Civil se une à BM para investigar assassinatos. Plano apresentado ontem para auxiliar no combate aos homicídios irá beneficiar 11 municípios - FRANCISCO AMORIM, GUILHERME MAZUI E RENATO GAVA - ZERO HORA 08/05/2012
Além de Canoas e Porto Alegre que já têm delegacias especializadas na investigação de homicídios, outras nove cidades onde o número de mortes disparou em 2012 vão ganhar equipes de policiais civis exclusivas para a apuração desse crime. Apresentado na manhã de ontem ao secretário da Segurança Pública, Airton Michels, o plano se soma à força-tarefa da Brigada Militar, que deslocará 200 PMs do Interior para patrulhar a Região Metropolitana.
Mobilizar as duas instituições foi a forma encontrada pela SSP para conter o surto de assassinatos que preocupa as autoridades. Conforme dados do primeiro trimestre de 2012, o Estado registrou 81 mortes a mais em relação ao mesmo período de 2011, uma alta de 19,6%.
Ontem, o secretário Airton Michels se reuniu com o chefe de Polícia, Ranolfo Vieira Júnior, para discutir a ofensiva. O plano é reforçar as equipes de investigação em Porto Alegre, Guaíba, Canoas, Alvorada, Viamão, Gravataí, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, Pelotas e Passo Fundo. Conforme Ranolfo, a ideia é, além de aumentar as equipes das duas delegacias de Homicídios de Porto Alegre e da especializada de Canoas, criar grupos de investigação nos outros municípios da lista.
– Será um delegado e dois ou três agentes que atuarão apenas na investigação de assassinatos – detalhou ele.
Cerca de 60 homens devem ser empregados na operação, que dará prioridade para a apuração de homicídios, a fim de elucidar casos e efetuar prisões capazes de reduzir a mortandade, já que parte da alta é creditada à disputa de traficantes por territórios. Ainda falta definir a origem dos agentes.
– Se for necessário, faremos remoções pontuais. A operação envolverá 1% do nosso efetivo, assim não haverá prejuízo para as comunidades – garante o delegado.
Ao incluir o Interior na sua ação, a Polícia Civil tentará diminuir as mortes em cidades com altas elevadas, como São Leopoldo, onde os homicídios mais do que dobraram – passaram de 12 para 25 comparando o primeiro trimestre de 2012 com o de 2011.
Lista dos 200 PMs deverá ser apresentada hoje
Ontem à tarde, o secretário se reuniu com o coronel Altair Cunha, comandante interino da BM. Os dois discutiram a origem e a data de chegada dos 200 PMs usados na força-tarefa que tem previsão de patrulhar as zonas norte e leste de Porto Alegre, mais bairros de Alvorada, Viamão, Gravataí e Cachoeirinha.
A previsão é priorizar policiais da Metade Sul, região onde o efetivo é mais numeroso. Antes do começo da ação, previsto para o fim da semana, os homens passarão por treinamento na Capital. O foco é combater o tráfico de drogas, efetuar prisões de foragidos e apreender armas.
– Posso garantir que essa integração com a Polícia Civil será muito importante para combater os homicídios – disse o coronel.
Ele deve apresentar até as 9h de hoje a lista dos 200 PMs – e de onde são – que serão transferidos provisoriamente para as cidades alvos da operação.
Ideia é que Brigada ajude na investigação
A ideia de unir forças entre as polícias Militar e Civil é outra faceta do plano da Segurança. Mas uma medida anunciada pelo chefe de Polícia promete causar polêmica:
– É preciso um estreitamento com a Brigada Militar, sobretudo no que diz respeito ao crimes de homicídio. A Brigada vai nos ajudar na investigação, pois ela normalmente é a primeira a chegar às cena de crime. Os policiais militares deverão coletar os primeiros dados e nos repassar – afirmou Ranolfo Vieira Júnior.
A medida, informalmente, já é usada em algumas delegacias – em casos de latrocínio (roubo com morte). Mas alguns policiais civis não aprovam.
– Os PMs querem ajudar, mas as vezes atrapalham, pois não sabem investigar – avaliou um agente da Capital, ontem, que pediu para não ser identificado.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É sempre salutar a integração entre a Polícia Civil e a Brigada Militar, pois ambas atuam em segmentos do ciclo policial que, unido, torna o erforço policial muito mais eficiente. Pena que estão esquecendo o IGP que também é parte do ciclo policial. O Brasil é um dos poucos países do mundo que, apesar de manter a Polícia Federal no ciclo policial completo, permite que as polícias estaduais atuem em segmentos separados e com a perícia distante da estrutura policial. Além de outros fatores conjuntais e estruturais, este amadorismo político na segurança pública é mais um que impede a eficácia do esforço policial no Brasil.
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
terça-feira, 8 de maio de 2012
DESINTEGRAÇÃO: OS PMs QUEREM AJUDAR, MAS AS VEZES ATRAPALHAM, DIZ POLICIAL CIVIL
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