Sobre carnaval, crimes e camarotes - Jorge Antônio Barros, Repórter de Crime, O Globo, 03/03/2011
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, atendeu ao apelo feito por leitores deste blog, na caixa de comentários, e determinou que a Polícia Militar devolva o camarote que recebeu de cortesia da Liga das Escolas de Samba. Ali os policiais poderiam assistir gratuitamente à concentração das escolas do Grupo Especial. A informação foi dada pelo repórter Marcos Nunes, do jornal "Extra".
A atitude de Beltrame pode ter sido motivada depois que a chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, e o superintendente da Polícia Federal, Ângelo Gioia, anunciaram ter devolvido o camarote cedido pela Liga no Sambódromo. Como se sabe a Liga das Escolas de Samba foi criada pela contravenção e ainda funciona sob a influência de bicheiros como Anísio Abrahão, Luizinho Drumond e o Capitão Guimarães, que têm ali seus prepostos, conforme é público e notório. Como também é do conhecimento de todos nessa cidade, o jogo do bicho é uma atividade criminosa, que sustenta a máfia dos caça-níqueis, e reconhecidamente é uma das que mais corrompe integrantes do poder público no Estado do Rio.
Segundo a matéria publicada no "Extra" de hoje, o Corpo de Bombeiros não vai devolver o camarote oferecido pela Liesa. Os bombeiros, como se sabe, não são mais subordinados à pasta da Segurança, mas à da Saúde.
A atitude de Martha Rocha e de Beltrame é correta do ponto de vista ético, de se livrarem da "aparência do mal". Como repórter que cobriu carnaval na Avenida na década de 80, sempre fiz questão de não frequentar camarotes de bicheiros. Não que fosse me corromper por isso. Mas optei pela consciência limpa de não me misturar com pessoas de longa ficha criminal, nem que seja na hora da festa. Por isso sempre me senti à vontade para sugerir e cumprir pautas sobre o crime, a contravenção e a banda podre da polícia.
Beltrame fez muito bem em determinar que a PM não usufrua de privilégios mantidos pela Liga. Mas faria melhor se já tivesse determinado a conclusão da investigação determinada por ele, em 22 de fevereiro de 2009, sobre os 60 oficiais da PM que faziam "bico" para a Liga, na segurança do Sambódromo. Entre eles havia até tenentes-coronéis, que nunca receberam qualquer advertência por isso.
Para quem quiser se aprofundar um pouco mais no conhecimento das relações entre a Liga e o crime no Rio, vale passar os olhos na tese:
- O Crime Organizado no Rio: Espaços de Atuação, de Avelina Addor
http://www.slideshare.net/Flavortigao/liesa-e-o-crime-organizado-no-rio-de-janeiro
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 3 de março de 2011
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