ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

domingo, 21 de outubro de 2012

A BOMBA

Correio do Povo, 21/10/12

Oscar Bessi Filho

Aconteceu em Tapirossoca. Operação policial daquelas. Altamente secreta. Quer dizer. Secreta, assim, sigiloooosa totalmente, ultra, tchananan, não. Isto é impossível. Que para poder provar que bandido é bandido e que ele tange, ferra, explode e mata, tem que ter burocracia. Aham. Para conseguir escuta telefônica, para filmar tráfico rolando, para entrar na casa cheia de drogas ou armas, para tirar criança de estuprador, para tudo. E tudo para. Esperando. Pedidos, protocolos, assinaturas, carimbos, despachos e envios. Pra lá e pra cá. Ou tudo pode ser considerado ilegal e desconsiderado sumariamente, pois ninguém é obrigado a produzir provas contra si. Coisas da democracia. Inevitável. Ou não? Para que o bem não sofra abusos, o mal se protege. Fazer o quê. O homem é o lobo do homem. Eis a focinheira.

Voltemos a Tapirossoca. Madrugada. Dezenas de policiais vêm de longe e recebem as instruções dos chefes. Todo cuidado é pouco. O alvo, depois de meses de estudos e noites em claros interceptando telefonemas, é Bambambam Didão e sua trupe. Uma quadrilha violenta de assaltos a banco. Ele é o Bambambam, repetem. Tem armas pesadas e atira pra matar. Assassino profissional. Cuidem-se, por suas famílias, pelos colegas. Vamos fazer valer todo este trabalho perfeito de investigação e prender o bando sem incidentes. Será o fim de boa parte dos assaltos a banco mais violentos. Os policiais vibram. E vão. Correm. Atravessam matos, pulam cercas, pulam muros, driblam cães de guarda, viram cambalhotas. Até que, na varanda da casa do suspeito, um casal de idosos os recebe sorrindo, em suas cadeiras de balanço.

- Buenas! Até pensei que não vinham mais! Puxem o banco.
- Como assim? O senhor sabia que nós viríamos?
- Nosso guri sabia. O Bambambam. Vai um mate?
- O quê?! Como ele sabia?
- Disse que viu no Google.
- Não foi no Facebook? – interrompe a velha, ao lado, pegando a cuia.
- Sei lá. Foi na internet. Não conheço muito bem esses amigos de computador do piá. Aí pensei: vamos esperar os hômi com um amargo, que não temos nada contra a polícia. O guri é que faz das dele, mas aquele ali não se apruma mais nem com tunda de relho.
- Meu Deus! O senhor tem certeza disto?
- Tô dizendo. Só não sei para onde ele foi. Fugiu com uma advogada maluca. Nunca vi criatura igual, foi contratada para defender o guri e os amigos dele quando são presos, mas acho que ganha mais avisando pra fugir da polícia. O que vou dizer?
- E tem alguma coisa dele aí na sua casa?
- Tem. A bomba.
- Bomba?
- Aqui, ó. No chimarrão. Ele que me deu. E então? O senhor aceita num amargo?

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