CONFRONTO NO RIO. Polícia admite que três mortos eram inocentes. Corregedoria da PM vai investigar ação do Bope no Complexo da Maré
Um dia depois de uma série de confrontos entre policiais e traficantes deixar 10 mortos no Complexo da Maré, zona norte do Rio, a polícia admitiu que ao menos três vítimas eram inocentes. Ontem, a Corregedoria Interna da Polícia Militar instaurou um inquérito para apurar se houve excesso na ação dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Outra investigação está a cargo da Divisão de Homicídios da Polícia Civil.
Agentes da tropa de elite da PM entraram na favela na noite de segunda-feira, após um arrastão ocorrido na Avenida Brasil, e foram recebidos a tiros por traficantes. A primeira vítima foi um sargento da corporação. Moradores acusam a PM de ter agido com truculência após a morte do agente do Bope.
Beltrame defende apuração de denúncias
Ontem, a Polícia Civil divulgou a identificação das vítimas. Duas delas não tinham antecedentes criminais: o garçom Eraldo dos Santos da Silva, 35 anos, e o engraxate Jonatha Farias da Silva, 16 anos. Seis dos mortos, entre eles um adolescente de 16 anos, tinham passagens pela polícia por crimes como tráfico, homicídio, roubo, lesão corporal e porte ilegal de arma.
Em entrevista a uma rádio, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, defendeu a apuração das denúncias de possíveis excessos durante a ação. Ao mesmo tempo, disse que a morte do sargento do Bope também deve ser investigada.
Moradores do Complexo e organizações não governamentais (ONGs) estiveram reunidos ontem com o coronel Hugo Freire, chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar. A comunidade acusa policiais militares de terem executado a facadas três moradores dentro de suas casas. Conforme a perícia, nove corpos não apresentavam ferimentos por faca.
– Esse encontro foi a forma de estabelecer diálogo dos moradores com a polícia sobre supostos exageros na operação – disse Eliana Sousa Silva, diretora da ONG Redes da Maré.
Comissão da Verdade critica operação
Moradores da Maré contrários às últimas ações da Polícia Militar no conjunto de favelas protestaram ontem em frente à Secretaria de Segurança Pública do Rio. A manifestação foi pacífica. Eles ainda decidiram realizar, na próxima terça, um ato público na rua principal da favela em homenagem às vítimas da ação policial.
A Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) criticou o trabalho da PM na operação no Complexo. Em nota assinada por Wadih Damous, presidente da Comissão, a CEV-Rio classifica de “intolerável” o comportamento dos policiais militares.
“Toda a população local foi submetida a um verdadeiro estado de sítio, proibida de deixar suas casas, e a polícia matou pelo menos nove pessoas. Esperamos que o governador Sérgio Cabral tome as providências que a seriedade da situação exige”, diz a nota.
O Complexo da Maré deverá receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em breve. Segundo moradores, em reunião com a PM há cerca de duas semanas, teria sido informado que o conjunto de favelas começará a ser ocupado em agosto, logo depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada entre os dias 23 e 28 de julho.
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