A Policia exerce função essencial à justiça. Não é instrumento político-partidário. A segregação pela justiça e a ingerência partidária em questões técnicas e de carreira dificultam os esforços dos gestores e operadores de polícia, criam animosidade, desviam efetivos e reduzem a eficácia e a confiança do cidadão nas leis, na polícia e no sistema de justiça criminal que, no Estado Democrático de Direito, garante a ordem pública e os direitos da população à justiça e segurança pública.
ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
UM TIRO EM DEBATE
ZERO HORA 24 de janeiro de 2013 | N° 17322
A AÇÃO NO TRENSURB
A reação do soldado da Brigada Militar durante abordagem em uma estação do trensurb, na Capital, alcançou forte repercussão nas redes sociais, dividindo a opinião de especialistas e de leitores de Zero Hora na internet.
MARCELO GONZATTO E TAÍS SEIBT
Especialistas divergem sobre a ação flagrada em vídeo que mostra um policial militar em confronto com um homem armado com faca em uma estação do trensurb, na tarde de terça-feira. Parte das opiniões sustenta que o soldado Vinicius Alves de Souza, 28 anos, agiu em legítima defesa mediante a aproximação de José Betamin Nunes, 33 anos. Outro ponto de vista sugere que disparar a arma em meio ao público colocou a vida de outras pessoas em risco – outro passageiro foi atingido na canela.
O vídeo gravado em celular por outro passageiro mostra que o homem se levanta e parte em direção à porta, enquanto o policial recua. Em seguida, fora do alcance da lente, ouve-se o tiro que atravessou o abdômen do suspeito.
– O policial primeiro tentou persuadir, não conseguiu e depois agiu em legítima defesa. Fez tudo corretamente – avalia o especialista em segurança Carlos Alberto Portolan.
Outro consultor em segurança, Dempsey Magaldi, também entende que o tiro foi justificado:
– O policial tem o dever de agir diante da ameaça à sociedade. Pelo manual de instrução da polícia, seria proibido se omitir.
Para o especialista em segurança pública Marcos Rolim, porém, o recurso empregado colocou em risco a vida de inocentes. Ele diz que a legítima defesa se aplica em casos de risco iminente de vida e quando a reação é proporcional à ameaça:
– A postura do policial ao enquadrar o rapaz sentado sob a mira da arma é antiprofissional. Sentado, ele não representava risco.
Delegado: não houve excesso
Rolim acredita que a melhor técnica seria imobilizar o homem enquanto ele se encontrava sentado.
– A norma universal diz que policiais devem evitar a todo custo disparos onde há gente passando.
Portolan, embora considere que o soldado não descumpriu nenhuma norma, acrescenta que a saída ideal teria sido usar o cassetete para desarmar e imobilizar Nunes:
– Mas seria necessário um melhor treinamento do que há hoje.
A Brigada Militar deverá investigar a ação do policial
– O treinamento da BM orienta a sempre tentar preservar a vida, salvo em excludentes como a legítima defesa – afirma o comandante do Batalhão de Operação Especiais, tenente-coronel Kleber Goulart.
Para o delegado Filipe Bringhenti, embora as imagens das câmeras de segurança da Trensurb não permitam apontar o momento exato do disparo, a alegação de legítima defesa de Souza é corroborada pelas testemunhas:
– Sabemos que foi feito apenas um disparo, de cima para baixo, uma posição de segurança. Ele não se excedeu e usou do único meio de defesa que tinha à disposição naquele momento para enfrentar o suspeito, que estava armado com uma faca – sustenta o delegado.
O impacto da divulgação de vídeos
Ao mesmo tempo em que a gravação de um fato violento pode servir para expor a realidade, a divulgação na imprensa de imagens pode trazer uma sensação de insegurança e até mesmo um trauma a quem assiste. Com opiniões divergentes, especialistas avaliam os resultados da exposição de agressões, cada vez mais fácil de serem captadas e disseminadas.
Para a psicóloga e psicoterapeuta Marli Sattler, imagens como as do tumulto no trensurb são cada vez mais comuns. Ela analisa que a divulgação pode trazer efeitos negativos em quem assiste:
– Ver as cenas é mais impactante do que ouvir falar. Então, as pessoas tendem a se sentir mais inseguras ao ver esse tipo de imagem por dois aspectos: sabem de uma quantidade bem maior de situações, e vê-las é mais chocante do que ficar sabendo por ouvir dizer. Isso contribui para essa sensação de maior insegurança.
Já na opinião do psicanalista Mário Corso, a veiculação das imagens pode servir para abrir um debate sobre a atitude dos envolvidos. Ele chama estas situações de realidade ampliada e não vê problemas na divulgação, desde que o que tenha sido gravado não invada a privacidade de alguém:
– Essa é a realidade, vimos como todas as pessoas que estavam lá no trensurb. Serve para saber o que realmente aconteceu, não fica no “disse me disse”, ajuda a dar transparência .
Especializado em trauma, o psicólogo Edson Sá Borges aposta em uma edição das imagens – que não mostre o momento da agressão – para não correr o risco de traumatizar um número maior de pessoas na exposição feita pela mídia. Ele comenta que o trauma pode ser multiplicado e a violência, banalizada:
– Não concordo com a ideia de que se mostrar aumenta a consciência das pessoas e funcionaria como uma maneira de coibir.
O trensurb
O gerente de operações da Trensurb, Rubenildo Ignácio, considera a ocorrência de terça-feira um episódio isolado:
– É um caso extremamente raro, de uma pessoa descontrolada e armada no trem. Não temos registro de outro caso como esse – afirma ele.
Embora usuários do trem já tenham sido vítimas de furtos dentro dos vagões, o mais comum é ataque a bilheterias da Trensurb – foram 19 assaltos em 2012. Ignácio destaca que esse problema foi contornado, com a identificação e a prisão da quadrilha.
– Temos mais de 300 câmeras no sistema, com o pessoal monitorando isso e temos gravação de tudo o que está ocorrendo – destaca.
A Trensurb conta com 118 funcionários na segurança, que fazem o controle das câmeras e circulam nos trens e nas estações.
Os personagens
José Betamin Nunes - suspeito - Conforme testemunhas, José Nunes, 33 anos, estaria ameaçando passageiros com uma faca. Atingido pelo disparo de um PM no abdômen, passou por cirurgia e seguia internado em estado estável. Ele foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio contra o policial. A perícia encontrou maconha na mochila dele. Até ontem, nenhum familiar havia sido encontrado e ninguém havia procurado por Nunes no hospital.
Vinicius A. de Souza - Policial militar - Natural de Passo Fundo, o soldado de 28 anos estava na Estação Anchieta para se deslocar à rodoviária, onde embarcaria em um ônibus até a cidade natal para ver a mulher, grávida de sete meses. Ele foi chamado para intervir na ocorrência em que Nunes estaria ameaçando passageiros em um dos vagões. Em entrevista a ZH, na início da madrugada de ontem, Souza contou que tentou negociar com Nunes, que teria investido contra ele com a faca, forçando-o a reagir.
Lucas Silvestre Vargas - gravou o vídeo - O analista de sistemas Lucas Silvestre Vargas, 27 anos, que mora em São Leopoldo e trabalha em Porto Alegre, estava voltando para casa, por volta das 17h30min de terça-feira, quando testemunhou o incidente. Ele gravou em celular a abordagem do PM ao homem que estava deitado no chão, com uma faca na mão. Vargas relata que Nunes estava “transtornado”, mas não conseguiu ver se ele ameaçou o policial com a faca no momento do disparo, devido ao tumulto no vagão. As imagens registram o som do disparo logo após Nunes sair do vagão.
A repercussão
Até as 22h de ontem, o vídeo na página de ZH no Facebook teve 651 “curtidas”, 1.430 compartilhamentos e 641 comentários. Leia alguns deles:
Cloris Tavares Abbad - “Imagine-se dentro de um veículo, sem ter como escapar..... Já presenciei briga dentro de ônibus. É terror puro..... Temos que começar a agir como em NY, tempos atrás. TOLERÂNCIA ZERO...”
Charles Nunes - “O policial agiu totalmente dentro da técnica, havia risco de vida, uma faca pode ser muito mais letal do que uma arma de fogo.”
Fabio Boff - “Perfeita a atitude do policial. O cara estava armado com uma faca e foi pra cima dele, depois o vagabundo mata o policial aí a policia que é destreinada!”
Vítor Garcia: - “O policial agiu certo. O suspeito caminhou pra cima dele com uma faca, o que mais ele poderia fazer se não atirar para pará-lo? O tiro não matou o sujeito, só o feriu. Parabéns ao policial.”
Ceci Guedes - “Mostra policiais completamente despreparados para enfrentar qualquer tipo de situação e ainda mais zelando por nossa segurança.. Triste com uma coisa dessa!”
Alex Sandro Oliveira - “Para mim esse policial é despreparado. Se todos os PMs fossem agir assim muita gente estaria morta. Cada caso é um caso. Nesse caso, ele deixou a desejar.”
Diogo Cesar - “O policial nao sabe como agir e ainda faz uma abordagem totalmente equivocada.”
O que fazer
Confira algumas recomendações para o cidadão comum que se vê em meio a um conflito como o registrado em vídeo dentro do trensurb:
- Mantenha a maior distância possível da fonte de risco, a exemplo de uma pessoa armada com faca ou revólver.
- Procure chamar a polícia ou um segurança o mais rapidamente possível.
- Não tente interferir diretamente na situação, como procurar desarmar o agressor.
- Muito cuidado ao querer filmar ou fotografar a situação. Lembre-se que ficar próximo à ação aumenta o risco de se tornar vítima.
Fonte: especialista em segurança Carlos Alberto Portolan
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