Delegado suspeito de extorsão se entrega à polícia e é preso. Com ajuda de agentes e detetive, titular da 16ª DP da Capital teria exigido dinheiro de suposto traficante para não prendê-lo
JOSÉ LUÍS COSTA
O delegado Antônio Waldyr Martins Guimarães, titular da 16ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, no bairro Restinga, foi preso na noite desta terça-feira. Ele é suspeito de exigir R$ 60 mil de um suposto traficante para não prendê-lo. Conforme investigação da Corregedoria da Polícia Civil (Cogepol), a cobrança teria sido arquitetada pelo delegado em parceria com dois agentes da corporação e com ajuda de um detetive particular, informante da polícia. O escrivão Luís Carlos Ceconelo de Almeida, que atuava como chefe de investigações da DP, foi preso à tarde na 3ª Delegacia da Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde estava trabalhando. Procurado no endereço residencial, o escrivão Paulo Roberto Araújo de Oliveira, conhecido como Paulinho Jogo Duro, não foi encontrado e é procurado pela polícia. Já o delegado Guimarães se entregou. Eles ficarão presos no Grupamento de Operações Especiais (GOE), localizado no Palácio da Polícia.
A prisão dos três e a suspensão do exercício da função pública haviam sido decretadas na tarde desta terça-feira pela Justiça. O trio já havia sido deslocado de funções e indiciado pela Cogepol por crimes de concussão (extorsão praticada por servidor público) e formação de quadrilha. O detetive também foi indiciado por extorsão e formação de quadrilha. Ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma.
O episódio que gerou os indiciamentos e as prisões teria acontecido em 18 de outubro. Segundo o inquérito da Cogepol, o delegado, acompanhado de Almeida, Oliveira, escrivão da 1ª Delegacia de Pronto Atendimento, e do detetive Ben Hur Fagundes Gonçalves, foi a um prédio no bairro Cristo Redentor para uma batida no apartamento de homem suspeito de tráfico (o nome não foi revelado).
O detetive saberia que o homem teria cerca de R$ 50 mil em casa, pois iria ao Paraguai buscar drogas. Conforme o inquérito, os agentes, acompanhados do detetive, que portava irregularmente uma pistola calibre .380, entraram no apartamento com um documento que seria um mandado de busca, revistaram a moradia, mas nada encontraram. A entrada dos policiais e do detetive no prédio, e a saída, uma hora depois, foram gravadas por câmeras de vigilância.
Por não ter encontrado nada ilegal, os policiais teriam exigido R$ 60 mil do traficante — R$ 30 mil deveriam ser entregues naquela mesma noite, e o restante em duas semanas. Caso contrário, o traficante seria preso.
Entrega de dinheiro seria na frente de hospital
O homem, que está quite com a Justiça — já cumpriu pena por tráfico —, procurou a Cogepol e contou sua versão. Às 21h daquela quinta-feira, ele deveria entregar a primeira parte do dinheiro para o detetive. O encontro era na frente do setor de emergência do Hospital Cristo Redentor. Na hora combinada, o homem estava lá, mas sem o dinheiro. Assim que o detetive apareceu, foi preso em flagrante. Segundo a Cogepol, do lado oposto da Avenida Assis Brasil, os dois escrivães esperavam pelo detetive em um posto de combustíveis.
— Quando eles viram a movimentação policial, sumiram, mas câmeras captaram imagem deles — diz o delegado Paulo Rogério Grillo, da Delegacia de Feitos Especiais da Cogepol.
Em depoimento, os quatro envolvidos no caso negaram os crimes.
Uma devassa na 16ª DP
A queixa contra o delegado Antônio Waldyr Martins Guimarães levou a Corregedoria da Polícia Civil (Cogepol) a uma inspeção correcional na 16ª Delegacia da Polícia Civil, no bairro Restinga, comandada por Guimarães até segunda-feira desta semana.
A devassa começou ontem, com análise de ocorrências, depoimentos e documentos com objetivo de verificar eventuais indícios de irregularidades em elucidações de crimes.
Conforme o delegado Paulo Rogério Grillo, da Cogepol, a ida ao apartamento do homem apontado como traficante não estava formalizada em nenhum documento oficial de investigação na 16ª DP:
– Procuramos algum registro, relatório, pedido de escuta ou ordem de serviço, mas não encontramos.
Em 2001, Guimarães já respondeu a inquérito por extorsão, formação de quadrilha e abuso de autoridade. O escrivão Luís Carlos Ceconelo de Almeida já foi indiciado por extorsão, e o escrivão Paulo Roberto Araújo de Oliveira foi preso duas vezes por suspeita de extorsão. Em nenhum dos casos, os três policiais foram condenados. O detetive Ben Hur Fagundes Gonçalves já foi preso por porte ilegal de arma, em 2009, e investigado como suspeito de envolvimento na morte do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina, Marco Antônio Becker, em 2008.
Contraponto
O que diz o delegado Antônio Waldyr Martins Guimarães - “Não tenho nada a ver com essa tentativa de extorsão. Vou esperar a decisão do Judiciário para depois me manifestar sobre o caso”
Zero Hora tentou ouvir os escrivães Luís Carlos Ceconelo de Almeida e Paulo Roberto Araújo de Oliveira e o detetive particular Ben Hur Fagundes Gonçalves, mas não conseguiu contato com eles ou com os advogados deles até o fechamento desta edição.
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