ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 14 de outubro de 2012

WILLIAN QUER SER DO BEM







Correio do Povo, página de Polícia, 14 de Outubro de 2012 09:39

Oscar Bessi Filho


“Não quero ter traficante como referência”. Maravilha! Foi a frase da semana. Willian de Andrade, 13 anos, justificou desta maneira, simples, direta e verdadeira, ao repórter Wagner Machado o porquê quer ser PM. Dioney Paza, 8 anos, também quer. E tropa de elite. Ambos visitaram o quartel da Brigada Militar de Cachoeirinha, na Semana da Criança, guiados pelo sargento Everton Avancini, o grande maestro do Proerd local. Que também é tropa de elite. Em todos os sentidos. Pois ter coragem para enfrentar esta guerra cotidiana não consiste em apenas vencer o inimigo, a droga, as violências todas. Consiste em renunciar à própria vida, ao descanso e ao conforto de deixar tudo como está porque não é culpa sua, para trazer para o lado de cá os maiores alvos disto tudo: as crianças.

Sempre que penso em crianças e referências, lembro uma ocorrência de arrombamento que atendi, há não muito tempo. Pegamos o adolescente dentro da casa de um idoso, fazendo uma limpa. Enquanto pedi que uma viatura o levasse à delegacia, fui localizar seus pais. A cena que encontrei, às duas da manhã, foi bizarra: um sujeito bêbado, num barraco sem chão, sem luz, sem esgoto, sem coisa nenhuma além de sujeira, dançando agarrado numa garrafa de cachaça e gritando. Tentei conversar, ele só disse que o guri não era dele, era padrasto, e a mãe do garoto estava lá no boteco bebendo enquanto ele cuidava daquela praga ali. Bem assim. Daquela praga ali. Palavras dele. E, mal acabou de falar, chutou algo no escuro. Que pensamos ser um cachorro, ou gato, sei lá. Não. Era uma criança engatinhando.

O que vai ser deste pequeno ser? Alguém criado desta forma sequer desconfia do que possa significar carinho ou respeito humano. E, quando encontramos assassinos banais, que matam para levar meia dúzia de trocados, não é preciso se surpreender. Nem sonhar muito com sua recuperação. Há valores que ele não vai alcançar. Alguém me perguntou dia desses, durante o atendimento de um assalto, naquela filosofia popular e simples, tão ignorante quanto sábia, como pode nosso país estar cada vez mais violento se o governo dá quase tudo de mão beijada. Ah. Talvez resida aí um dos maiores equívocos. Propositais ou não. O problema é complexo. A única certeza é que a receita não deu certo, está cada vez mais complicada e é preciso coragem para resolver.

E a coragem é investir em educação e enfrentar suas consequências. Como a perda das rédeas sobre o pensamento humano que, livre, fortalecido, transforma mundos. Willian quer ser do bem, Willian não quer traficantes como referência. Mas a maioria ao seu redor é induzida a agir e pensar ao contrário.

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