Legista forense diz há indícios de que houve execução em ação da PM no Juramento. Segundo especialista, suspeitos já estavam mortos quando foram levados para hospital
SÉRGIO RAMALHO
O GLOBO
Publicado:5/02/14 - 7h00
Publicado:5/02/14 - 7h00
Fotos publicadas em página do Facebook Reprodução / Internet
RIO - Menos de 48 horas após a soldado Alda Castilho morrer num ataque à base da UPP do Parque Proletário, no Complexo do Alemão, seis suspeitos de envolvimento com o tráfico no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, foram mortos na terça-feira. Segundo o coronel Luiz Carlos Leal Gomes, comandante do 41º BPM, assim que os policiais entraram no Juramento, houve reação dos traficantes. Segundo ele, nove suspeitos foram baleados e seis teriam morrido a caminho do Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes. Contudo, testemunhas ouvidas pelo GLOBO disseram que os seis morreram na comunidade. A versão é reforçada por fotos feitas por uma das testemunhas. As imagens, às quais O GLOBO teve acesso, mostram os corpos dos suspeitos estirados nas vielas, com PMs ao redor.
Para o legista forense Leví Inimá de Miranda, as imagens dos seis suspeitos baleados durante confronto com PMs no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, não deixam dúvida de que todos já estavam mortos quando foram levados para o hospital. O perito, que atuou por 34 anos no Exército e na Polícia Civil do Rio, acredita que as fotos são um forte indício de execução.
— É necessário uma série de exames para confirmar se houve de fato execução dos suspeitos, mas é possível notar, pelas posições finais dos corpos, que a versão dos PMs de que os baleados foram levados com vida para o hospital é incompatível com a realidade. Basta analisar a grande quantidade de sangue empoçado ao redor dos suspeitos, para constatar que já se tratava de cadáveres — acredita.
Leví Inimá chama a atenção ainda para o fato de os policiais terem levado os suspeitos, mesmo mortos, para o hospital. Na opinião do perito, essa é uma velha estratégia usada para dificultar o trabalho de perícia de local, prejudicando assim o trabalho de investigação forense.
— Um local de crime não pode ser desfeito, a não ser em quatro situações específicas. Contudo, duas situações são fundamentais: para cessar o ato delituoso ou prestar socorro à vítima, sendo que tal serviço deve ser feito por pessoal especializado. Basta verificar que, em caso de acidentes graves de trânsito, os PMs não removem as vítimas para hospitais — lembra.
Código proíbe desfazer local
O perito forense acrescenta que, além de o Código de Processo Penal determinar punição para quem desfaz um local de crime, uma portaria publicada pela então chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, determina que delegados vão pessoalmente aos lugares, para garantir a preservação das provas, impedindo a remoção dos corpos e outras evidencias.
Até as 18h30m da terça-feira, os corpos dos suspeitos permaneciam no necrotério do Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes. O que, na opinião do perito Leví Inimá, também prejudica o trabalho dos legistas forenses. Para ele, a demora no início da apuração pode resultar em impunidade:
— Posso afirmar que os homens fotografados já estavam mortos e, portanto, são grandes os indícios de execução. Ou seja, removeram cadáveres para desfazer o local.
Página tem fotos de corpos
Poucas horas após a divulgação da operação, internautas postaram na timeline da página PMERJFem, no Facebook, fotos e rastros de sangue dos supostos criminosos numa das escadarias de acesso ao morro, como noticiou o blog do jornalista Ancelmo Gois, no site do GLOBO. Ao lado das imagens, há declarações de internautas em tom de comemoração. Algumas, supostamente postadas por policiais, dizem: “Direitos humanos apenas para humanos direitos”, “bandido bom é bandido morto” e “morte aos bandidos e vida longa aos guerreiros da PMERJ”.
Em nota, a Polícia Militar informou que repudia totalmente a exploração de imagens de suspeitos baleados, como aconteceu ontem na página PMERJ FEM no Facebook: “A página, aliás, não é canal oficial da corporação. O comando da instituição reitera o compromisso com a defesa dos direitos humanos e da legalidade das operações”.
A Divisão de Homicídios (DH) já solicitou que as armas apreendidas com os mortos sejam enviadas para exame de confronto balístico. Entre elas, há quatro fuzis calibre 5,56, o mesmo das balas que atingiram a PM Alda Castilho. Também foram apreendidas duas pistolas, munição e drogas. O coronel Luiz Carlos acrescentou que um dos carros usados no ataque à UPP foi localizado no Juramento e não consta como roubado.
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