FOLHA.COM 06/04/2014 03h20
Crimes crescem em São Paulo, mas polícia encolhe
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ MONTEIRO
MARINA GAMA CUBAS
DE SÃO PAULO
Na contramão dos indicadores de roubos, que só crescem, o Estado de São Paulo perdeu 3.000 homens de seu efetivo policial nos últimos dez anos e viu cair abaixo da média mundial sua taxa de policiais por grupos de 100 mil habitantes.
Em 2005, o Estado tinha 314 policiais para cada 100 mil habitantes. Hoje, essa taxa é de 282, abaixo da média mundial de 303 para cada 100 mil pessoas, de acordo com dados compilados pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A Itália, com 60 milhões de habitantes, tinha 465 policiais para cada 100 mil pessoas, em 2012. Naquele mesmo ano, os italianos conviveram com índice de roubos de 105 casos por 100 mil habitantes. Enquanto isso São Paulo teve taxa de 608 roubos por 100 mil habitantes, em 2013.
O levantamento feito pela Folha considera o efetivo das polícias Militar, Civil e Científica. Ao todo, eram 123.156 homens em 2005 ante os atuais 120.103.
editoria de arte/folhapress
O pior quadro é o da Polícia Civil que perdeu 3.292 policiais nos últimos dez anos. Chegou a ter 32.809 em 2005, mas hoje tem 29.517.
Nesses dez anos, a população do Estado cresceu 8,6%: incremento de 3,4 milhões de pessoas. Passou de 39,2 milhões para 42,6 milhões.
falhas
Ao contrário dos homicídios dolosos, que podem estar ligados a fatores que fogem do controle da polícia (como crimes passionais), os crimes patrimoniais ocorrem por falha da polícia, dizem especialistas ouvidos pela Folha.
As estatísticas disponibilizadas pelo governo de São Paulo mostram a pouca eficácia do trabalho policial.
Os roubos, por exemplo, que vêm crescendo ano a ano, bateram recorde em números absolutos em janeiro e fevereiro deste ano: 52.261 casos.
Em relação ao mesmo período de 2005, quando foram registrados 33.894 casos, o crescimento foi de 54%.
O próprio governo do Estado estima que a Polícia Civil consegue esclarecer só 2% dos casos de roubo.
"Nós não temos condições de investigar porque não temos efetivo. Viramos fazedores de B.O. [boletim de ocorrência]", afirmou a delegada Marilda Pansonato Pinheiro, presidente da Associação dos Delegados.
Para o especialista em segurança pública José dos Reis Santos Filho, não existe um número ideal de policiais, porque depende da realidade de cada lugar.
"Beirute, por exemplo, precisa hoje de um número de policiais muito maior do que nos tempos de paz."
Mas, para ele, a redução interfere diretamente na qualidade do serviço. "Com mais população, há mais crime para investigar e prevenir."
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