WANDERLEY SOARES, O Sul, 11/05/2012
A bandidagem está amplamente informada dos corredores que serão percorridos pela força-tarefa.
Os homicídios clássicos como os passionais, os resultantes de rixas entre vizinhos, ocorridos durante disputas esportivas, como no jogo de osso ou mesmo na mesa de um simples carteado, estão permanentemente fora do controle das autoridades da segurança. São casos sem a presença de criminosos profissionais e que podem ocorrer até mesmo dentro de uma igreja. Apontam os homens da inteligência da Secretaria da Segurança Pública do RS que o crescimento do índice de homicídios na Zona Norte de Porto Alegre e na Região Metropolitana se deve aos enfrentamentos entre traficantes de drogas, o que significa a participação direta de profissionais do crime em cada caso, e serviu de motivação para a montagem da força-tarefa da Brigada Militar, com reforço da Polícia Civil. A ideia é a de que a matança entre traficantes, que causa um clima de insegurança e até de terror na comunidade, pode ser contida com um mutirão que durará, pelo menos, sessenta dias. Vale citar que, no combate direto ao tráfico, existe o Denarc gaúcho, cujos membros chegaram a se auto-definir, de forma mística, como "anjos da lei". No entanto, o processo angelical não está conseguindo conter a matança, mesmo tendo o mapeamento de todos os traficantes que atuam no Estado. Sem a preocupação de reforçar, de forma gradativa e permanente, a legião dos "anjos", a pasta da segurança optou pelo voo de sessenta dias da força-tarefa. Sigam-me.
Amostragem
Terá sucesso a força-tarefa? Não obstante as nuvens que contornam a minha torre, arrisco dizer, como um humilde marquês, que durante sessenta dias será impossível o insucesso. A Zona Norte da Capital e os municípios de Alvorada, Canoas, Viamão, Cachoeirinha e Gravataí gozarão da sombra da força-tarefa com a vantagem de que a bandidagem está muito bem avisada dos corredores que serão percorridos pelos policiais. As demais áreas de Porto Alegre e do Estado, no entanto, não gozarão da mesma sombra e cada cidadão deverá redobrar seus cuidados com a sua segurança, o que, afinal de contas, é uma rotina de todos nós. A segurança pública continua a obedecer a uma política sazonal e de amostragem. A seguir, liguem-se.
Horas extras
As diárias a serem pagas para os PMs da força-tarefa - todos deslocados do interior do Estado - não são satisfatórias, o que já provocou um mal-estar na tropa. Mas os bastidores da montagem deste dispositivo apresentam outros detalhes e, entre o mais instigante, é o de que foram suspensas milhares de horas extras destinadas aos brigadianos que permaneceram em seus batalhões. O custo anunciado para a força-tarefa foi de R$ 1,3 milhão, mas não há revelação exata do quanto isto afetará as estratégias do policiamento de áreas com níveis de violência e criminalidade tão preocupantes quanto nos perímetros a serem beneficiados pelo mutirão.
Cavalos
Em Porto Alegre, a Brigada Militar tem cerca de 90 cavalos. Segundo membros do meu corpo de conselheiros não-remunerados, um policial a cavalo, no mundo inteiro, vale por sete policiais a pé. Atualmente, a Brigada tem, na Capital, 38 cavaleiros que, por evidência, não trabalham dia e noite. Portanto, devemos convir que há, na Brigada, uma grave carência de cavaleiros ou um excesso de cavalgaduras.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
domingo, 13 de maio de 2012
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