ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

EM QUEM CONFIAR?


ZERO HORA 19/12/2012 - N° 17288

SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI

Onze investigações por dia

A suspeita de que policiais encarregados de guarnecer o bairro Chácara das Pedras praticaram assalto e até assassinato no mesmo bairro uma desconfiança endossada pela Justiça, que mandou prender os PMs é mesmo de estarrecer. Se o policial é bandido, em quem confiar, pensa o morador? Pois é...

Mas a resposta, por mais surpreendente que seja, é: confie na Polícia. Policial criminoso não significa instituição criminosa. Tanto que partiu da própria Brigada Militar a investigação inicial sobre envolvimento desses PMs em assaltos. Uma investigação ampliada e complementada agora pela Polícia Civil.

A primeira coisa que a comunidade precisa saber é que a unidade em que trabalham esses dois PMs presos por crimes, o 11º Batalhão de Polícia Militar, não é um quartel onde todos assaltam, andam em carro roubado e até matam. Pelo contrário. Em 26 de outubro, policiais desse batalhão trocaram tiros e prenderam quatro ladrões suspeitos de roubar 20 veículos na zona norte de Porto Alegre. Na última quarta-feira, PMs do mesmo batalhão prenderam quatro suspeitos de assaltos a postos de combustíveis. Em fevereiro, soldados do Pelotão de Operações Especiais do 11º BPM prenderam um dos assaltantes de banco mais procurados do Estado, Márcio Vargas, o Papa-Léguas. O bandido ofereceu aos policiais R$ 10 mil e uma pistola, em troca de ser libertado. Continuou preso.

Por que mencionar tudo isso? Ora, para lembrar que o 11º BPM, conhecido como Pé-de-Poeira, é um batalhão ativo contra o crime. Mas, por vezes, alguns de seus integrantes ficam sob suspeita.

Os números corroboram a afirmação do coronel. Em 2012 foram abertas 11 investigações por dia na BM, todas para verificar problemas envolvendo policiais. A maioria, 2.642, foi de sindicâncias, quase todas transgressões disciplinares – coisas como atraso no serviço, bico (trabalho extra, proibido pelo regulamento da Brigada), desacato ao superior. Outras 1.394 foram Inquéritos Policiais-Militares (IPMs), para checar possíveis crimes cometidos pelos fardados. Algumas sindicâncias também investigam crimes comuns. No ano passado, a média foi ainda maior: 12 investigações abertas por dia.

Ou seja, não é normal policial envolvido em assalto, mas tampouco chega a ser surpreendente. As investigações tocadas pela corregedoria envolvem de tudo um pouco: suspeita de tráfico, roubo, extorsão, lesões, tortura e ameaça. E até uma, no próprio 11º BPM, na qual 19 policiais são suspeitos de fazer segurança para casas de jogo clandestino.

A maioria das investigações é feita no próprio batalhão. Casos graves, porém, são investigados pela corregedoria. São 59 pessoas que trabalham nessa repartição central, fora o pessoal que atua no serviço reservado em cada batalhão.


ENTREVISTA. “Eu não podia afastá-los sem motivo concreto”

Tenente-coronel Alberi Barbosa, chefe dos PMs presos



O comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Alberi Barbosa, passou o dia de ontem dando entrevistas. Tinha pouco a dizer sobre a prisão de dois soldados da sua unidade, já que a investigação foi conduzida pela Corregedoria-geral da BM. Alberi se diz “chateado” com o episódio, já que o batalhão é conhecido também pela ação enérgica contra assaltantes na Zona Norte. Confira entrevista que ele concedeu a Zero Hora após a prisão dos subordinados:

Zero Hora – O que o cidadão dos bairros guarnecidos pelo 11º BPM pode pensar se soldados do batalhão são suspeitos de envolvimento em assaltos e até numa morte?

Tenente-coronel Alberi Barbosa – Olha, não posso dizer o que outros cidadãos vão pensar. Eu, no caso, estou bem chateado com o que aconteceu. Mas garanto que toda e qualquer denúncia que nos chega é investigada. Por nós ou pela corregedoria. Esse sumiço de uma pistola (a primeira suspeita contra os PMs presos) foi investigado pela corregedoria.

ZH – São corriqueiras denúncias de policiais envolvidos em tantos crimes como estes? Se eles eram suspeitos de tanta coisa, por que estavam nas ruas e não afastados?

Tenente-coronel Alberi – Normal, claro que não é. Eles estavam trabalhando nas ruas porque toda pessoa é inocente, até que se prove sua culpa. Não poderiam ser afastados sem um motivo concreto. Como a investigação foi tocada pela corregedoria, eu nem tinha motivo para afastá-los. Desde que estou no batalhão eles não tinham sido afastados.

ZH – Como o batalhão recebe uma notícia dessas?

Alberi – Ninguém gosta. Pode ficar certo, somos os primeiros a sugerir expulsão de quem usa a farda para cometer crime. Mas não podemos nos precipitar, temos de seguir ritos formais e legais.



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