ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

sábado, 29 de dezembro de 2012

NOVA ESTRATÉGIA CONTRA LADRÕES DE BANCO



ZERO HORA 29 de dezembro de 2012 | N° 17297

NOVA ESTRATÉGIA. PF mira ladrões de bancos. Onda de ataques envolvendo explosivos e reféns transformados em escudos humanos nos três Estados do sul mobiliza Polícia Federal e faz polícias atuarem em conjunto

FRANSCISCO AMORIM E HUMBERTO TREZZI

A Polícia Federal entrou em campo para ajudar a conter a onda de ataques criminosos a banco que tomou conta do sul do Brasil. Razões não faltam. Entre 2011 e 2012, o número de assaltos e arrombamentos de estabelecimentos bancários subiu 23,7% no Rio Grande do Sul, 81,4% em Santa Catarina e 117% no Paraná, num total de 504 ataques até o início de novembro (último levantamento completo).

Como regra, a missão dos federais seria apenas atuar quando bancos federais são roubados – como a Caixa Econômica Federal. Mas, como crime é crime, não há limites para sua investigação.

– Acontece que os bandidos não respeitam qualquer delimitação. Os mesmos que assaltam bancos privados ou estaduais também atacam os federais. É por isso que temos realizado levantamentos sobre quadrilhas, sem levar em conta que tipo de agência atacaram – diz um delegado federal ouvido por Zero Hora.

O outro motivo da interferência dos federais é que os ataques a banco se transformaram numa epidemia interestadual, que ultrapassa divisas. Como as polícias estaduais têm notórias dificuldades de entrosamento, a PF almeja uma ação de maior abrangência, que supere rivalidades regionais e jurisdições estaduais.

Três quadrilhas em SC e no RS

Os federais já descobriram que pelo menos três quadrilhas têm feito um vaivém de ataques entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, assaltando num Estado e fugindo para o outro. Uma delas é a que era chefiada por Enivaldo Farias, o Cafuringa, gaúcho que atacava bancos nos dois Estados e foi preso em Cachoeirinha (RS) em agosto. Mesmo com ele atrás das grades, a estrutura do bando teria permanecido intacta.

Outra quadrilha é formada por bandidos radicados em Joinville (SC), que costuma atacar carros-fortes nessa região, mas estaria envolvido também em ataques a banco no RS. O principal nome é o do foragido Elisandro Falcão. E o terceiro bando seria um que também tem praticado assaltos na região serrana do Rio Grande do Sul.

Em paralelo à ação dos federais, as polícias civis tratam de se entrosar. Agentes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul planejam desde outubro investigações conjuntas, que acabaram de resultar numa operação que desarticulou parte de uma poderosa quadrilha de assaltantes (veja na página ao lado).

– Mais ações integradas virão – adianta o chefe da Polícia Civil, Ranolfo Vieira Junior.

O que tanto policiais federais quanto civis tentam descobrir é quem é o “matuto” – fornecedor de armas para essas quadrilhas. Há possibilidade de que o armamento usado pelos três bandos seja compartilhado, via aluguel de fuzis, escopetas e pistolas para dezenas de assaltantes.

Prisões no Estado e mortes no Maranhão

O núcleo gaúcho da PF já coíbe assaltos em geral. Em setembro, federais prenderam em Gravataí, na Região Metropolitana, 16 ladrões, entre eles Sérgio Rudinei Bauermann, o Da Nota, apontado como um dos responsáveis por assaltos à Caixa Econômica Federal, em Feliz, ao Banco do Brasil em São Francisco de Paula, Torres e Nova Bassano, ocorridos entre julho e setembro. Outro integrante do bando, preso depois, é Diego Moacir Jung, o Dieguinho, investigado pelo assalto a uma agência do Banco do Brasil em Parobé e outros cinco crimes contra instituições financeiras, incluindo o Bradesco, o Banrisul e o HSBC em Porto Alegre. Esses crimes tiveram uso de explosivos.

Em alguns casos, a federal jogou pesado. Em 2 de março de 2010, nove bandidos foram mortos pela PF durante assalto a banco no município de Santa Luzia do Paruá, interior do Maranhão. A quadrilha era monitorada e foi surpreendida ao ingressar, com armamento pesado, na agência local do Bradesco. Os bandidos foram mortos na troca de tiros.

Não foi o único episódio. Em novembro passado, operações simultâneas, feitas em conjunto pela PF, Polícia Civil e PM nos municípios de Marcelândia e Comodoro, em Mato Grosso, resultaram na morte de seis criminosos. Os policiais recuperaram cerca de R$ 1,2 milhão.


Ataques mobilizam polícias do RS e de SC

A visão de bandidos com capuz, armados com o que há de melhor na indústria bélica, dominando reféns e com maior poder de fogo que as polícias, tem apavorado as autoridades em todo o Brasil. Tanto que essa modalidade de crime, conhecida como Novo Cangaço, foi assunto dominante no encontro nacional de chefes de Inteligência policial, que congregou nos dias 13 e 14 em Brasília policiais civis de todos os 27 Estados.

De todos os tipos de assalto a banco, Novo Cangaço, que nasceu nos estados do Nordeste e de uns anos para cá migrou para o sul do país, é o mais temido. A tática é dominar pequenas comunidades e fazer o maior número possível de reféns. Em alguns casos, os bandidos cortam as comunicações telefônicas de toda a região, numa autêntica operação militar.

– Temos trocado informações, dossiês, fotos – resume o delegado Ranolfo Vieira Junior, chefe de Polícia do Rio Grande do Sul.

A cooperação é mais intensa entre os Estados do Sul, que registraram 504 ataques até outubro – ante 293 no mesmo período do ano passado. Um cálculo extraoficial é de que os bancos percam, em média, R$ 60 milhões anuais.

Como resultado da integração, em 22 de dezembro, o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Roubos, coordenou uma operação-conjunta com colegas catarinenses. Vinte e cinco agentes participaram da ação, que resultou na prisão de três foragidos. Os policiais prenderam Douglas Souza da Silva, 27 anos, Fábio Rode de Oliveira, 22 anos, e Denis Martins Fernandes, 32 anos. Com eles foram encontrados dois fuzis (modelos M-16 e AK-47), pistolas, centenas de projéteis, miguelitos, dois coletes à prova de bala, quatro toucas ninjas, roupas camufladas, 10 celulares, câmera fotográfica, luvas e até uma alavanca usada para quebrar os caixas eletrônicos.

O trio teria vínculo com Elisandro Falcão, foragido suspeito de lidera a maioria dos assaltos com uso de explosivos e com vítimas usadas como escudos humanos na Serra.

Em Santa Catarina, o bando de Falcão é suspeito de um assalto em Praia Grande em 2011, do ataque a um carro-forte em Dona Francisca (próximo a Joinville) em outubro passado e também do assalto em Sombrio.


NOVA ESTRATÉGIA | Humberto Trezzi

O desabafo do delegado


Com a entrada em campo da PF e ações integradas das polícias Civis, é chegada a hora de o Judiciário se agilizar na questão de assaltos a banco. Pelo menos é esta a opinião de um conceituado policial gaúcho, o delegado Guilherme Wondracek, diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

– Tenho inveja da polícia catarinense. Eles têm um Judiciário sempre a postos e conseguem resposta em 24 horas, não em duas ou três semanas, como tem ocorrido aqui no Rio Grande do Sul. Essa é a nossa mágoa – desabafa o policial.

A queixa dos policiais civis, às claras, é a mesma que policiais federais fazem a Zero Hora de forma mais discreta. As duas polícias sofrem com falta de agilidade dos juízes, quando se trata de apreciar pedidos de prisão, interceptação telefônica ou busca de provas. Hora de analisar: é compreensível que um magistrado tenha dúvidas sobre mandar prender ou não alguém. Ou antes de deixar que policiais revistem sua casa de alto a baixo. O problema é que, reconhecem os policiais, na maioria dos casos o juiz não tem dúvidas: ele tem é uma mesa repleta de trabalho e pouco tempo para analisar tanta papelada. O resultado é que muito pedido de urgência leva dias ou até semanas para ser apreciado.

Ora, criminoso escolado fica apenas alguns dias com um telefone, antes de trocá-lo. Está sempre mudando de casa. Remove também dinheiro e armas, que são indícios materiais. É por isso que um pedido de busca ou interceptação da polícia é sempre urgente. Precisam agir, antes que as provas sumam. No desespero, alguns policiais recorrem a magistrados amigos. Não deve ser assim. Já diz um ditado: Justiça tarda, mas não falha. Pois urge que tarde menos ou então a bandidagem continuará com motivos para celebrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário