Polícia de São Paulo reage timidamente à ação de facções criminosas que comandam assassinatos de policiais, chacinas e ataques a ônibus na cidade
Natália MartinoINSEGURANÇA
Ônibus destruído na capital paulista: até o momento,
polícia só prendeu cinco pessoas
Usuários de transporte público a pé depois de várias empresas retirarem seus ônibus das ruas, comerciantes fechando as portas mais cedo e moradores acuados em suas casas foram os reflexos mais visíveis dos ataques criminosos que assolaram a cidade de São Paulo nas últimas semanas. Entre os dias 13 e 29 de junho, foram seis policiais militares mortos fora do horário de serviço, onze ataques a ônibus e quatro chacinas. Diante desse cenário, a polícia paulista reagiu timidamente, escorada por seu secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto. Da Argentina, onde estava para assistir ao jogo Corinthians e Boca Juniors pela Taça Libertadores da América na quarta-feira 27, Ferreira Pinto declarou que a situação está sob controle e que os casos são acontecimentos isolados. Mas a sensação de insegurança tomou conta da cidade de São Paulo.
A polícia paulista investiga se os assassinatos de policiais, as chacinas e os ataques a ônibus estão relacionados e se todas as ações foram orquestradas pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), a mesma facção criminosa que aterrorizou a cidade de São Paulo em 2006, com investidas de violência simultâneas por toda a cidade. Um carcereiro do sistema penitenciário da capital, que preferiu não se identificar, afirmou à ISTOÉ que o PCC está por trás das ações. “A informação que temos é de que os líderes da organização pediram a cabeça de 60 policiais militares. Não tem nada sob controle”, afirmou. Para Guaracy Mingard, professor de direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-subsecretário nacional de Segurança Pública, caso se confirme a autoria do PCC, houve falha grave na inteligência criminal. “Esse tipo de ação não é decidida do dia para a noite, a polícia precisa monitorar e cruzar as informações para agir preventivamente”, diz. O carcereiro com quem ISTOÉ conversou garante que os ataques a policiais foram anunciados desde que a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo, matou seis pessoas em uma ação no fim de maio, dentre os quais estavam supostos integrantes do PCC. “Fomos avisados pelos presos e alertamos a todos os órgãos do governo. Ninguém fez nada.”
Cinco pessoas já foram presas desde o início dos ataques. A polícia intensificou o patrulhamento nas ruas e está distribuindo um cartaz com as fotos de oito procurados. Para Guaracy Mingard, isso não significa muita coisa. “Só saberemos se essas prisões demonstram eficiência da polícia quando as provas realmente ligarem os suspeitos aos ataques.” Independentemente de quem são os autores dos recentes ataques em São Paulo, os números da Secretaria de Segurança Pública mostram que a violência tem crescido substancialmente na cidade (leia quadro). Confrontado com esses dados e com a onda crescente de violência, o governador Geraldo Alckimin optou por um discurso agressivo: “Se enfrantarem a polícia, vão levar a pior”. Pena que a ação da polícia paulista seja muito mais tímida que o discurso.
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