WANDERLEY SOARES, O SUL, Odor dos anos de chumbo. 17/ 05/ 2012
Peritos criminalísticos estão na iminência de serem chefiados pelos amigos do rei.
Na solidão da minha torre, interrompida em horas mortas em reuniões com
meu conselho, que é misto, homens e mulheres têm os mesmos deveres e
direitos, nunca poderei deixar de reconhecer a validade do trabalho de
coleguinhas que são porta-vozes do oficialismo e refiro-me, é claro,
sobre a área da segurança pública. Não há nesta função nada que possa
depreciar esses profissionais, entre os quais tenho queridos amigos,
inclusive alguns que considero como irmãos. E, afinal de contas, é a
partir da oitiva da voz oficial que é possível uma análise sólida e não
meramente especulativa sobre a nossa segurança. Isto posto, aponto que
foi através desses porta-vozes que o governo anunciou que uma
força-tarefa composta por 200 policiais militares trabalhará aliada com
não menos de 60 policiais civis no enfrentamento da violência e da
criminalidade na Capital e na Região Metropolitana. O surpreendente
neste anúncio é o fato de que a sociedade foi avisada da formação deste
elo, quando o bom senso indicava que as forças policiais sempre
estiveram unidas. Sigam-me.
Elo sem solda
Neste elo ficou claro que a Brigada poderá investigar e não será vedada
à Polícia Civil a realização de operações preventivas-ostensivas, isto
tudo durante 60 dias. O que acontecerá depois deste período não ficou,
até agora, exatamente determinado. No entanto, em nenhum momento, nem
mesmo "en passant", o discurso oficial fez qualquer referência sobre de
como foi planejada - se planejada foi - a participação neste mutirão do
IGP (Instituto Geral de Perícias). E o IGP é o realizador da prova
científica que pode, por exemplo, garantir, via laudo pericial e
registro fotográfico que o acompanha, algumas das qualificadoras do
crime - rompimento de obstáculo, escalada, meio cruel, insidioso,
incapacidade de defesa da vítima etc.). Este mesmo IGP, apesar da
midiática divulgação da força-tarefa, ficará atuando com a mesma
capacidade de atendimento, que já entrou em colapso inúmeras vezes.
Enfim, pedalar barraco é uma coisa, prova científica é outra coisa.
Elo derretido
Os profissionais da antiga Polícia Técnica, que deu origem ao IGP,
sofreram, durante muitos anos, um constrangimento difícil de contornar
por parte, principalmente, de delegados tomados de arvores
sherlockianos. Criado o IGP, órgão da segurança pública que está no
mesmo nível da Polícia Civil, Brigada e Susepe, os peritos passaram a
trabalhar com independência técnica e científica. Pois, agora, tremeram
as fundações da minha torre diante do Projeto de Lei 113/2012, enviado
pelo governo à Assembleia, em regime de urgência, que transforma o IGP
num órgão comum do Executivo, ou seja, um recanto de apadrinhamento
político com distribuição de FGs e cargos comissionados. E a isenção,
imparcialidade e apartidarismo da perícia? E a própria autonomia do
órgão pericial, onde fica? E o compromisso com a verdade, integridade,
ética? E a respeitabilidade e confiabilidade do IGP como ficarão ao ser
enfiado num emaranhado de interesses totalmente estranhos e até
ofensivos contra o melhor que se possa esperar da segurança pública? Os
peritos foram ignorados no mutirão contra a criminalidade e agora sofrem
a ameaça iminente de serem chefiados pelos amigos do rei. A segurança
pública do nosso Rio Grande do Sul não merece tamanho retrocesso que tem
o odor dos anos de chumbo.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Um dos fatores de inoperância policial nos Estados brasileiros tem sido o desmembramento do ciclo policial em organizações corporativas, isoladas e com funções que não interagem. O caso dos peritos é o maior exemplo desta falaciosa política, onde políticos e agentes peritos interessados apenas em seus próprios propósitos lutaram para se separarem da Polícia Civil, a polícia invedstigativa. Ora, fizeram algo que as Polícias no mundo e a Polícia Federal brasileira tiveram a coragem de fazer: tiraram a perícia da polícia.
A Polícia Federal caminhou no rumo certo aprimorando a organização, criando esquipes táticas uniformizadas, ampliando as técnicas periciais e investindo tecnologia nos seus laboratórios e nas equipes de peritos operacionais.
Para quem conhece um pouco a política brasileira de descaso para com as questões de justiça, polícia e ordem pública, éra lógico que os políticos iriam passar os peritos para cargos de técnicos do Executivo sem perspectivas de uma carreira essencial à justiça como são as atividades policiais onde a perícia operacional e criminal deveria estar inserida. E eu avisei. mas ainda existem "especialistas" em segurança pública e políticos que não entendem que a perícia faz parte e é muito importante dentro do ciclo policial. Ave, Brasil!
Nenhum comentário:
Postar um comentário