EDITORIAL ZERO HORA 17/05/2012
É preocupante e precisa sensibilizar as autoridades de segurança pública o resultado de pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em seis Estados, entre os quais o Rio Grande do Sul, indicando um elevado índice de desconfiança por parte da população gaúcha em relação à polícia. Como a falta de confiança está ligada diretamente à insatisfação com os serviços prestados por organismos policiais, é importante que as providências sejam definidas em conjunto com as comunidades. Uma situação como a atual, que se repete de maneira geral no restante do país, só pode interessar aos próprios criminosos.
Entre as conclusões do estudo, destaca-se o fato de 53,9% dos que se manifestaram em nome dos gaúchos considerarem a polícia nada ou pouco confiável. Não por acaso, a maioria dos descrentes na corporação tem pouca renda, mora mal e percebe a violência como uma deformação incorporada ao seu cotidiano. Nesse ambiente, no qual muitas vezes o próprio crime organizado passa a assumir papéis típicos do Estado, agentes da lei e criminosos tendem a se confundir nas suas ações. Em consequência, os policiais costumam ser encarados como uma ameaça, não como proteção.
O primeiro movimento que precisa ser feito para atenuar esse quadro é o de aproximação entre a autoridade policial e líderes das comunidades, pois é possível potencializar os avanços nessa área com uma atuação em conjunto. Mas é imprescindível que os organismos de segurança também façam sua parte nesse processo. Isso implica a necessidade de maior qualidade nos serviços e o reconhecimento de que é possível, sim, melhorar alguns indicadores, como o tempo de atendimento às vítimas e a taxa de esclarecimento de homicídios.
Polícia e sociedade precisam se encarar mutuamente como aliados, não como adversários. Quando esse estágio for alcançado, o Estado estará finalmente mais próximo de melhorar as estatísticas relacionadas à segurança pública.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sim, é extremamente preocupante o crescimento da desconfiança nas forças policiais brasileiras, em especial as estaduais que vêm sendo sucateadas, desvalorizadas, discriminadas nas políticas salariais, fragmentadas no ciclo policial, alijadas do Sistema de Justiça Criminal e enfraquecidas pela burocracia, pelas leis benevolentes, pela falência prisional, por ingerências políticas, pela concorrência do MP e por uma justiça morosa e indiferente às questões de ordem pública. Todas estas mazelas contribuem para o insucesso dos planos dos gestores, para a desmotivação dos agentes e para a inutilidade dos esforços policiais, já que estes esforços não têm continuidade na justiça e soluções na execução penal.
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