato policial foi montado para a chegada dos acusados. A Estrada do Portela, em Madureira, onde fica a delegacia, chegou a ter um trecho interditado para que os carros da polícia pudessem chegar, já que havia muitos curiosos no entorno querendo ver os PMs. A Rua Ernesto Lobão, na lateral da delegacia, também foi fechada. Os três chegaram de calças jeans e camisetas brancas, que é o uniforme do presídio Bangu 8, e entraram pela porta dos fundos.
No fim da manhã desta quarta, Jorge Carneiro Mendes, advogado de Rodney Miguel, disse que seu cliente contou em depoimento anterior, na Delegacia de Polícia Judiciária Militar, que ele e seus colegas foram ao Morro da Congonha porque foram chamados para prestar socorro a uma pessoa. Quando chegaram no local, eles teriam colocado Cláudia na caçamba do veículo da PM porque no banco traseiro do carro estavam os fuzis e os coletes dos policiais. Segundo o advogado, os militares teriam contado, também em depoimento, que moradores da favela tentaram abrir a porta do carro, o que pode ter feito com que a tampa da caçamba não tivesse fechado direito, abrindo no no caminho do hospital e provocando a queda de Cláudia.
Ainda de acordo com Jorge Mendes, os PMs só perceberam que a auxiliar de serviços gerais tinha caído quando olharam pelo retrovisor e viram que a porta do camburão estava aberta. O advogado acrescentou que a mulher pode ter caído do carro quando os policiais passaram por um quebra-molas em alta velocidade, porque tentavam chegar rapidamente ao hospital para socorrer a vítima.
Perguntado sobre os casos de homicídios de dois dos PMs são acusados, Jorge Mendes disse que eles, como policiais que tem quase 30 anos de corporação, trabalham em situação violenta, em conflitos e, como o trabalho da polícia “não é só flores”, devem ter se envolvido sim em alguns autos de resistência.
Outros dois militares também prestaram depoimento ontem na condição de testemunhas. O tenente Rodrigo Boaventura e o sargento Zaqueu Jesus Bueno, segundo o advogado deles, José Ricardo Brito, estavam em outro carro da polícia e na operação. Eles, segundo o advogado, teriam visto de longe o corpo de Cláudia da Silva Ferreira caído no chão baleado mas não chegaram perto porque foram conter a multidão que se aproximava.
O DIA 22/03/2014 00:21:26
Atualizado:19/03/14 - 21h55
Policiais presos pela morte de Cláudia Silva Ferreira prestaram novo depoimento na 29ª DP (Madureira) nesta quarta-feira Marcelo Carnaval / Agência O Globo
RIO - Apesar de toda a comoção causada pela morte da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, de 38 anos, o Ministério Público aceitou o pedido de liberdade feito pela defesa dos três policiais que estavam no carro que a arrastou por cerca de 350 metros após ela ter sido baleada na manhã do último domingo, no Morro da Congonha. Os subtenentes Rodney Miguel Archanjo e Adir Serrano Machado e o sargento Alex Sandro da Silva Alves estão presos desde segunda-feira. Nesta quarta, eles prestaram depoimento na 29ª DP (Madureira). De acordo com o promotor Paulo Roberto Mello Cunha, da Auditoria da Justiça Militar Estadual, ainda não há elementos suficientes para fazer uma denúncia que mantenha os acusados na cadeia. Caberá agora ao juízo da Auditoria Militar dar a palavra final.
— Os policiais foram detidos por inobservância de lei, regulamento ou instrução, cuja pena prevista no Código Penal Militar é de seis meses de detenção. Ainda não foram enviados elementos que embasem uma denúncia pelo Ministério Público, e a prisão em flagrante tem um prazo de cinco dias. Quando as investigações evoluírem, poderemos pedir a prisão preventiva — afirmou o promotor.
Dois dos três PMs que estavam no carro têm em seu histórico casos de homicídios decorrentes de intervenção policial, conhecidos no passado como autos de resistência. Segundo informações da Polícia Civil, o subtenente Rodney tem três registros e Adir Serrano, 13. O sargento Alex Sandro não tem qualquer ocorrência desse tipo.
Um laudo preliminar mostra que o tiro que atingiu a auxiliar de serviços gerais partiu de um fuzil automático leve (FAL), de calibre 7.62, uma arma de guerra usada atualmente tanto pelas Forças Armadas e pela Polícia Militar, como também por traficantes. A informação é de uma fonte na polícia, com base no resultado do exame de perícia do Instituto Médico-Legal (IML). A bala atingiu Cláudia pelo lado direito do tórax, perfurou o coração e atravessou o corpo dela. Agora, a Polícia Civil vai tentar descobrir a trajetória do projétil, para saber se o tiro partiu do ponto onde estavam os bandidos ou onde havia policiais. O laudo completo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) deve ficar pronto hoje.
Nesta quarta, os três policiais prestaram depoimento entre 16h30m e 21h. O último a depor foi o sargento Alex Sandro, que dirigia o veículo que transportou a mulher. O advogado dele Marcos Espínola contou que o militar disse que não percebeu a porta aberta e que freou o carro logo após ter sido alertado por um colega.
— Foi um acidente de trabalho. Ele não teve a intenção — disse Espínola.
Os policiais, que estão presos em Bangu 8, chegaram à delegacia por volta das 16h30m desta quarta para depor. Um grande aparato policial foi montado para a chegada dos acusados. A Estrada do Portela, em Madureira, onde fica a delegacia, chegou a ter um trecho interditado para que os carros da polícia pudessem chegar, já que havia muitos curiosos no entorno querendo ver os PMs. A Rua Ernesto Lobão, na lateral da delegacia, também foi fechada. Os três chegaram de calças jeans e camisetas brancas, que é o uniforme do presídio Bangu 8, e entraram pela porta dos fundos.
No fim da manhã desta quarta, Jorge Carneiro Mendes, advogado de Rodney Miguel, disse que seu cliente contou em depoimento anterior, na Delegacia de Polícia Judiciária Militar, que ele e seus colegas foram ao Morro da Congonha porque foram chamados para prestar socorro a uma pessoa. Quando chegaram no local, eles teriam colocado Cláudia na caçamba do veículo da PM porque no banco traseiro do carro estavam os fuzis e os coletes dos policiais. Segundo o advogado, os militares teriam contado, também em depoimento, que moradores da favela tentaram abrir a porta do carro, o que pode ter feito com que a tampa da caçamba não tivesse fechado direito, abrindo no no caminho do hospital e provocando a queda de Cláudia.
Ainda de acordo com Jorge Mendes, os PMs só perceberam que a auxiliar de serviços gerais tinha caído quando olharam pelo retrovisor e viram que a porta do camburão estava aberta. O advogado acrescentou que a mulher pode ter caído do carro quando os policiais passaram por um quebra-molas em alta velocidade, porque tentavam chegar rapidamente ao hospital para socorrer a vítima.
Perguntado sobre os casos de homicídios de dois dos PMs são acusados, Jorge Mendes disse que eles, como policiais que tem quase 30 anos de corporação, trabalham em situação violenta, em conflitos e, como o trabalho da polícia “não é só flores”, devem ter se envolvido sim em alguns autos de resistência.
Outros dois militares também prestaram depoimento ontem na condição de testemunhas. O tenente Rodrigo Boaventura e o sargento Zaqueu Jesus Bueno, segundo o advogado deles, José Ricardo Brito, estavam em outro carro da polícia e na operação. Eles, segundo o advogado, teriam visto de longe o corpo de Cláudia da Silva Ferreira caído no chão baleado mas não chegaram perto porque foram conter a multidão que se aproximava.
O DIA 22/03/2014 00:21:26
Motoqueiro isenta PMs e diz que viu menor abrir caçamba. Testemunha é de Itaguaí e afirma que foi até a Congonha recuperar sua moto roubada
Rio - Uma testemunha que prestou depoimento quinta-feira na 29ª DP (Madureira) contou que viu um adolescente abrir a fechadura da caçamba da viatura que “socorreu” a auxiliar de serviços gerais Cláudia da Silva Ferreira, de 38 anos. Vítima de um tiro que atravessou seu coração durante suposto confronto entre PMs e traficantes, no Morro da Congonha, em Madureira, a mulher caiu da caçamba do carro e foi arrastada por 350 metros.
Em depoimento ao qual O DIA teve acesso, essa testemunha, um homem que mora em Itaguaí, disse que foi à comunidade sozinho no último domingo para resgatar sua moto, que fora roubada. Ele falou que chegou pouco antes do tiroteio e ficou em uma padaria. Em seguida, ele teria visto moradores seguindo a viatura que entrou na comunidade e, apesar do clima tenso e não ser morador, foi ver o que acontecia.
O viúvo Alexandre Fernandes e a filha Thaís prestaram depoimento sobre a morte de Cláudia na 29ª DPFoto: André Luiz Mello / Agência O Dia
A testemunha afirma que viu a viatura passar com a caçamba fechada e que um grupo de menores seguiu o carro a pé, de bicicleta e de moto. Um rapaz negro, que, segundo o motoqueiro, seria menor, teria mexido na fechadura quando a viatura parou para pegar a rua principal de saída da favela.
O homem relatou ainda que, depois disso, viu a tampa da mala abrir e fechar quando o carro se movimentou, mas que o motorista não viu. A testemunha não sabia que lá dentro havia uma pessoa. Ele alega não ter nenhuma ligação ou conhecer os policiais.
Investigados por suspeita de terem feito os disparos, o tenente Rodrigo Medeiros Boaventura e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno negaram em depoimento terem visto as vítimas durante o confronto. Além de Cláudia, também morreu o adolescente Willian Possidônio, 16, e foi baleado Ronald Felipe dos Santos. Este é apontado pelos PMs como um dos que participaram do confronto.
Parentes de Cláudia prestaram depoimento ontem. O advogado João Tancredo pedirá a inclusão deles no Programa de Proteção a Testemunhas.
Vítima parecia desmaiada
O cabo Gustavo Meirelles, que ajudou o subtenente Adir Serrano Machado a colocar a vítima na caçamba, declarou que ela aparentava estar “desmaiada” no momento do socorro. Segundo o laudo de necrópsia, ela morreu devido ao tiro.
O delegado Carlos Henrique Machado disse que os laudos devem sair terça-feira. Ele quer saber se a morte foi instantânea e o tipo de munição que a atingiu. “A única certeza é de que a moradora foi vítima da guerra que nós vivemos do tráfico contra a polícia”, disse o delegado, que vai fazer reconstituição do caso.
Alexandre criticou a soltura dos três PMs que arrastaram sua mulher. “É lamentável. Quem comete crime consegue habeas corpus. A soltura dos PMs dobra nosso medo. Se eu desse uma paulada em alguém, seria preso. Não há justiça para policiais”.
Reportagem de Adriana Cruz, Roberta Trindade e Vânia Cunha
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