Mulher espera mais de cinco horas para registrar roubo sofrido em ônibus na Lagoa. Ela foi levada com o ladrão, preso, a tiracolo à 15ª DP (Gávea) por PMs. De lá, o comboio seguiu para a 14ª DP (Leblon), e retornou à delegacia de Gávea, onde o registro foi enfim feito
Emanuel Alencar - O GLOBO 4/10/12 - 9h17
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A dona de casa Claudeni Alves aguarda para ser atendida na delegacia da Gávea: registro só foi feito cinco horas depois Marcelo Carnaval / O Globo
RIO - Abordada por um criminoso, ela percorreu seis quilômetros sob constante ameaça do bandido. Somente após cinco horas e meia voltou para casa, aliviada. Não se trata de mais um caso de sequestro-relâmpago: desta vez, por causa da morosidade da Polícia Civil em fazer uma simples ocorrência, a dona de casa Claudeni Alves, de 40 anos, sofreu novo desrespeito após ter um cordão arrancado do pescoço. Assaltada num ônibus às 12h30m, na Lagoa, ela foi levada com o ladrão, preso, a tiracolo à 15ª DP (Gávea) por policiais militares. De lá, o comboio seguiu para a 14ª DP (Leblon), e retornou à delegacia de Gávea, onde o registro foi enfim feito. A vítima só foi liberada às 18h.
Claudeni contou ao GLOBO que embarcou no ônibus da linha 476 (Méier-Leblon, via Túnel Rebouças) no bairro de Del Castilho, na companhia de uma filha e de outras cinco crianças do bairro, todas entre 10 e 16 anos. Todas fazem natação no Clube de Regatas do Flamengo. Quando o coletivo passava pela Avenida Borges de Medeiros, um homem que estava sentado no último banco levantou-se e arrancou um cordão banhado a ouro do pescoço da dona de casa. O criminoso, que não estava armado, desceu do coletivo e embarcou num outro, que vinha logo atrás. Claudeni, então, avisou à patrulha do 23º BPM (Leblon) que fica em frente à Hípica. Dois PMs conseguiram prender o criminoso, que não reagiu.
Para delegado, procedimento normal
Foi aí que começou o périplo dos policiais, da vítima e do criminoso. A dona de casa conta que o setor de atendimento da 15ª DP, delegacia responsável pelas ocorrências na região, informou que não havia como fazer o registro ali, pois só havia um delegado naquele momento. Ela diz que chegou ao local por volta das 13h.
— A gente seguiu então para a delegacia do Leblon. Para a minha surpresa, na 14ª DP nos mandaram voltar para a 15ª DP. Só então eu pude fazer o registro. A todo o momento, o ladrão ficava me ameaçando. Ele dizia: “Eu vou ficar dois meses preso e depois estarei na rua de novo. E moro no mesmo bairro que você”. Foi horrível — disse a dona de casa, que teve o pescoço ferido durante a ataque do bandido.
O sargento Linhares, lotado no 23º BPM, também se queixou:
— O pior é que não é a primeira vez que isso acontece. A vítima estava ferida e nos mandaram de um lado para o outro, com o ladrão junto. A gente ficou sem poder voltar às ruas por conta dessa confusão toda.
O delegado titular da 15ª DP (Gávea), Fábio Barucke, contestou a versão de que os PMs, a vítima e o ladrão tenham chegado por volta das 13h à unidade. Ele acrescentou que o procedimento foi “normal”, e que a ida do comboio para a delegacia do Leblon em nada prejudicou o atendimento.
— Na hora em que eles chegaram eu estava fazendo um flagrante de assalto à residência. Então os mandei para a 14ª DP, porque o outro delegado que trabalha comigo estava fora. Imaginava que poderia adiantar lá. Prender uma pessoa não é um processo simples, requer a emissão de um monte de documentos. A ida deles para o Leblon não atrapalhou em nada. Eles teriam que esperar eu acabar o primeiro flagrante. Não tem como fazer dois flagrantes ao mesmo; é uma responsabilidade muito grade — justificou o delegado. — E eles chegaram pela primeira vez à minha delegacia às 15h04m. É o que consta nos nossos registros.
O assaltante, que identificou-se como Marcos Vinícius de Almeida, de 23 anos, foi autuado por roubo e ficou preso. Ele tinha passagens na polícia por agressão e receptação e afirmou morar numa favela de Del Castilho.
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