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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

PARA O PIRATINI, INCENDIO DAS VIATURAS NA APM É ATENTADO


ZERO HORA 26 de fevereiro de 2014 | N° 17716


ANDRÉ MAGS, CARLOS WAGNER E HUMBERTO TREZZI


VIATURAS QUEIMADAS

Brigada investiga origem de atentado em quartel

Governador Tarso Genro disse que incêndio foi provocado, e corporação tenta identificar responsáveis



O incêndio que danificou 10 viaturas zero-quilômetro da Brigada Militar (BM) na noite de segunda-feira, em Porto Alegre, é tratado como atentado contra a corporação. Em averiguação preliminar, peritos constataram sinais de que houve mais de um foco de incêndio, indicativo de que seria um ataque efetuado por mais de uma pessoa. Uma das suspeitas é que gente da própria BM esteja envolvida, já que o local é vigiado por policiais armados, e dificilmente um grupo civil entraria sem ser notado.

O próprio governador Tarso Genro foi taxativo ao falar na probabilidade de atentado.

– Houve uma provocação nesse incêndio. Alguém deve ter feito aquilo. É difícil crer que tenha sido combustão espontânea dos veículos – declarou, em entrevista coletiva no Palácio Piratini, na Capital, depois da formatura de 200 alunos do ensino técnico.

A BM deslocou pelo menos 30 policiais do serviço de inteligência para investigar o incêndio, ocorrido por volta das 23h no pátio da Academia de Polícia Militar, na Avenida Aparício Borges, na zona leste da Capital. A origem do fogo deverá ser determinada pelo levantamento feito durante toda a manhã de ontem pelos peritos do Instituto-geral de Perícias (IGP) – o relatório final sai em até 30 dias. Um Inquérito Policial-militar (IPM) foi aberto pela Corregedoria de Polícia para investigar o caso.

– A hipótese de atentado é muito grande, pelas características, pelo horário – alertou o coronel Alfeu Freitas Moreira, chefe do Estado Maior da BM.

Uma hipótese quase descartada, mas ainda analisada, é que tudo tenha começado em um curto-circuito.

O fogo começou nos veículos que estavam no meio do lote de caminhonetes, todas da marca Nissan, modelo Frontier, com tração nas quatro rodas. Seis delas tiveram perda total e serão substituídas. As outras quatro ficaram danificadas, e a BM avaliará o custo do conserto de cada uma.

Veículos seriam destinados para a região da Fronteira

Além das 10 caminhonetes incendiadas, havia outros 196 veículos novos da BM estacionados em vários pontos do pátio da Academia de Polícia Militar. Os veículos devem ser distribuídos a várias unidades da corporação. Na semana passada, foram entregues 60. Em média, um veículo novo demora 30 dias para ser integrado à frota da corporação, explica o major.

– O veículo só é usado depois de passar por uma série de procedimentos técnicos, como a colocação de rádio, e legais, como a regulamentação da documentação – esclarece.

O preço de uma caminhonete equipada (com rádio, sirene e outros itens) fica ao redor de R$ 90 mil. Os veículos incendiados não tinham seguro. O coronel Freitas disse que carros usados em patrulhamento não são segurados por serem usados em uma atividade de alto risco, o que tornaria o preço da apólice muito caro.

Na manhã de ontem, o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, visitou o local onde foram incendiadas as novas viaturas da BM. Ele não falou com a imprensa. Mas não escondeu o desconforto com a situação, informou um dos seus assessores. Os veículos estavam destinados à Fronteira – nas regiões de Bagé, Santana do Livramento e Horizontina.

Na próxima sexta-feira, 25 veículos seriam entregues em solenidade em Horizontina, no noroeste gaúcho. Duas caminhonetes dessa frota queimaram na segunda-feira. Serão entregues 23 viaturas.

Caso impune

Em julho do ano passado, vândalos lançaram coquetéis molotov no pátio da Secretaria de Segurança Pública, ao lado da Avenida Castelo Branco, destruindo dois carros patrulhas da BM. Vídeos de câmeras de segurança foram analisados, mas a má qualidade das imagens impediu a identificação de suspeitos, segundo o delegado Marco Antônio Duarte de Souza. O caso continua sendo investigado.



Quinze policiais da guarda são retidos

O incêndio das viaturas durou pouco mais de 45 minutos. Na noite de segunda-feira havia 15 policiais guarnecendo a academia, sendo que dois estavam em uma guarita a poucos metros do local onde começou o fogo. Assim que as chamas foram notadas, eles deram o alerta e foi acionado o Corpo de Bombeiros, explica o major Leandro Balen, que responde pela chefia da Comunicação Social da BM. O local onde os veículos estão não tem câmera. A BM deve procurar na região se há equipamento em outros estabelecimentos para identificar a ação.

Quem faz a guarda na academia são alunos do curso de capitão. Depois do incêndio, todos os que estavam de guarda foram proibidos de ir embora. Eles são mantidos aquartelados durante a investigação e estão sendo ouvidos um por um, apurou a reportagem.

Está sendo levantada a lista de todas as pessoas que entraram e saíram da academia nas horas anteriores e posteriores ao início do fogo. Foi cogitada a possibilidade de um coquetel molotov ter sido lançado de fora da área da academia, separada da avenida por um muro baixo, e atingido as viaturas, mas a alternativa é questionada. Um oficial comentou que esse método de ataque teria atingido só uma viatura, e o fogo não teria se espalhado para tantas ao mesmo tempo.

Não foram encontradas, no local, garrafas usadas em explosivos. Uma opção é que as chamas possam ter começado em algum artefato preparado embaixo dos veículos. Outra observação, feita durante a perícia, é de que o vidro de uma caminhonete teria sido quebrado de fora para dentro, possível indício de objeto jogado para dentro.

E quem seriam os autores, se confirmado que pertencem à própria BM? As investigações vão mirar em PMs que tenham participado da onda de atos de vandalismo durante os protestos por melhores salários, nos últimos dois anos. Especialmente os que se envolveram em queima de pneus e colocação de bombas caseiras em locais públicos.

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