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POLÍCIA NA MIRA. A polícia brasileira está longe da ideal. Mas insistir na teoria de que ela faz parte de uma força de opressão não ajuda a compreender o papel que deve ter em uma sociedade com uma democracia consolidada, como a nossa. Bruno Huberman- REVISTA VEJA, 30/01/2012
Conheça algumas visões a respeito da polícia:
Aloysio Nunes, senador (PSDB) e ex-ministro da Justiça. O que as pessoas esperam da polícia é que ela aja como um braço da Justiça para punir aqueles que cometem delitos e na manutenção da ordem. A polícia precisa ser bem preparada, remunerada, dotada de investimentos de ponta, investigar e tratar o cidadão com cortesia. Quando fui ministro da Justiça, na gestão FHC, houve a tentativa de unificar as polícias. No entanto, é impossível criar uma única corporação. O que se precisa é integrar as duas polícias. Essa integração deve ser operacional, de informações e de formação dos dois ramos. O processo de unificação seria muito doloroso e beneficiaria apenas o crime. Pela minha experiência de político, o povo quer a polícia na rua, segurança, patrulhamento e presença.
Claudio Beato, sociólogo e professor da UFMG - A melhor polícia é a que o público considera a melhor e atende aos seus desejos. As nossas polícias se distanciaram muito da população brasileira. Elas não prestam contas nem para a população nem para o governo. A Polícia Militar tem uma imagem herdada da ditadura, quando era uma caixa-preta e impunha medo ao cidadão. Isso continua de certa forma até hoje. É terrível no Brasil termos dividido a polícia entre Civil e Militar, uma para patrulhamento e outra para investigação. Isso fraciona a atividade policial e cria áreas de conflito. Precisamos alterar isso na Constituição e criar uma única polícia que investigue e patrulhe. Também não se pode criar uma corporação gigantesca que abarque todas as polícias do país. É preciso fazer um estudo detalhado de qual é o melhor modelo policial para o Brasil. Resolver o problema de segurança pública passa por acabar com esse sentimento de impunidade permeado em toda a sociedade que acaba com a credibilidade da polícia e do judiciário. A sensação de segurança pública vai melhorar apenas se mudarmos a legislação de processo penal, o sistema carcerário e vigiarmos melhor as nossas fronteiras. Mas uma coisa é certa: com essa polícia, não dá.
Coronel Álvaro Camilo, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo - A população quer uma polícia firme, mas não arbitrária. Ela espera que o policial seja perfeito em todos os lugares. A Polícia Militar tem uma rejeição muito grande que vem da ditadura militar. Ela mantém o estigma até pelo termo militar, mas se reinventou. Deixou de ser uma polícia de estado para ser uma polícia do cidadão. As propostas de unificação e desmilitarização não devem acontecer em curto prazo. A polícia hoje não tem o emprego militar, mas a estética militar, ou seja, os valores militares. O lado militar é importante para controlar uma organização deste tamanho. O policial não pode fazer greve ou se sindicalizar. A palavra-chave é integração e não unificação. Não é o maior número ou o menor número de policias que vai resolver o problema, mas o emprego de cada uma. Por ser a primeira força a agir, como nos casos da USP, Cracolândia e Pinheirinho, a PM manteve esse estigma ao longo do tempo. Sobre as denúncias de violência policial nessas ações recentes, o que aconteceu foram casos individuais. Se tiver ocorrido algum excesso, iremos investigar e punir. Não passamos a mão na cabeça. A PM paulista tem essa fama de ser violenta e lutamos diariamente para quebrar esse estigma.
Neide de Almeida Nunes, assistente social, atua na Cracolândia - Quando chegamos em 1988 no Centro de São Paulo, o forte era a prostituição. Automaticamente começaram a aparecer os moradores de rua, normalmente todos alcoólatras, e dai começou o crack. Na década de 1990 teve um crescimento, mas no começo da década de 2000 o uso do crack ficou descarado. Antes, as pessoas iam para os hotéis da região fumar o crack e não usavam livremente no meio da rua. O poder público sempre tentou intervir nessa região, mas as suas ações são essencialmente policiais. Os policiais só espantavam os viciados, mas eles sempre voltavam. Parece que os políticos não compreendem o que realmente acontece aqui. Falta conexão. Tomara que agora consigam resolver essa situação. O trabalho policial é importante, mas precisa ser ajudado pelo trabalho social, de saúde e, acima de tudo, o religioso para aproximar o dependente de Deus e, assim, permitir que ele encontre uma saída.
A VISÃO DO CORONEL RR DA BRIGADA MILITAR, JORGE BENGOCHEA - O maior erro dos "especialistas", "policiólogos" e políticos é a visão míope das questões de segurança pública aplicadas no Brasil. Esta visão distorcida foca apenas nas mazelas policiais as causas da insegurança pública, e despreza o objetivo da segurança pública é a preservação da ordem pública, a Paz Social,
Através de meus vários blogs, onde coleto e faço a postagem de materiais publicados na mídia, procuro denunciar as mazelas dos Poderes e instituições com responsabilidades na preservação da ordem pública, e mostrar o corporativismo, as divergências e as deficiências que impedem a eficácia do sistema de ordem pública vigente no Brasil. A partir do real conceito de Segurança Pública definido como um "conjunto de ações e processos administrativos (Executivo), jurídicos (Legislativo) e judiciais (Judiciário), onde cada poder tem funções que interagem, complementam e dão continuidade ao esforço do outro na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, e que depende da harmonia entre os poderes, das ligações entre os instrumentos de coação, justiça e cidadania e do comprometimento dos agentes públicos.
Portanto, de nada adianta discutir as mazelas policiais se não discutir o conjunto do sistema criminal. E esta evidência pode ser constatada numa pergunta - "Se Brasil tivesse o melhor sistema policial e os policiais mais capacitados do mundo, o povo brasileiro teria segurança?. A resposta é não, pois a constituição brasileira é cheia de direitos e prerrogativas; a justiça continuaria divergente, morosa e desacreditada; o Congresso manteria sua postura ausente e elaborando leis benevolentes; e o Poder Executivo continuaria o descaso na saúde e na educação, negligenciando a guarda e custódia de presos e tratando de forma superficial as questões das drogas e segurança nas fronteiras. Poderes em desarmonia, constituição anti-cidadã, ligações corporativas, processos morosos, decisões judiciais centralizadas, MP enfraquecido, defensoria inexistente, justiça distante dos delitos, benevolências penais, penas caricatas, presídios dominados por facções, corrupção salvaguardada e impunidade estimulam a desordem pública, um sistema desacreditado e resultados pífios.
Portanto, Senhores. Não é só o calcanhar (Polícia) que está contaminado, mas uma metástase está se distribuindo por todo o corpo do sistema criminal envolvendo a constituição federal e instituições dos Poderes Judiciário, Executivo, Legislativo.
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