ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

GREVE POLICIAL POR SALÁRIOS DESENCADEIA ONDA DE SAQUES E VIOLÊNCIA NA ARGENTINA

ZERO HORA 05 de dezembro de 2013 | N° 17635

SOB TENSÃO

Córdoba vive onda de saques. 
Governador pediu via Twitter que a presidente Cristina Kirchner ajudasse a refrear a violência


Uma greve da polícia estadual de Córdoba, que chegou ao fim no início da tarde de ontem, provocou um dos episódios mais violentos dos últimos anos na Argentina. Em razão da paralisação policial, a segunda maior cidade do país, com 1,3 milhão de habitantes, viveu dois dias de saques e violência, com duas pessoas mortas, dezenas de feridos e 52 presos.

As aulas e o transporte público chegaram a ser suspensos, e os bancos não abriram. Os policiais pediam um salário mínimo de 13 mil pesos argentinos (R$ 4.997) – o atual é de 7 mil pesos (R$ 2.690). O governo aceitou aumentar para 8 mil pesos, e a negociação foi encerrada.

Os saques atingiram supermercados, concessionárias de motos, lojas de eletrodomésticos e residências. As principais emissoras de TV do país exibiram ao vivo cidadãos entrando nos supermercados e saindo carregados de coisas, sem se importar em mostrar a cara. Um jovem de 20 anos foi morto atingido por um tiro e um homem de 85 anos morreu durante assalto a sua residência.

Antes da greve ser encerrada, o secretário de Segurança, Sergio Berni, havia anunciado o envio de 2 mil homens da força policial ligada ao governo federal e ao exército. A decisão foi tomada depois que o governador da Província de Córdoba, José Manuel de La Sota, criticou a Casa Rosada. Às 4h de ontem, De La Sota usou o Twitter para reclamar de falta de ajuda do governo federal. Escreveu para a presidente Cristina Kirchner, também usuária da rede social: “@CFKArgentina reiteramos pedido urgente de envio do exército a Córdoba. Os saques justificam uma resposta urgente”.

Depois, o governador divulgou carta com o telefone de vários funcionários do gabinete presidencial que não teriam retornado suas ligações.

Os saques também atingiram o distrito de Glew, na região metropolitana de Buenos Aires. Um comerciante chinês foi morto e teve o corpo queimado por um grupo de saqueadores que roubava mercadorias de seu supermercado. Em 27 de novembro, a cidade de Rosário já havia vivido episódios semelhantes, com dezenas de feridos.

CÓRDOBA, ARGENTINA


Uma noite na selva


EDGARDO LITVINOFF *

Se há imagens para descrever como os seres humanos podem agir diante da ausência total de controle estatal e de contenções repressivas, são as que se viram em Córdoba durante mais de 20 horas, até a manhã de ontem.

Desde que a polícia decidiu cruzar os braços exigindo aumento salarial, bandos de ladrões em motos e a pé tomaram as ruas da cidade, saquearam lojas, roubaram supermercados e tiveram os cidadãos a sua mercê durante toda a noite. Pessoas comuns se somaram aos ladrões, aproveitando a oportunidade para carregar televisores, bebidas alcoólicas, roupas, pares de tênis e até móveis. Desta vez, não levaram comida, como em 2001. Milhares de cordobeses ficaram arruinados, com estabelecimentos vazios e vitrines despedaçadas. Muitos comerciantes se defenderam à bala, outros fizeram barricadas nas ruas e armaram “grupos de defesa” com paus, tacos de beisebol e armas.

Nunca na cidade – e talvez nunca na Argentina – algo semelhante havia sido vivido, com uma cidade paralisada, sem administração, sem transporte, sem escolas e, por um momento na noite, sem esperanças. Pela manhã, quando visitei as barricadas e falei com as pessoas que se defendiam dos roubos, em pé nos telhados e nas calçadas, encontrei o mais preocupante de tudo: medo, sede de vingança, rancor e uma sociedade fraturada.

O saldo foi de 110 feridos a tiros, centenas de feridos em brigas, um morto. Por milagre, só um morto. Aos poucos, a situação se normaliza, após a assinatura de um acordo de aumento salarial para a polícia. Mas nada voltará a ser como antes em Córdoba. Perderam-se milhares de pesos, a confiança nos políticos e a esperança de ter uma sociedade mais tolerante.


* Editor e colunista no jornal La Voz del Interior, de Córdoba





Sem segurança nas ruas, supermercados e lojas foram depredados por grupos que levaram mercadorias

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