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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

QUADRILHA DE POLICIAIS PRATICAVA EXTORSÃO CONTRA TRANSPORTADORES DE CARGAS ILÍCITAS


Ação da CGU desarticula quadrilha de policiais que praticava crime de extorsão. Onze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público. Entre os suspeitos, há agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas. Enquanto isso, DRFC faz ação contra roubo de veículos, cargas e até residências

RENATA LEITE
O GLOBO 18/12/12 - 10h18


Agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas fazem operação paralela à ação da CGU contra de quadrilha de policiais que praticava crime de extorsão Fernando Quevedo / O Globo


RIO - A Corregedoria Geral Unificada da Secretaria estadual de Segurança realiza desde o início da manhã desta terça-feira a operação Carga Pesada para cumprir nove mandados de prisão e 44 de busca e apreensão contra uma quadrilha formada por policiais civis lotados na Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). Segundo as investigações, os agentes tinham como cúmplices um policial militar e um bombeiro. O grupo praticava crimes de extorsão contra transportadores de cargas ilícitas, usando a estrutura do Estado para apreender produtos irregulares de vítimas previamente indicadas por um informante, que agia como um falso policial. Em seguida, a quadrilha negociava a devolução da carga apreendida mediante pagamento de propina.

A ação conta com apoio do Ministério Público estadual, das corregedorias das polícias Civil e Militar, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais e da Subsecretaria de Inteligência.

Na manhã desta terça-feira, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio, informou, em nota, que cinco policiais civis, um policial militar, um ex-policial militar, um bombeiro e mais três pessoas foram denunciadas por formação de quadrilha, estelionato, receptação, extorsão, peculato e concussão (extorsão praticada por agente público). O bando, segundo o Gaeco, cometia uma série de crimes como extorsão a comerciantes, roubo de carga, revenda de material apreendido, diligências clandestinas, ameaças e invasão de domicílio. Os policiais civis, ainda segundo a nota, estavam lotados na DRFC quando cometeram os crimes.

De acordo com o Gaeco, o esquema criminoso foi descoberto ano passado, depois que comerciantes dos bairros de Jardim Primavera e Campos Elíseos procuraram a corregedoria para denunciar que eram extorquidos semanalmente, desde 2008, e obrigados a pagar uma "taxa de segurança" ao cabo da Polícia Militar Alex Sander Santos de Souza. As vítimas relataram que a falta de alvará de funcionamento dos estabelecimentos era o argumento para que pagassem a propina, com valores entre R$ 50 e R$ 100 semanais. Segundo as investigações da CGU, um policial civil , que era lotado na 60ª DP (Campos Elíseos), era o responsável por arrecadar o dinheiro. Em março de 2011, ele foi transferido para a DRFC e arregimentou outros policiais para o esquema.

Investigações da CGU constataram ainda que o grupo apreendia mercadorias com o intuito de revendê-las depois e utilizava o cartório da DRFC para dar legalidade ao procedimento. De acordo com a denúncia, "caso não resultasse o esperado, e sempre que fosse necessário, procurava a quadrilha, fazendo uso da máquina administrativa cartorária, dar um verniz de legalidade às suas atividades, formalizando os atos administrativos de regular diligência, seja lavrando apreensões, seja procedendo a registros de ocorrência". No pátio da DRFC, segundo as investigações, também ficava estacionado um caminhão-baú lotado de mercadorias apreendidas pelo grupo. Um policial, mesmo aposentado, continuava a exercer a atividade policial na delegacia, segundo a denúncia.

DRFC faz ação contra roubo de veículos, cargas de caminhões e até residências

Paralelamente à operação da CGU, a DRFC, com apoio das demais especializadas e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), realiza a operação Colmeia na manhã desta terça-feira para prender integrantes de uma quadrilha de roubo de veículos, cargas de caminhões e até residências. Sete pessoas já foram presas na ação. Há 22 mandados de prisão contra o grupo, sendo que cinco já haviam sido cumpridos nas últimas semanas, e 19 de busca e apreensão. A operação está sendo realizada em diversos municípios da Baixada Fluminense, como Nova Iguaçu, São João de Meriti e Queimados, além de Vigário Geral e a comunidade Nova Holanda, no Rio. Dois blindados estão sendo usados na ação.

De acordo com as investigações, que começaram em agosto deste ano, os suspeitos praticavam os assaltos, muitas vezes, mediante sequestro. A quadrilha efetuava em média oito roubos por semana, movimentando uma quantia ainda não contabilizada pela polícia.

— A quadrilha mantinha motoristas de caminhão em cativeiro até que a carga fosse desviada — contou o delegado da DRFC, Fabio Cardoso.

Segundo o delegado, os integrantes da quadrilha tinham funções específicas. Havia homens especializados, por exemplo, em desligar o dispositivo de rastreamento de carretas e caminhões. Por vezes, o bando usava também um equipamento que bloqueava o dispositivo de rastreamento.

— Chamamos a operação de Colmeia por se tratar de uma grande quadrilha formada por pequenos núcleos, divididos de acordo com o item a ser roubado, como medicamentos, bebidas, alimentos e produtos tecnológicos — disse o delegado.

No Centro de Nova Iguaçu, os agentes prenderam, em casa, o empresário Rogério dos Santos Gonçalves, de 43 anos. Ele é acusado de receptação de produtos roubados e de agir como um atravessador na quadrilha, indicando outros possíveis compradores. Rogério é dono de uma lanchonete na cidade. Já em Vigário Geral, a polícia procurava três homens acusados de roubar carros a mão armada. Na comunidade Nova Holanda, um dono de farmácia é suspeito de receber medicamentos roubados pela quadrilha. Há ainda um mandado de prisão contra o funcionário de uma transportadora que passava informações para a quadrilha.

Segundo o delegado, o chefe do grupo, Renato Raposo da Silva, conhecido como Raposinho, já está preso. A quadrilha agia principalmente na Rodovia Washington Luís, na Via Dutra e na Rodovia Rio-Magé.

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