ZERO HORA 19/05/2014 | 05h01
por Humberto Trezzi
BM ainda não tem resposta sobre viaturas queimadas em Porto Alegre. Brigada Militar abriu investigação, ouviu dezenas de pessoas, examinou vários vídeos e continua sem saber quem incendiou 10 picapes no estacionamento da Academia de Polícia
Veículos novos que foram incendiados seriam usados para patrulhar fronteira com o Uruguai e a ArgentinaFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Quase 200 policiais investigados. Vários vídeos de câmeras de segurança examinados. Mais de 40 pessoas ouvidas. Mas, passados quase três meses, a Brigada Militar segue sem saber quem são os autores do incêndio de 10 viaturas da corporação, em 24 de fevereiro.
O atentado ocorreu na sede da Academia de Polícia Militar, em Porto Alegre, e incendiou 10 picapes Nissan Frontier, zero-quilômetro, que seriam designadas para patrulhamento na fronteira com Uruguai e Argentina.
Dos veículos queimados, seis tiveram perda total, e o restante sofreu danos. O pátio era usado para abrigar outras 196 caminhonetes, que, após o episódio, tiveram sua distribuição acelerada para várias unidades da Brigada Militar.
Quem ateou fogo aos veículos sabia da localização deles e da fragilidade na vigilância do local, acreditam os investigadores da BM, que abriu um inquérito policial-militar para esclarecer o caso.
Um aluno-oficial da BM fazia vigilância em uma guarita principal, mas a Academia é vulnerável por se tratar de terreno cheio de árvores, com muros não muito altos, o que pode facilitar invasões. Faziam curso, no mês do atentado, 194 candidatos a oficial da BM. Desses, pelo menos 15 estavam no local na noite do incêndio. Não foi encontrada relação deles com o crime.
A Corregedoria investigou a informação de que três homens de boné e trajes civis teriam pulado o muro, usando antes uma mulher bonita para distrair a guarda.
– Nada foi confirmado, embora a hipótese não esteja afastada – diz o coronel Alfeu Freitas Moreira, chefe do Estado Maior da BM.
Mesmo sem autoria conhecida, é dado como certo na cúpula da corporação que alguém será indiciado, nem que seja por negligência. Outro caso similar, o incêndio de dois veículos da BM, em julho de 2013, no pátio da Secretaria da Segurança Pública – próximo à Estação Rodoviária da Capital –, ainda permanece não esclarecido.
196 viaturas que estavam no pátio e não sofreram danos com o incêndio tiveram a distribuição acelerada para outras unidades.
Principais hipóteses
Quem ateou fogo sabia da localização e da vigilância frágil, acredita a BM
Fogo amigo
Alguém da própria BM teria ateado fogo aos veículos ou facilitado o ingresso do incendiário. Por qual motivo? As cogitações são variadas.
PMs incendiários fazem parte da história recente da corporação. Durante atos pró-melhoria de salário, manifestantes mais exaltados atearam fogo a pneus colocados como barreiras nas estradas gaúchas.
A Corregedoria da Polícia, porém, não consegue identificar sindicalistas ou grevistas entre os possíveis autores do atentado de 24 de fevereiro – até porque não há campanha salarial em andamento.
Hostilidade à polícia
A Corregedoria da Polícia, porém, não consegue identificar sindicalistas ou grevistas entre os possíveis autores do atentado de 24 de fevereiro – até porque não há campanha salarial em andamento.
Hostilidade à polícia
O atentado poderia também ter sido praticado por algum manifestante hostil à polícia. Há precedentes: nos protestos contra aumento de passagens de ônibus e gastos com a Copa registrados ano passado, ônibus foram incendiados pelos black bloc e viaturas, depredadas.
Em fevereiro, porém, essas manifestações tinham perdido força. Os investigadores acham pouco provável que pessoas estranhas conseguissem ingressar no pátio da Academia e atear fogo a caminhonetes situadas no meio de uma frota de veículos, como ocorreu.
Inimigo interno
Uma das linhas mais fortes é de que PMs investigados por crimes possam ter se vingado das chefias.
É o caso de dois grupos de policiais envolvidos em assassinatos. Um deles, o "pelotão da morte", atuava em Alvorada e ficou preso no presídio para PMs, na Academia de Polícia. São suspeitos de atuar, pagos por comerciantes, no extermínio de ladrões. Estão soltos.
Outro grupo é de três PMs que atearam fogo a mendigos suspeitos de furto. Todos estavam foragidos na época, no entanto, nenhum estava no presídio ou na Academia.
Por que o fogo foi criminoso?
Uma série de constatações levou a Brigada Militar a descartar um incêndio acidental no pátio da Academia. Após analisarem o local em que as viaturas estavam, peritos concluíram que o fogo não foi causado por um artefato lançado desde a rua (um coquetel molotov, por exemplo). Ele irrompeu dentro do veículo – ou foi ateado. Provavelmente começou na parte dos bancos, no estofamento, e dali se propagou.
Há probabilidade de que alguém tenha aberto a porta de uma picape e colocado fogo, já que os vidros do veículo-foco (onde o fogo começou) estavam abertos.
Outra picape estava com a tampa do reservatório de combustível aberta, um dispositivo que só é ativado por dentro, com chave. Há probabilidade de que alguém tivesse uma chave para abrir a caminhonete – neste caso, mais um indício de que seria alguém com acesso interno à Academia. Outra hipótese, mais remota, é de que alguém tenha esquecido a tampa do tanque aberta.
A possibilidade de que o combustível de uma das caminhonetes tenha sido aspirado e usado para tocar fogo em outra é considerada difícil, já que os veículos são movidos a diesel, menos inflamável do que gasolina. Do veículo-foco, as labaredas se espalharam para outros carros. A palha seca acumulada embaixo das caminhonetes ajudou na propagação.
Relembre o caso com galeria de fotos:
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