ZERO HORA, 15 de maio de 2012
INVESTIGAÇÕES VIRTUAIS - CAUE FONSECA
O combate a delitos cometidos na internet no Rio Grande do Sul é centralizado em delegacia que foca em fraudes bancárias.
A prisão dos hackers suspeitos de vazamento das fotos de Carolina Dieckmann fez aparecer o trabalho das polícias focadas em crimes digitais. Mas os especialistas gaúchos nesse tipo de investigação alertam: se você não é uma atriz global, ninguém está lá muito interessado nos seus ensaios domésticos. O que esse tipo de criminoso quer é o seu dinheiro.
Vinculado ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o combate aos delitos virtuais no Estado é centralizado na Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI) da Polícia Civil. Titular da delegacia, Marcínio Tavares Neto é taxativo sobre o foco dos trabalhos:
– Cerca de 80% é contra fraudes bancárias. Contra quadrilhas especializadas em furtar senhas, por exemplo.
A demanda por esse tipo de investigação surgiu na metade da década passada, mas apenas no segundo semestre de 2010 a DRCI ganhou a estrutura que tem hoje: com um delegado e sete agentes.
– Mais do que bom conhecimento técnico, é preciso policiais com um perfil “fuçador”. Eu mesmo trabalho nesta área desde 2005 e não tenho nenhuma formação acadêmica em informática – avalia Emerson Wendt, primeiro delegado da DRCI.
Embora enxuta, a equipe gaúcha contabiliza vitórias importantes contra delitos que, justamente por utilizar a rede mundial, pode envolver criminosos de toda parte. Virou referência na delegacia a operação que, no início de 2011, chegou a um hacker baiano que investia contra o Banrisul.
– Após criar uma página falsa do banco para interceptar as senhas, pessoas aqui do Estado eram recrutadas para efetuar os saques, ficar com uma comissão e enviar o restante à quadrilha – relata Edler Gomes dos Santos, um dos agentes da DRCI.
Também há investigações na DRCI sobre outras chagas da internet, como pedofilia e racismo. Como o trabalho requer prisões, depoimentos fora do Estado e quebras de sigilo, por vezes a celeridade fica comprometida.
– Em uma investigação de racismo, eu solicitei autorização à Justiça faz cerca de um ano e só agora recebi os IPs (endereços das conexões de internet) – conta Santos.
Conforme a delegada de Defesa Institucional, Diana Calazans Mann, há casos em que a investigação chega à Polícia Federal. Os mais comuns são quando há dano a instituições federais ou violação de direitos humanos.
Ainda falta no país uma legislação específica
A internet no Brasil ainda é vista apenas como um veículo para outros crimes, sem legislação específica. Os criminosos que violaram a privacidade de Carolina Dieckmann, por exemplo, poderão ser processados pelo dano à imagem da atriz e por extorsão, mas não por terem usado um e-mail spam para violar o computador dela.
– Não é crime enviar correio eletrônico para roubar senhas e dados, ou invadir um sistema de computador. Só quando faz uso da senha em uma transferência bancária, por exemplo, a pessoa pode ser enquadrada por furto qualificado. A internet é o meio, mas não o fim – explica Wendt.
“Sensação de faca no peito”
A atriz Carolina Dieckmann, 33 anos, que teve fotos íntimas publicadas na internet, falou ontem ao Jornal Nacional sobre a extorsão que sofreu:“Acho que agora eu vou poder voltar a viver. Enquanto não aparecessem essas pessoas (responsáveis pela divulgação das fotos, identificados pela polícia), acho que não seria possível ficar tranquila. Nunca pensei em aceitar a pagar o que era pedido. Fiquei sabendo que as fotos estavam na internet pelo meu empresário. Liguei para a Ana, que trabalha na minha casa, e falei: ‘Desliga a internet’. Davi, meu filho de 13 anos, estava em casa. Tinha muito medo de ele ver aquelas fotos e não estar lá para explicar. Nessa hora em que tudo isso aconteceu, ficava pensando: ‘O que é pior, uma mãe nua ou que aceita chantagem?’. Meu filho foi muito maduro. Ele falou o tempo inteiro que era uma coisa minha, que tinha a ver com o trabalho... Ele meu deu força e acho que ele está orgulhoso de mim.
Não vejo diferença entre o crime digital e um convencional. É uma sensação de faca no peito. Espero justiça.”
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