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sexta-feira, 14 de junho de 2013

HADADD: "PROTOCOLOS" NÃO FORAM OBSERVADOS

G1 14/06/2013 11h25

'Parece que protocolos não foram observados', diz Haddad sobre polícia. Manifestação contra tarifas terminou em confrontos nesta quinta-feira (13). Prefeito disse em entrevista que ocorrido 'não ficou bem para a polícia'.

Do G1 São Paulo




O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), voltou a comentar na manhã desta sexta-feira (14) sobre a manifestação contra as tarifas do transporte público na capital paulista, que terminou em confronto com a Polícia Militar e mais de 200 detidos nesta quinta-feira (13). Ele disse que, pelas imagens veiculadas pela imprensa e pelos relatos que ouviu, os policiais deixaram de “observar os protocolos”.

“A polícia segue protocolos. Quando o protocolo é obedecido, as coisas caminham bem. No dia de ontem, segundo as imagens e os relatos, parece que esses protocolos não foram observados, razão pela qual a Secretaria da Segurança determinou a investigação”, afirmou Haddad em entrevista à GloboNews. “Evidentemente que estamos todos impactados com as imagens do dia de ontem”, disse também o prefeito.

Ele também disse que "não ficou bem para a polícia". "Eu penso que tem havido excessos. Na terça-feira, infelizmente tivemos 80 ônibus depredados, policiais que foram agredidos. Ontem também não ficou bem para a polícia, o secretário [Fernando] Grella abriu um inquérito para investigar os eventuais abusos. Isso não é uma questão da corporação, mas há indivíduos que precisam ser investigados em sua conduta."

Durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o prefeito já havia comentado sobre a atuação da polícia. “Na terça-feira, a imagem que ficou foi a da violência dos manifestantes. Infelizmente, hoje não resta dúvida de que a imagem que ficou foi a de violência policial, razão pela qual entendo que o secretário Grella, ao abrir inquérito para apuração rigorosa dos fatos, agiu corretamente”, disse o prefeito.

Haddad reiterou nesta sexta que não pretende voltar atrás no reajuste. “A Prefeitura não pode se submeter ao jogo de tudo ou nada. Ou é do jeito que eles querem ou não tem conversa”, afirmou. No quarto dia de protestos, mais de 200 pessoas foram detidas. Manifestantes e jornalistas ficaram feridos. Um forte sistema policial impediu que o protesto chegasse à Avenida Paulista. Houve confrontos na região da Rua da Consolação.
Quando há violência por parte dos manifestantes, como foi o caso do policial agredido, a população repudiou. Quando há abuso policial, também a população repudia"

Fernando Haddad

O prefeito lembrou que na manifestação de terça-feira (11) foram divulgadas cenas de policiais sendo agredidos. “Eu acredito que São Paulo convive muito bem com a democracia pacífica, com manifestações, protestos e contestações, mas não convive bem com a violência. Então quando há violência por parte dos manifestantes, como foi o caso do policial agredido, a população repudiou. Quando há abuso policial, também a população repudia”, disse em entrevista ao Bom Dia Brasil.

Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, a PM diz que atuou para garantir o direito de livre manifestação. "A Polícia Militar atuou dentro dos preceitos constitucionais para garantir o direito de livre manifestação, contudo é seu dever assegurar os direitos de toda a população, incluindo-se o direito de ir e vir. É totalmente descabida qualquer declaração de que a PM tenha agido com o intuito de insuflar a violência", informou a corporação.

Aumento da tarifa

Haddad voltou a falar sobre o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 nas passagens dos ônibus. “A Prefeitura fez um esforço enorme para que aumento fosse o menor possível”, declarou. Ele afirmou que a nova tarifa dos ônibus, com reajuste abaixo da inflação, exige o deslocamento de investimento de R$ 600 milhões de outras áreas. Caso fosse aplicado o reajuste da inflação acumulada no período pelo IPC/Fipe, o novo valor seria de R$ 3,40. De acordo com o prefeito, esse foi o menor reajuste dos últimos dez anos.

"Há um longo trajeto para melhorar o transporte. Isso vai se fazer em uma mesa de negociação com diálogo, com esclarecimento, com a verdade dos fatos, e não iludindo a respeito da possibilidade de zerar a tarifa e ninguém pagar mais o ônibus, como se isso fosse possível do dia para a noite, envolvendo R$ 6 bilhões de investimento", declarou.

Segundo Haddad, a Prefeitura tem costume de negociar com manifestantes. No primeiro protesto do grupo, ocorrido em frente à Prefeitura, a administração municipal estava disposta a receber a comissão de negociação. “Nós tínhamos uma comissão na porta da Prefeitura, esperando a constituição de uma comissão de negociação, que não foi formada, e os manifestantes se recusaram a entrar na Prefeitura para estabelecer diálogo. Acho que a postura deles talvez venha mudando e eles precisam de esclarecimentos”, disse.

O prefeito afirmou ainda que, diferentemente do que é divulgado pelos manifestantes, os cobradores e motorista receberam aumento superior ao que foi repassado para a nova tarifa.

Protesto

A manifestação começou por volta das 17h em frente ao Theatro Municipal, no Centro de São Paulo. Enquanto lojistas fechavam as portas para evitar depredação, a Polícia Militar prendia dezenas para averiguação.

Segundo a PM, foram apreendidos coquetéis molotov, facas e maconha. De acordo com a delegada Vitória Lobo Guimarães, at é o início da madrugada, 198 pessoas haviam sido detidas e encaminhadas ao 78º DP, nos Jardins. Todos foram liberados. Quatro vão responder termo circunstanciado; três deles por porte de entorpecentes e um por resistência à prisão. Outras cinco pessoas foram levadas para o 1º DP.

O ato ocupou a Rua Xavier de Toledo, o Viaduto do Chá e seguiu pela Avenida Ipiranga. Ao menos duas pessoas foram presas na esquina das avenidas Ipiranga e São Luís por causa da depredação e pichação de um ônibus.

Os manifestantes, cerca de 5.000 segundo a PM, usavam máscaras e narizes de palhaço. “Não aguentamos mais sermos explorados”, dizia uma das faixas.

A Cavalaria da PM uniu-se ao Choque na Rua Maria Antônia, onde começaram os confrontos. A Universidade Mackenzie, que fica na esquina, fechou as portas.

Segundo o major da PM Lídio, o acordo era para que os manifestantes não subissem em direção à avenida Paulista, o que não foi cumprido. “Se não é para cumprir acordo, aguentem os resultados”, disse.



Os manifestantes tentaram subir a Rua da Consolação, por volta das 19h15, e houve dispersão. Parte seguiu até a Avenida Paulista, que voltou a ser interditada por volta das 21h30. Uma parte do grupo fez barricada uma com objetos queimados na Rua Fernando de Albuquerque. A polícia avançou com balas de borracha e gás lacrimogêneo sobre os manifestantes, que revidaram jogando pedras e garrafas em direção aos PMs.

O jornal 'Folha de S.Paulo' diz que teve 7 repórteres atingidos no protesto, entre eles Giuliana Vallone e Fábio Braga, que levaram tiros de bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi atingido com spray de pimenta no rosto por um policial.

Policial prende homem em local próximo da
concentração da manifestação em SP
(Foto: Gabriela Biló/Futura Press)

Um jornalista da revista 'Carta Capital' e um fotógrafo do portal 'Terra' foram levados para o 78º DP, nos Jardins, na Zona Sul da cidade, mas foram liberados por volta das 19h30. Outros detidos relataram ao G1 terem sido levados à delegacia por portarem vinagre e spray.

A Anistia Internacional mostrou “preocupação com o aumento da violência na repressão aos protestos contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo”. “Também é preocupante o discurso das autoridades sinalizando uma radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes, em alguns casos enquadrados no crime de formação de quadrilha”, disse em nota.

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