Trabalho em dobro
Investigações paralelas fazem vítima esperar cerca de um ano por perícia. Estudante baleada no ano passado espera enquanto Polícia Civil e Brigada Militar buscam apurar o caso
Daniela de Almeida da Rosa foi baleada em meio a tiroteio entre policiais e bandidosFoto: Tadeu Vilani / Agencia RBS
Carlo Wagner
A estudante de Direito Daniela de Almeida da Rosa se considera vítima pela segunda vez. Na primeira, no entardecer do dia 10 de dezembro de 2011, ela ficou no meio do fogo cruzado entre uma patrulha do 1º Batalhão Polícia Militar (1º BPM) e uma dupla de assaltantes. Acabou sendo alvejada com um tiro que atravessou a mão esquerda e se alojou no abdômen.
O segundo caso está para completar um ano, e ainda não se sabe de quem era arma que disparou o tiro — uma informação que considera fundamental para dar andamento no processo que pretende abrir responsabilizando o Estado pelo episódio.
O caso está sendo investigado pela delegada Vandi Lemos Tatsch, da 5ª Delegacia de Polícia Civil, e pelo capitão Heraldo Leandro dos Santos, do 1ª BPM, por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). Todo o episódio durou alguns minutos, mas os danos emocionais causados persistem até hoje, lembrou Daniela.
Ela contou que depois de estudar toda a semana para as provas de final de ano, acompanhada pelo namorado, ela foi visitar o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, na Glória, bairro tradicional de Porto Alegre. O casal estava em um automóvel e, quando o carro se aproximou do santuário, foi atacado por um dupla armada.
— Eles mandaram sair do carro, e nós saímos. Minutos depois, os brigadianos chegaram e começou o tiroteio. Eu senti que havia sido atingida — descreveu Daniela.
Horas antes de atacar o casal, os bandidos haviam tentando assaltar uma outra pessoa na região, e estavam sendo perseguidos pela BM. A intenção deles era fugir do cerco dos brigadianos com o veículo do casal. Depois de tirotear com os policiais, eles fugiram a pé.
Daniela ficou um mês internada no hospital e se submeteu a várias cirurgias, que deixaram cicatrizes profundas na barriga e na mão esquerda. Três meses depois, um dos fugitivos, Édipo Filipe da Silva Hilário, foi preso por tráfico de drogas e reconhecido por ela como sendo um dos assaltantes.
Falta de sincronia atrasa perícia
A demora em estabelecer o autor do tiro deve ser creditada ao fato de que esse tipo de ocorrência geralmente é resolvida com duas investigações, uma da polícia civil e a outra da BM, que ocorrem sem haver uma sincronia entre elas. No dia 1ª de novembro, o Departamento de Criminalística (DC) entregou para a delegada Vandi o resultado da análise feito no projétil encontrado no corpo de Daniela. Foi uma bala .40, um calibre restrito às polícias.
— O segundo passo, agora, é pedir aos peritos que analise as armas dos policiais militares para saber se o projétil saiu de uma delas — comentou a delegada.
O projétil foi enviado ao DC em fevereiro. As duas armas dos policiais militares envolvidos no caso, em setembro. O responsável pelo IPM, o capitão Heraldo Santos, alegando ser a investigação sigilosa, apenas confirma o envio das armas para perícia, sem entrar em detalhes sobre o caso. Como por exemplo, se pediu que fosse examinado se o projétil extraído do corpo de Daniela saiu de uma das armas.
— Sem tentar isentar a nossa culpa, por motivos já conhecidos, no atraso das perícias, é comum neste tipo de investigação, que envolve a BM e a Civil, haver falta de sincronia entre os dois trabalhos — analisou Antonio Figini, diretor do DC.
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