Diretor da Polícia Civil diz que denúncia de Durval Barbosa é retaliação - Ricardo Taffner - CORREIO BRAZILIENSE, 31/01/2012 06:46
O diretor-geral da Polícia Civil do Distrito Federal, Onofre de Moraes, acredita que a acusação de que teria oferecido propina ao jornalista Edson Sombra é retaliação a investigações conduzidas pela corporação. Nas últimas semanas, a Delegacia de Crimes contra a Ordem Tributária (DOT) encontrou indícios de irregularidades contra a empresa da mulher do jornalista, Wânia Luzia de Souza. O delator da Caixa de Pandora, o delegado aposentado Durval Barbosa, afirmou em depoimento, no último dia 24, à Polícia Federal, que o diretor teria oferecido R$ 150 mil a Edson Sombra como forma de silenciar o blogueiro, que diz ter gravado a suposta oferta. Onofre nega a acusação.
A denúncia foi relatada pelo delator à revista Veja, mas Onofre de Moraes desafia os autores a mostrarem o suposto vídeo. “Se tiverem alguma coisa contra mim, que mostrem. Eu não me importo. Enquanto eu for diretor da Polícia, não vou me curvar nem para Edson Sombra, nem para Durval Barbosa”, disse o policial ao Correio.
No fim do ano passado, a DOT iniciou a Operação Voucher, com o objetivo de apurar desvios fiscais de empresas de viagens e de publicidade do Distrito Federal. Entre as suspeitas, os investigadores identificaram a Babytour Agência de Viagens, Turismo e Representação Ltda., de Wânia e Antônio Ricardo de Pádua Aguiar. Apesar de estar com a inscrição cancelada desde 2007, o escritório mantinha em funcionamento a página na internet com ofertas de pacotes turísticos, além de ter movimentações financeiras.
Segundo o chefe da DOT, o delegado André Varella, Aguiar seria o jardineiro do jornalista. Para atestar o suposto funcionamento da agência, dois agentes foram no início deste mês ao endereço constante no registro da empresa, na 716 Norte, onde Sombra reside com a família. Câmeras do circuito de segurança flagraram a presença dos policiais. Intrigado, o jornalista publicou em seu blog imagens dos dois fotografando o terreno. “Chegamos ao nome de Edmilson Edson dos Santos, mas não sabíamos que era o Sombra, até vermos a notícia na internet. Ele fez chacota dos policiais e os colocou sob risco”, diz Varella.
Segundo Moraes, Sombra o procurou no dia 19, na Diretoria-Geral da PCDF, afirmou estar sendo perseguido e pediu o fim das investigações. No entanto, o jornalista teve de voltar, no dia 23, para prestar depoimento na DOT. O delegado André Varella afirma ter identificado o envolvimento do blogueiro com empresas suspeitas, inclusive, de lavagem de dinheiro. Um dos indícios é a compra de um automóvel blindado, em nome da agência de Wânia, da empresa Máxima Assessoria, dos sócios Cristiano Silva de Souza e Hermógenes Alves dos Reis. O primeiro foi acusado de atentado violento ao pudor enquanto o outro cumpre regime semiaberto por roubo. “Tudo indica que essa era uma empresa laranja”, afirma Varella.
Além disso, os policiais encontraram mais de 70 ações fiscais, no Tribunal de Justiça de Pernambuco, contra empresas ligadas a Sombra. Além de ter contrariado o amigo jornalista, Onofre de Moraes acredita ter irritado Durval Barbosa, ao nomear para a chefia da Academia de Polícia a chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Sandra Gomes Melo, responsável pela investigação da acusação de pedofilia imputada ao delator.
"Eles terão de provar tudo o que dizem"
Durval afirmou que o senhor teria oferecido R$ 150 mil ao Sombra para ele parar de “bater” na atual gestão. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Para quem desviou R$ 200 milhões de recursos… Ele (Sombra) foi à DOT no dia 23 para prestar depoimento e, no dia seguinte, saiu a notícia de Durval Barbosa na Polícia Federal. Eles trabalham juntos.
Teria sido retaliação às investigações?
É o que tudo indica. (O Sombra) era meu amigo há 30 anos e de repente se voltou contra mim, acredito eu, porque ninguém tinha coragem de investigá-lo. Meus delegados aqui têm liberdade para investigar quem quer que seja. Não quero saber quem é e nem vou impedir nenhuma investigação. O Durval também ficou irritado porque a delegada da DPCA que apurou aquele inquérito da pedofilia foi lotada na direção da academia. Eles eram acostumados a mandar na polícia, direcionar essas investigações, mas agora acabou.
Quando foi a última vez que vocês tiveram algum tipo de contato?
Foi aqui na minha sala, no dia 19 de janeiro, quando o Sombra e a esposa dele me procuraram. Ele disse que estava sofrendo perseguição. Olha aí a perseguição (diz apontando para o material da investigação espalhado sobre a mesa).
Existiu algum outro encontro?
Eu cansei de frequentar a casa dele. Fui lá diversas vezes, como todas as pessoas. Acredito que eu era o último amigo dele, porque ele não tem mais amigos. A vida deles é filmar, gravar e acabar com a vida das pessoas.
Como avalia essa exposição?
Ele acha que fui eu quem mandou investigá-lo, mas eu não mandei nada. Delegado nenhum vai chegar para mim pra dizer que está investigando fulano. Quando ele veio aqui me pedir, veio em um tom para interromper as investigações. Ele veio em um sentido de coagir. Tudo que ele tiver, que mostre agora. Eu não tenho medo.
O senhor o desafia a mostrar o suposto vídeo no qual apareceria oferecendo dinheiro a ele?
Ele pode mostrar todos. Aliás, ele e Durval têm de mostrar todos os vídeos do DF. A cidade não pode ficar a mercê dos dois e não suporta mais essa onda de chantagens. Eles querem comandar todos os poderes.
A atual cúpula da Polícia Civil trabalhou junta em gestões passadas, inclusive com a participação de Durval e a proximidade do Sombra, mas hoje está rachada. A que se deve?
É porque eles não aceitam ser investigados. Gostam de investigar os outros. Eu sempre fui alheio a isso. Eu não posso, mesmo com a amizade que eu teria com ele, dizer para um delegado interromper uma investigação, porque eu não faço isso. Sempre foi a minha postura. Nunca pedi para ninguém ajudar ou prejudicar outra pessoa. Tenho 34 anos de profissão e sempre agi dessa maneira. Quem deve paga.
Mas o Durval está no programa de delação premiada e, se mentir, pode perder o benefício. O que o senhor acha que o levou a fazer essas acusações?
Acho que foi a raiva disso tudo. Ele queria que eu exonerasse a delegada da academia de polícia. Aí o Sombra, na minha ideia, usou o Durval.
O Durval teria sido enganado pelo Sombra?
Ele depôs a serviço dele. É um absurdo a pessoa estar na delação premiada, gravando fita e chantageando as pessoas. Enquanto eu estiver aqui, nenhum dos dois intimidará mais a Polícia Civil. E mostrem o que tem para mostrar. Brasília tem de ver tudo o que eles tem.
O senhor vai tomar alguma providência?
Vou entrar na Justiça contra todos. Estou preparando as medidas judiciais. Eles vão ter de provar tudo o que eles estão dizendo.
Esta investigação prossegue?
Isso aqui é a ponta do iceberg. Muitas pessoas do relacionamento dele (Sombra) vão aparecer. Os agentes financiadores vão aparecer nesta investigação. O que a gente vislumbra numa investigação desse porte é que muitas pessoas influentes do Distrito Federal aparecerão. Mas ela prosseguirá no ritmo normal. Eu não vou apressá-la, porque não vou levar para o lado pessoal.
A polícia continua envolvida na política brasiliense?
A polícia tinha influência maléfica dessas pessoas. Eles quem escolhiam os delegados-chaves das delegacias. Acabou. É o fim da fonte de informação. Por conta disso, contrariamos muitos interesses. Agora, dossiê não existe mais na Polícia Civil. Eu te garanto que essa investigação, antes, podia ser motivo de dossiê, mas, agora, não. Doa a quem doer. Se eles tiverem alguma coisa contra mim, eles que mostrem. Eu não me importo. Enquanto eu for diretor da Polícia, eu não vou me curvar nem para Edson Sombra, nem para Durval Barbosa. Já fizeram muito mal para muitas pessoas. Tem de dar um basta nisso.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
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