PM é morto em ação contra motociclista. Brigada Militar e jovem divergem sobre disparo que matou o sargento - Colaborou Wagner Machado, LEILA ENDRUWEIT, ZERO HORA 10/03/2011
O sargento Vicente Garcia, 48 anos, já planejava as férias, que começariam na próxima terça-feira. Queria aproveitá-las com a mulher e as duas filhas. Só que não teve tempo: no fim da noite de terça-feira, durante uma abordagem policial, um tiro que partiu da arma de um colega, ocasionou a morte do policial militar.
Às 23h50min Garcia e outros dois colegas perseguiram um motociclista de 27 anos, que andava em alta velocidade e na contramão no centro de Roque Gonzales, no Noroeste. Após fugir das abordagens, o motociclista foi parado na localidade de Linha Poço Preto. Segundo a versão dos policias, o motociclista teria dado uma cabeçada em um dos PMs, que teria então iniciado uma luta corporal, em legítima defesa, com o jovem, resultando em um disparo acidental da arma, atingindo Garcia, a cerca de dois metros do local.
Em depoimento à Policia Civil, o policial afirmou que observou as normas de segurança, conservando o dedo fora do gatilho, que teria sido acionado pelo suspeito durante a briga.
O motociclista, cujo nome foi mantido em sigilo pela delegada Elaine Schons, negou o disparo. Segundo a delegada, o suspeito afirmou que não havia identificado a viatura e por isso não parou nas abordagens anteriores. Ele se recusou a fazer o teste do bafômetro. Sem antecedentes, o jovem foi autuado em flagrante por homicídio doloso – teria assumido o risco – e enviado ao Presídio de Cerro Largo.
Há 25 anos na Brigada Militar e oito anos alocado em Roque Gonzales, Garcia acabava de voltar de um período de dois anos como reforço no Presídio Central de Porto Alegre.
– Ele ficou dois anos na Capital e nada aconteceu e agora, aqui em uma cidade pequena, acontece isso. E a gente tem sempre a impressão de que essas coisas só acontecem em grandes cidades – lamenta o irmão do PM Valdomiro Garcia, 58 anos.
Inspirada pelo pai, filha mais velha segue carreira na BM
Segundo Valdomiro, o irmão preparava os papéis para dar entrada no pedido de aposentadoria. Ele morava em Porto Xavier, sua cidade natal, e ia todos os dias a Roque Gonzales para trabalhar.
Garcia era casado havia 29 anos com Maria Fracalossi Garcia, com quem tinha duas filhas: Daiana, 23 anos, e Daniela, 12 anos. A mais velha, inspirou sua carreira nos passos do pai e, há cerca de um ano, atua como PM em Porto Alegre.
As versões
DA BRIGADA - O motociclista estaria fazendo manobras arriscadas no Centro. Garcia e os dois colegas teriam perseguido o jovem até Linha Poço Preto, onde conseguiram pará-lo. Sentado no banco traseiro, um PM teria saltado da viatura e apontado a arma para o jovem. Ele afirmou que não colocou o dedo no gatilho. Enquanto Garcia e o terceiro policial desciam do carro, de capacete o motociclista teria partido para cima do PM. Em meio à luta corporal, que dura segundos, o tiro atinge a vítima, acima do colete. Garcia estaria a menos de dois metros da briga.
DO MOTOCICLISTA - Acompanhado da namorada, o jovem de 27 anos disse não ter reconhecido a viatura da Brigada Militar. Segundo ele, por essa razão, não teria atendido aos pedidos para parar durante as abordagens no Centro. Em Linha Poço Preto, ao perceber a abordagem, o motociclista disse ter atendido a orientação policial. Segundo ele, o policial já teria descido do carro efetuando o disparo, que atingiu o colega. Ele afirma que não houve luta corporal. O jovem ainda nega que conduzia a motocicleta sob efeito de álcool.
Inquéritos apurarão conduta policial
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso. Segundo o Capitão Eduardo Brum, do 14ª Batalhão de Policia Militar de São Luiz Gonzaga, os policias militares envolvidos no incidente seguem trabalhando normalmente e responderão a um inquérito policial militar, que já foi aberto e deve ser concluído em até 40 dias. Segundo Brum, o procedimento correto é não realizar abordagens policias com o dedo no gatilho, como os policiais afirmam ter agido. O presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filhos (ABAMF), entidade representativa dos servidores de nível médio da BM, Leonel Lucas, acredita que a ação foi a correta.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 10 de março de 2011
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