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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

AÇÃO DO MP-PR PRENDE EX-DELEGADO-GERAL DA POLÍCIA CIVIL

Aniele Nascimento / Agência de Notícias Gazeta do Povo  / Operação do Gaeco prende envolvidos com o jogo ilegal no caso que ficou conhecido como

GAZETA DO POVO,  10/12/2013 às 17:54

DIEGO RIBEIRO E FELIPPE ANÍBAL

Operação do Gaeco prende ex-delegado-geral da Polícia Civil. Ação do MP-PR ocorre como desdobramento do caso "mansão cassino" e um dos presos é o ex-delegado-geral da Polícia Civil Marcus Vinicius Michelotto


O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou uma operação nesta terça-feira (10) para prender vários policiais civis e militares suspeitos de envolvimento com o jogo ilegal no caso que ficou conhecido como "mansão cassino". Entre os presos pelo Gaeco está o ex-delegado-geral da Polícia Civil Marcus Vinicius Michelotto.

O local foi estourado por policiais que faziam protestos contra a diretoria da Polícia Civil em janeiro de 2012. A inesperada batida policial em uma mansão que funcionava como cassino no bairro Parolin, em Curitiba, iniciava uma guerra interna na corporação.

Empresária diz que mandado equivocado foi cumprido em seu escritório

A empresária Cristine Silvério, foi até o Gaeco, no fim da manhã, e reclamou que foi cumprido mandado de busca e apreensão no escritório da empresa de eventos que ela possui de maneira equivocada. Ali, segundo ela, morava um dos investigados, mas que se mudou havia mais de um ano. Segundo Cristine, o mandado foi cumprido de forma arbitrária, porque reviraram a casa inteira dela, apreenderam todos os equipamentos dela e que ela não pode trabalhar sem esses aparelhos. A empresária diz ainda que contas que ela precisa pagar foram levadas pelos policiais.

A operação desta terça-feira é coordenada pelo Gaeco, que integra o Ministério Público (MP-PR), e conta com o apoio das corregedorias da Polícia Civil e da Polícia Militar. Em nota, o MP-PR informou que todas as ações estão sob "segredo de Justiça por determinação judicial, para garantir a eficácia das investigações”. Por conta disso, poucos detalhes foram revelados.

Além de Michelotto, outro delegado foi preso: Geraldo Celezinski, que, à época em que o cassino foi descoberto, era titular do 5º Distrito Policial. Os dois delegados tiveram decretadas suas prisões temporárias, por cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Eles ficarão detidos no Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil.

Pela manhã, os presos na operação eram levados à sede do Gaeco, onde prestaram depoimento. Ao longo de todo o dia, foi grande a movimentação no local. O coordenador do órgão, Leonir Batisti deixou o prédio por volta das 16h30, dirigindo um carro oficial do Gaeco. Ele permaneceu com os vidros fechados e não respondeu às perguntas dos jornalistas, que se aglomeravam diante da sede.

Repercussão

Os advogados Rodrigo Sánchez Rios e Marlos Arns, que representam Michelotto, disseram que vão tomar medidas judiciais para fazerem valer os direitos do ex-comandante da Polícia Civil. Durante a tarde, eles examinavam o teor dos pedidos de prisão, expedidos pela Justiça. Sanchéz Rios avaliou que, como a investigação diz respeito a um fato já ocorrido, a detenção é desnecessária.

“Se é um fato pretérito, a necessidade de prisão de esvazia. Não há necessidade. Ele tem endereço fixo, é um servidor público exemplar. Então não haveria necessidade disso”, disse o advogado.

O presidente do Sindicato dos Delegados do Paraná (Sidepol), Cláudio Marques esteve presente no Gaeco e foi um dos primeiros a confirmar a prisão de Michelotto. “Acho muito estranho se for isso [investigação relacionada ao caso mansão cassino]”, disse, se referindo ao fato de a instigação da operação ser um caso antigo.

“A questão da prisão do Michelotto parece que se tornou uma coisa pessoal entre ele e o Gaeco. E o Gaeco quer fazer investigações, mas não tem estrutura e não tem coragem de investir nisso.” Segundo ele, o Gaeco não teria coragem de fazer investigações “no que realmente importa, que é o crime organizado.”

O advogado Milton Miró Vernalha Filho, do Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol), classificou a ação do Gaeco como sendo um “show midiático”. “Tudo indica que há uma usurpação da função pública por parte do Gaeco. Parece que é um projeto político do Gaeco para tomar a Polícia Civil para si. Se trata de um show midiático para atingir o secretário e o governador.”

O delegado Rubens Recalcatti, titular do 1º Distrito Policial de Curitiba (1ºDP) foi ao Gaeco para visitar os delegados presos. Ele também confirmou que se tratam dos delegados Michelotto e Celezinski. Recalcatti disse que os dois estão bem e tranquilos.

O caso "mansão cassino"

Em 27 de janeiro de 2012, sem a presença de um delegado, policiais civis invadiram a mansão no Parolin, prenderam três pessoas e apreenderam 40 máquinas de caça-níqueis. A operação teria sido um protesto dos policiais pela aprovação do Estatuto da Polícia Civil. No início da tarde daquele mesmo dia, o comando da corporação classificou a operação como "miliciana e política".

De acordo com denúncia recebida pelos policiais que fizeram a operação sem o conhecimento do comando, a mansão funcionava todos os dias da semana, do início da noite ao amanhecer, com “movimentações de carros, motos e pedestres”. O registro feito por eles à época descrevia o local como abrigo para tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes, jogos de cartas e exploração de caça-níqueis.

O resultado da operação foi uma crise institucional: o delegado-chefe da Polícia Civil, Marcus Vinicíus Michelotto, classificou os agentes envolvidos na ação de “milicianos”; já os policiais cravaram que a corporação passa por uma “crise de moralidade”.

Cerca de um ano depois, apesar da existência de suítes luxuosamente decoradas no local, uma investigação da Polícia Civil concluiu que não havia exploração sexual na mansão cassino. A instituição, em fevereiro de 2013, ressaltou que o local era frequentado por idosos. A investigação também teria concluído que não houve o envolvimento de qualquer policial civil na exploração do jogo na mansão.





PARA LEMBRAR...

PORTAL TERRA NOTÍCIAS, 27 de Janeiro de 2012•18h38

PR: em protesto, policiais estouram cassino sem autorização

Roger PereiraDireto de Curitiba



Policiais civis do Paraná estouraram, na madrugada desta sexta-feira, uma mansão em Curitiba usada como casa de jogos de azar e prostituição. Houve três pessoas detidas e 40 máquinas caça-níqueis apreendidas, além de recolhidas máquinas de cartão de crédito e documentos, como alvará falso de funcionamento e lista de clientes e mulheres que trabalhariam como prostitutas. A operação estourou uma crise na Polícia Civil, pois foi feita por deliberação dos próprios policiais, sem ordem nem conhecimento do comando da corporação ou de, ao menos, um delegado.

Foram cerca de 20 policiais civis que, encapuzados, invadiram a casa por volta das 23h30 de ontem, quando cerca de 50 pessoas estavam no local, e fizeram as prisões e apreensões. A casa era considerada um estabelecimento de luxo, frequentada por políticos e empresários da cidade, segundo os policiais, que não se identificaram. A invasão à revelia do comando, segundo eles, foi parte da "Operação Padrão" dos investigadores de polícia, "visando mostrar a excelência de nosso trabalho e pedir melhores condições e salários". Segundo os policiais envolvidos na operação, o objetivo é atingir pontos que até então eram "blindados" tanto pela polícia quanto pelo governo do Estado.

Após o flagrante, os policiais esperaram, durante toda a madrugada, por um delegado no local, mas nenhum apareceu. Assim, no início da manhã, eles contrataram, por conta própria, um frete para remover o material apreendido. Só por volta das 8h30 que dois delegados chegaram ao local. "Estamos tomando conhecimento apenas agora. Vamos verificar de onde partiu essa operação. Não veio caminhão da polícia aqui porque não havia registro dessa operação. Uma ação dessas tem que ser planejada", disse o delegado Sebastião Ramos, da Divisão Policial da capital.

Delegado-geral: 'não vamos aceitar isso'
O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, reagiu energicamente contra a operação. "A ação foi feita por eles, sem conhecimento de suas chefias. Não vamos aceitar isso. A Polícia Civil tem uma hierarquia e tem que ser respeitada. Quem manda e quem pode determinar operações como essas são os delegados. Já estamos tomando providência para instalar processos administrativos", disse.

Em nota oficial, o delegado-geral comparou a operação à ação de uma milícia. "Alguns policiais, em forma de milícia e encapuzados, agiram sem que estivessem respaldados da coordenação de um delegado de polícia", disse. "A Polícia Civil reprova veementemente este tipo de ação e refuta qualquer operação que não tenha a segurança pública da sociedade paranaense como o seu principal foco. A instituição entende que a ação realizada nesta madrugada não representa a opinião dos cerca de quatro mil servidores que hoje compõem o quadro de policiais civis do Paraná", afirmou, para concluir rechaçando a possibilidade de "blindagem".

O departamento informou que frequentemente tem recebido e apurado denúncias referente a jogo ilegal ou outras atividades ilícitas, fato ilustrado pelos mais de mil máquinas caça-níqueis apreendidas em 2011. A Polícia Civil ressaltou que as negociações de reajuste salarial iniciadas entre a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e os sindicatos legalmente reconhecidos como representantes das classes policiais estão bem encaminhadas, e por isso rechaçou qualquer informação de que haja uma postura de "Operação Padrão" por parte dos policiais que compõem a base da instituição.

Sindicato apoia iniciativa

O Sindicato dos Investigadores de Polícia do Paraná (Sipol) apoiou a ação. Para o presidente da entidade, investigador Roberto Ramires, "a operação foi um sucesso, do jeito que deve ser a ação do policial no cumprimento de seu dever. Ao receber a informação de que um crime está acontecendo, tem que agir na hora", disse, não vendo erro no fato de ter acontecido sem a orientação de um delegado. "Não precisa, é caso flagrante. O policial está na rua, recebe a informação, tem que agir. Depois, espera o delegado. Foi o que eles fizeram. Infelizmente, demorou quase 10 horas para aparecer um delegado", disse, sem entrar na questão da "Operação Padrão".

Já o tesoureiro do sindicato, Ezequiel Ventura, fez questão de frisar que a operação foi sim uma resposta ao departamento. "Não só pela indisposição em negociar o subsídio, como também pela recente remoção de dois colegas nosso que, como único erro, fizeram uma apreensão que contrariou alguns interesses", disse. Ezequias lamentou a nota do delegado-geral e disse que o sindicato procurará a Justiça para evitar retaliações. O investigador também questionou o desinteresse do departamento pela operação. "A forma como agiram permite a insinuação de que estavam querendo proteger alguém", provocou.

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