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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

OUTROS AMARILDOS E PROFUNDO RANCOR


Em audiência, delegado diz que 'podem existir outros Amarildos'. Na primeira audiência no fórum, mulher de vítima afirma nutrir 'profundo rancor' por PMs acusados do crime

ELENILCE BOTTARI
O GLOBO
Atualizado:21/02/14 - 0h58

Elizabeth Silva, mulher de Amarildo, chega no prédio do Tribunal de Justiça para participar da audiência sobre a morte do ex-ajudante de pedreiro Domingos Peixoto / Agência O Globo


RIO — O delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios (DH), disse nesta quinta-feira que “podem existir outros Amarildos”, durante a primeira audiência de instrução e julgamento dos 25 policiais militares acusados da tortura e morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, morador da Rocinha desaparecido desde 14 de julho de 2013. Segundo Barbosa, os PMs da UPP da favela já praticavam ameaças e torturas contra outros moradores.

Durante o depoimento, Barbosa admitiu que houve falhas na investigação do crime. Ele afirmou que o local em que Amarildo teria sido torturado por policiais, atrás dos sede da UPP, não foi periciado. Disse ainda que o major Édson Raimundo dos Santos, comandante da UPP da comunidade na época, autorizou a tortura contra Amarildo.

Delegado: PMs foram ardilosos

Segundo Barbosa, inicialmente o inquérito indicava que Amarildo poderia ter sido vítima de traficantes, mas acabou se comprovando que houve uma “ação ardilosa” dos policiais para imputar o crime a terceiros. Ao final, ele disse que saía com a consciência tranquila.

Já a delegada Ellen Souto, responsável pelo inquérito na DH, garantiu ter conseguido provas técnicas de que Amarildo não saiu da UPP por espontânea vontade, o que desmontaria a versão do major Édson de que o pedreiro teria sido sequestrado por traficantes ao descer uma escadaria. Segundo ela, as câmeras do local não têm ponto cego, e Amarildo teria sido visto saindo da unidade se isso tivesse realmente ocorrido. A delegada também afirmou que o oficial teria oferecido dinheiro a falsas testemunhas do caso. O objetivo seria manter a versão de que o pedreiro fora morto por traficantes.

A viúva da vítima, Elizabete Gomes de Souza, também testemunha do caso, chegou ao Fórum acompanhada do filho Anderson e da sobrinha Michele Lacerda. Ela disse que espera que seja feita justiça e que os restos mortais do marido sejam localizados. Sobre a expectativa de se ver novamente diante dos policiais acusados do crime, afirmou que está preparada, mas ainda guarda profundo rancor:

— Eu tenho ódio, ódio, ódio. Principalmente do major, que prometeu que meu marido voltaria para casa e disse na minha cara que ele só ficou na UPP por dez minutos e foi embora a pé.

A sessão foi interrompida por volta das 22h, após o depoimento do inspetor Rafael Rangel, chefe de Investigações da Divisão de Homicídios. A juíza Daniella Prado suspendeu então o interrogatório das testemunhas e marcou uma nova audiência para o próximo dia 12.

Audiência foi positiva, avalia promotora

A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho afirmou que a primeira audiência de instrução e julgamento do caso Amarildo foi muito positiva e que os investigadores da Divisão de Homicídios confirmaram a denúncia:

— Os depoimentos confirmaram toda a investigação. Os depoimentos foram organizados e harmônicos — ressaltou ela.

Segundo a promotora, ainda serão ouvidos policiais civis e militares, entre eles, os cinco que estavam na UPP no momento da tortura de Amarildo. A viúva Elizabete Gomes de Silva, as testemunhas que estavam no bar no momento em que Amarildo foi levado e as duas pessoas que confessaram ter recebido ajuda para inventar uma história de envolvimento da família do ajudante de pedreiro com o tráfico também vão depor no tribunal.

Carmen Eliza disse ainda esperar que, quando o interrogatório dos 25 réus for iniciado, alguns dos policiais mudem a primeira versão dos fatos para contar o que realmente aconteceu durante o tempo em que Amarildo ficou na sede da UPP. Segundo a promotora, os oito policiais denunciados que estavam dentro do contêiner e ouviram toda a sessão de tortura sem nada fazer devem responder pelo mesmo crime:

— Se eles continuarem mentindo vão responder igualmente pelo mesmo crime, porque foram coniventes.

Diferentemente da promotora, o advogado do soldado Dejan Marcos de Andrade Ricardo, Aldo Faro, afirmou que o depoimento foi positivo para a defesa do soldado. Segundo a denúncia do MP, Dejan ficou de guarda em um dos acessos da UPP para impedir a aproximação de qualquer pessoa durante a sessão de tortura:

— Meu cliente trabalhava administrativamente. Ele ficou durante um período na guarda e depois foi para o trailer. Ele não viu Amarildo — defendeu o advogado.



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