JORNAL DO COMÉRCIO 02/12/2013
Edson Olliver
Li o enfoque do ilustre senhor Walter Dworak Filho (Opinião, 20/11) sobre a questão das polícias. Já ocorreu um momento, foi uma fase de revisão constitucional visando a discutir e a alterar os modelos. Houve uma luta de ideias, mas não ocorreram as mudanças. Passaram-se anos, e agora o País é a meca do mercado de crack e cocaína, 2,8 milhões de pessoas dependentes, fora o suporte de vendas, mais 3 milhões de pessoas envolvidas em varejo e atacado, mais o mercado criminal que movimenta um PDCA de bilhões junto com o informal. Agora não dá mais para ficar nessa discussão estéril. Passou o momento. Agora é visão de gestão. Cada polícia tem seu papel e uma deve respeitar a outra. É a teoria dos papéis. Temos a teoria da autoestima, os caras têm carreiras e gostam do que fazem, são motivados. Tem a questão da teoria da consciência situacional também.
O que é preciso ser buscado é uma carreira única, dentro das organizações, uma visão de méritos e cursos, isso, sim, em que o mérito seja o determinante e o principal de tudo, “ninguém da sociedade, sem uma resposta, mínima que seja” numa visão capilar, esse deve ser o mantra, num processo de sinergia positiva, numa soma de esforços, cada um no seu papel, mas em sinergia no seu quadrado com respeito e qualidade. Esse é o grande caminho. Visão de gestão e dos papéis, com autoestima e consciência situacional.
Os “dez dias de junho” foram um grande teste, e as polícias agiram bem, em que pesem as críticas, mas não houve óbitos. Eles cumpriram o papel deles no País todo. Quanto aos casos pontuais, é preciso serem debelados, mas com CRM forte e implantação de visão de consciência situacional. É uma questão de a ficha cair. Existem condições de as nossas polícias serem as melhores do mundo, é só os staffs desejarem, cada qual no seu devido papel.
MBA em gestão
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Infelizmente, o Sr, Edson tem uma visão equivocada e míope ao colocar no modelo policial a culpa pelo País ser a meca do mercado de crack e cocaína. Esta "Visão de gestão e dos papéis, com autoestima e consciência situacional," que defende deveria ser focada na história e no sistema de justiça criminal vigente e não apenas no modelo, carreira e estrutura das polícias brasileiras. Se mudar apenas modelo das polícias, estas serão o "joãozinho do passo certo", enquanto os demais instrumentos de justiça criminal marcharão em outro passo, divergente e contrário, com resultados ainda piores. Esta "consciência situacional" é importante, desde que seja holística, ampla e focada na finalidade que é a garantia da segurança pública e não nos instrumentos de segurança pública, assim denominadas as forças policiais e prisionais. Só num regime totalitário, as forças de segurança pública são suficientes para garantir a "preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio", como reza a constituição anti-cidadã e suicida de 1988. A justiça criminal é um sistema que funciona em rede, envolvendo poderes, instituições, instrumentos, ações e processos, onde num extremo está a prevenção dos delitos e no outro a reinclusão, reeducação e ressocialização dos autores de ilicitudes. As polícias são apenas um destes instrumentos.
Há ainda uma questão complementar diante das situações envolvendo consumo e tráfico de drogas, pois se trata de um problema de saúde e um problema de ordem pública, pode a dependência pode levar uma pessoa ao crime, ser soldado do crime ou ser morta pelo crime ou pela doença se não houver tratamento. Portanto, neste caso devem agir os órgãos de saúde pública com políticas de tratamento das dependências, internação dos doentes e assistência familiar. Não podemos esquecer da importância das comunidades escolares, das entidades e das associações na atuação preventiva e educativa contra o consumo de drogas.
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