ATAQUE AO PAÇO. Prefeitura e BM divergem sobre ação após protesto
Prefeito em exercício e comandante discordam sobre quem deveria ter feito contenção a pichações
THIAGO TIEZE
As marcas de “2,60” que desde a noite de terça-feira fazem parte da fachada do prédio da prefeitura da Capital viraram motivo de desentendimento entre quem atuava na segurança de mais um protesto pela redução da tarifa de ônibus. Após dezenas de pessoas pularem as cordas que deveriam dificultar o acesso à porta principal, nem Brigada Militar nem Guarda Municipal agiram para evitar novas pichações.
O prefeito em exercício, Sebastião Melo, e o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar, major André Luiz Córdova, que comandou os policiais na terça, divergem quanto a quem caberia conter a ação (leia ao lado).
Tanto Melo quanto a assessoria da Guarda Municipal disseram que a orientação nesses casos é evitar o confronto com os manifestantes. No entanto, Córdova garante que a atuação da BM ocorreu dentro da lei e que há um protocolo firmado com a prefeitura, pelo qual a Guarda Municipal é responsável pela defesa de todos os prédios do município.
Enquanto a ação, ou a falta dela, é debatida entre as instituições, um outro caso resultante de protestos pela redução da tarifa de ônibus avança para conclusões. A Polícia Civil deverá indiciar pelo menos cinco pessoas pelo ato de depredação do prédio da prefeitura em 27 de março, quando a fachada foi pichada e janelas foram quebradas por um grupo de manifestantes. O inquérito policial será encaminhado à Justiça.
– Os indiciados responderão por dano qualificado ao patrimônio público e lesão corporal, mas não posso dar nomes para não atrapalhar a investigação – afirma o delegado Hilton Muller, da 17ª Delegacia da Polícia Civil.
No caso da última terça, segundo Melo, o chefe de Segurança do Paço Municipal, Paulo Rogoski, registrou ocorrência da outra pichação no mesmo dia. Ontem, o delegado Muller instaurou um novo inquérito policial para apurar os danos provocados na porta da prefeitura, tombada como patrimônio cultural. Muller não descarta que alguns dos que serão indiciados pelo ato de março tenham participado da manifestação desta semana.
Devido à pichação no pórtico de entrada, que data de 1901, ano da inauguração do prédio, a prefeitura deve gastar entre R$ 15 mil e R$ 20 mil em reparos. O valor será somado aos R$ 30 mil orçados para reparação dos danos provocados em março.
ENTREVISTAS. “Não é função da Guarda enfrentar manifestantes”
Sebastião Melo Prefeito em exercício da Capital
Zero Hora – Como a prefeitura encara a manifestação de terça?
Sebastião Melo – Acho absolutamente legítimo que os jovens protestem contra o aumento das passagens, mesmo porque o valor é alto. Estamos trabalhando para baixar a tarifa, mas isso não se resolve da noite para o dia. Antes de agredir o prefeito e o governo, esses jovens estão agredindo a cidade.
ZH – Por que nem a Guarda Municipal nem a BM agiram?
Melo – Só podemos responder pela Guarda Municipal. Nossa orientação é que, em nome da paz, até pelo que ocorreu anteriormente, a guarda entre para o prédio, feche as portas e não faça nenhum enfrentamento. Imagina se no enfrentamento com a guarda um dos manifestantes termina ferido em frente ao Paço? Quem tem característica para lidar com esse tipo de situção é a BM. A Brigada tem preparo e pelotões para isso. É ela que tem que agir.
ZH – Qual a função da Guarda Municipal, então?
Melo – Uma das funções é proteger o patrimônio público, mas não é função da guarda enfrentar manifestantes. Essa é função da Brigada. Tem de se separar o joio do trigo.
ZH – Vocês esperavam que a Brigada agisse?
Melo – Não me manifesto sobre isso. A BM tem vida própria. Temos muito respeito pela Brigada.
ENTREVISTAS - “Não sabia que era para a Guarda correr”
Major André Luiz Córdova Comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar
Zero Hora – Por que a Brigada não interveio quando alguns manifestantes picharam a prefeitura?
Major André Luiz Córdova – Temos um hábito, um protocolo de ação com a prefeitura, em que por dever constitucional e legal, a Guarda Municipal faz a defesa de todos os órgãos do município. Quando se sentem coagidos, imediatamente nos pedem auxílio.
ZH – Ajuda no acompanhamento?
Major Córdova – Não, em força. Afinal, eles (a Guarda) já confrontaram várias vezes com o movimento, que é truculento e arbitrário. O grupo já tinha encerrado o evento e foi em direção ao Paço. Enquanto a pichação acontecia, recebi ligação da prefeitura pedindo apoio. Bom, mas não havia defesa. A pichação já estava concluída. Entrar com grupo armado para evitar algo que já tinha acontecido geraria conflito. Existe uma imagem muito clara que identifica os participantes, que será encaminhada à Polícia Civil.
ZH – Para a BM, a ação foi dentro do combinado com a prefeitura?
Major Córdova – Não. Não teve essa combinação de que o prefeito em exercício havia orientado. Não sabia que era para a Guarda Municipal correr para dentro do prédio.
ZH – Se a Brigada soubesse, teria tido outra postura?
Major Córdova – Com certeza. Pesquisa que você vai ver todos os outros confrontos.
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