ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 20 de março de 2011

UM DIA DE DELEGADO


DIÁRIO acompanhou rotina de um delegado de plantão. Na última sexta-feira de manhã, o DIÁRIO acompanhou a rotina do delegado de plantão José Salmazo Filho no 77º DP, em Santa Cecília. Veja quais características profissionais são importantes para a função
- DIÁRIO SP - 12/03/2011

Improviso

O delegado José Salmazo Filho espera seis horas para registrar um boletim de ocorrência. O sistema de Registro Digital de Ocorrências (RDO), que é utilizado nas delegacias de São Paulo, costuma causar esse tipo de transtorno. Para não fazer a vítima ficar esperando na recepção, ele registra o depoimento em seu computador e pede que ela passe mais tarde para pegar o boletim. "Imagina se eu tivesse um número maior de pessoas aqui? A falha na montagem e na transmissão de dados é problemática", reclama o delegado. Para facilitar seu trabalho, ele leva dois laptops particulares para agilizar o processo. "Não gosto de ver as pessoas esperando nas delegacias. Tento fazer um esquema para agilizar o atendimento", explica.

Paciência


O delegado explica que os cinco computadores do plantão são suficientes para o atendimento, mas diz ser preciso melhorar a qualidade dos programas. "A parte de hardware, ou seja, os equipamentos, está boa, mas a parte de software, os programas do sistema, está um caos. Esquenta e cai a velocidade. A gente tecla uma letra e não entra. É um teste de paciência para o policial", brinca. No final da manhã, outra vítima aparece para registrar um boletim de ocorrência de roubo. A atendente de marketing, de 25 anos, relata que na quinta-feira foi atacada na Rua Duque de Caxias. Tentou registrar o boletim de ocorrência na cidade onde mora, Diadema, mas o delegado de plantão pediu para que ela procurasse a delegacia no Centro de São Paulo. Quando começou a registrar o BO, o sistema travou. "É melhor você ir almoçar e depois registramos esse boletim", recomenda o delegado.

Capacidade analítica

O delegado também reclama da falta de impressoras de qualidade. "Nós não temos uma impressora colorida e o Judiciário pede foto com melhor resolução." A delegacia chegou a ter uma impressora colorida, mas ela quebrou há um ano e não voltou do conserto. "Um dos aspectos deprimentes da polícia é o seguinte: ela possui o bem, mas não tem a manutenção, tanto em matéria de máquinas como de veículos. O desperdício é enorme. Temos impressoras paradas por falta de tonner. Isso é falta de planejamento. Eu tenho o bem, mas não tenho como fornecer a manutenção desse bem", lamenta.

Gestão de pessoas

Outro problema dificulta o andamento dos inquéritos: dois investigadores, que deveriam estar na rua para solucionar os crimes registrados, trabalham na recepção da unidade. "Faltam assistentes administrativos para o atendimento ao público nas delegacias. Os investigadores deveriam estar a campo, fazendo o serviço deles", conta. Para o delegado, é preciso fazer uma grande licitação para contratação de assistentes administrativos. "É preciso montar o mesmo esquema do Poupatempo na qualidade do atendimento nas delegacias. Montamos aquelas cabines na recepção. O delegado pode dar conta de até seis boletins de ocorrência em andamento. Aos poucos, isso torna-se rotina e nossos investigadores vão a campo. Cada um fazendo o seu pape, mas alguém tem de fazer isso", conta. Salmazo Filho trabalha há 23 anos na polícia.

Tudo isto por...

Hoje, como delegado de 2ª classe, José Salmazo Filho recebe R$ 5.977. "Depende do perfil de cada um. No meu caso, este não é meu único recurso, mas tenho amigos que procuraram ir para outro estado em busca de melhores salários. Eles usam a plataforma de desafio do estado de São Paulo e depois descobrem que podem exercer a profissão em outro estado com um rendimento maior", conta.

BO pela internet

O site da Secretaria de Segurança Pública do Estado (www.ssp.sp.gov.br) é uma opção para quem quer registrar o boletim de ocorrência em casos de furto de veículos, furto ou perda de documentos, desaparecimento, encontro de pessoas, furto de placas e furto de celulares. De acordo com a secretaria, a expectativa é passar de 20% para 40% os atendimentos eletrônicos. A secretaria informou ainda que, nos próximos meses, 158 delegados que trabalham no Ciretran e no Detran reforçarão a Polícia Civil. O registro de BOs devem s er agilizados com a ajuda da Polícia Militar, que começará registrar as ocorrências nas bases comunitárias, no quartel e futuramente nas viaturas. A PM começou a testar neste mês um tablet que será usado nas viaturas como um computador de bordo. Com essa tecnologia será possível interligar os 1.900 quartéis do estado. Neste mês, a Polícia Militar receberá mil computadores de bordo para iniciar os testes.

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