ZERO HORA 10/11/2012 | 07h56
Assassinato de policial
militar custa R$ 600 na maior cidade do país. Investigações apontam que
grande parte das mortes é encomenda do Primeiro Comando da Capital (PCC)
90 PMs, três agentes penitenciários e dois policiais civis foram mortos neste ano no Estado Foto: Diego Vara / Agencia RBS
Humberto Trezzi | São Paulo
Policiais
paulistas estão sendo assassinados por quantias ínfimas. Meros R$ 600
ou R$ 850, devidos por alguma quadrilha ao Primeiro Comando da Capital
(PCC), a maior facção criminal dos presídios brasileiros. Isso não é
teoria, mas realidade, comprovada em investigações.
A
possibilidade de que dívidas na compra de drogas ou armas sejam
anistiadas pela facção, mediante o assassinato de policiais, foi
flagrada por promotores de Justiça do Grupo Atuação Especial de Combate
ao Crime Organizado (Gaeco).
Em telefonemas desde uma
penitenciária do oeste daquele Estado, grampeado pelo Ministério
Público, bandidos lembram a quadrilheiros a necessidade de pagar a
mensalidade do Partido do Crime (como é chamado o PCC). Uma das formas,
para os que estão na rua, é matar policiais.
É por
isso que drogados em dívida podem estar por trás da onda de assassinatos
que já ceifou a vida de 90 PMs, três agentes penitenciários e dois
policiais civis este ano. Grande parte das mortes é encomenda do PCC,
apontam investigações.
Um dos que ordenaram a morte de
seis policiais militares é Roberto Soriano, o Betinho Tiriça, que
passou a outros presidiários bilhetes encomendando o assassinato de
integrantes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de
elite da PM paulista.
Tiriça, que está trancafiado em
cela isolada em Presidente Bernardes, em presídio a mais de 600
quilômetros da capital paulista, quer vingança por duas matanças
cometidas por policiais da Rota este ano. A primeira, em agosto, quando
seis assaltantes foram metralhados ao tentarem explodir
caixas-eletrônicos em um supermercado. A outra, em setembro, quando a
tropa de elite matou nove criminosos que se preparavam para "julgar" um
suspeito de estupro, em Várzea Paulista (Grande São Paulo).
A
grande prova material contra os atentados praticados pelo PCC veio em
30 de outubro, quando a PM localizou o que chamou de "central de
espionagem" do Partido do Crime em Paraisópolis, uma das maiores favelas
paulistanas. Foi localizada uma mala com anotações feitas pelo bando de
Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, um dos líderes do PCC. Ela
estava recheada com cadernos nos quais havia nomes, endereços e hábitos
de policiais civis e militares.
Ficou comprovado,
pelos manuscritos, que os policiais eram seguidos por criminosos, que
sabiam o percurso dos agentes e até seus hábitos, como jogo de futebol e
sinuca. A motivação para os assassinatos é diversificada. Alguns
policiais seriam eliminados por atrapalhar, no serviço, ações do PCC.
Outros, por estarem envolvidos na morte de integrantes da facção. E,
conforme investigações, alguns por cobrarem suborno em área controlada
pelo Partido do Crime. Um quarto grupo é composto de policiais de rua,
que seriam eliminados por serem alvos fáceis e como retaliação,
aleatória, contra outros agentes que prejudicaram o PCC.
A
apreensão da lista só aconteceu porque a comunidade foi tomada pelos
policiais militares, num cerco denominado Operação Saturação. Ela ocorre
em quatro regiões da periferia da Capital e Grande São Paulo.
Numa
tentativa de neutralizar as ameaças, o governo estadual e o governo
federal combinaram o isolamento de Piauí. Ele foi transferido de Avaré
(SP) para a Penitenciária Federal de Porto Velho (Rondônia).
ENTREVISTA: Sargento jurado de morte pelo PCC
Sargento
com 36 anos de serviço, Schmidt (foto, no detalhe) é um dos 40
policiais militares jurados de morte pelo PCC. Sua rotina estava
descrita em minúcias nos manuscritos apreendidos num QG da facção, na
favela de Paraisópolis. Acompanhe entrevista exclusiva a ZH:
Zero Hora — Como o senhor recebeu a notícia de que está marcado para morrer?
Sargento
Schmidt – Cara... nunca fui de ter medo. Convivi no meu bairro com os
"malas" (assaltantes), eles na deles, eu na minha. Agora, os noias
(viciados) que devem para o Partido (PCC) devem ter entregue minha
rotina. Alguma dívida, que tem de ser paga com sangue. Meu sangue, veja
só. Logo eu, que ando na linha. Tem muito policial sem-vergonha, mas eu
não sou. Nunca me corrompi. Vou pagar? É injusto.
ZH — O que mudou na sua rotina?
Schmidt
– Tudo. Ando com escolta permanente, não uso farda — eu era do
policiamento de rua —, a arma disfarçada nas costas. Minha mulher, filha
e neta se mudaram para fora da cidade. A gente vivia numa casa avaliada
em R$ 250 mil. Quero vender, mas agora se espalhou que estou precisando
e aí não oferecem nem R$ 100 mil. Tá difícil, cara (o sargento começa a
chorar, esconde o rosto com as mãos).
ZH — O seu irmão, que está aqui, também é PM. O que vocês farão?
Schmidt – Ele era PM, agora tá no comércio. Eu dependo de ajuda do comando.
Irmão de Schmidt – Ele, não sei, porque o comando vai ajudar. Eu vou sair fora da cidade. Esperar que me achem?
ZERO HORA
A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
sábado, 10 de novembro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário