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quinta-feira, 3 de abril de 2014

CASO KUNZLER - ENCONTRO COM MATADOR

ZERO HORA 03 de abril de 2014 | N° 17752

HUMBERTO TREZZI

CASO KUNZLER. 
Testemunha reconheceu suspeito em fotos e vídeo

Comerciante identificou suposto matador em pelo menos 10 imagens em depoimento prestado em cartório



A convicção que levou a Polícia Civil a pedir a prisão preventiva de Jaerson Martins Oliveira, suspeito de matar durante um assalto o publicitário Lairson José Kunzler, 68 anos, deriva de um testemunho considerado decisivo – ao qual ZH teve acesso.

Odepoimento foi prestado por um comerciante de 46 anos que reside na zona sul de Porto Alegre, onde o publicitário foi morto. Policiais apresentaram a esse empresário 10 fotos diferentes de Jaerson e, em todas as ocasiões, ele foi taxativo ao reconhecer o presidiário – ele cumpre pena por latrocínio, trabalha de dia e pernoita em um albergue prisional – como o homem que lhe apontou um revólver, minutos após o assassinato de Kunzler.

A testemunha identificou Jaerson em outras duas oportunidades: uma segunda vez para a Polícia Civil e outra perante o tabelião de um cartório, onde prestou depoimento juramentado. O reconhecimento não foi apenas por fotografias, mas também em um vídeo fornecido pela Superintendência dos Serviços Penitenciários em que aparece o suspeito.

Jaerson, que estava preso preventivamente, teve a prisão revogada pelo juiz Joni Simões, da Vara Criminal da Tristeza, por um detalhe decisivo: o presidiário apresentou imagens do circuito fechado da loja onde trabalha, mostrando que estava trabalhando no horário do assalto. Pesou também na decisão do magistrado o fato de a testemunha-chave da polícia não ter se identificado.

A testemunha efetivamente só concordou em prestar depoimento após três policiais insistirem. Foi ela quem ligou para a 6ª Delegacia da Polícia Civil (que investiga o caso), informando sobre o suposto matador. O depoente só concordou em formalizar seu depoimento em um cartório, pois teme que seu depoimento em juízo propicie seu reconhecimento pelos matadores do publicitário.

Desconfiada de que a data constante na imagem pode ter sido forjada, a delegada Áurea Regina Hoeppel, titular da 6ª DP, pediu o HD do computador que gravou a cena. O material foi entregue ontem e já se sabe que as gravações dos últimos 30 dias são parciais. O vídeo será periciado por técnicos da Seção de Informática Forense. Eles utilizarão um software chamado de Encase Forense, que exporta relatórios com as listas de todos os arquivos e pastas, e verifica datas e horários em que os vídeos foram gravados.

Encontro com matador ocorreu em uma rótula


O encontro da testemunha com o suposto matador foi casual. Por volta do meio-dia de 24 de fevereiro, o comerciante ia de carro para casa quando, na rótula da Avenida Cavalhada com a Estrada Monte Cristo, deparou com um Scénic cinza parado ao lado de uma moto, trancando o cruzamento.

– Pensei que era acidente, mas aí o caroneiro da moto desceu e me apontou um revólver, dizendo “Passa!”. Estava uns 10 metros distante. Pensei que era sequestro, engatei a ré e voltei em velocidade. O sujeito deixou a moto e entrou no carro, pela traseira. O veículo seguiu até a Avenida Eduardo Prado. O piloto da moto foi pela Monte Cristo – descreveu a testemunha.

Ele ligou para a BM, mas o fone 190 estava ocupado. O comerciante só relacionou o fato com a morte do publicitário quando ouviu pelo rádio, naquela tarde, o relato sobre o latrocínio de Kunzler. Ao depor, tanto na Polícia Civil quanto no cartório, a testemunha deu detalhes: a placa do Scénic começa com JGG. O veículo tem equipamento para transportar pranchas e engate de reboque. O motoqueiro que lhe apontou a arma usava bermuda jeans azul, camiseta azul de manga curta e tênis esportivo Diadora.

Com base nas informações do comerciante, a Polícia Civil requisitou imagens de câmeras de monitoramento da EPTC de quatro locais diferentes. Após verificar 10 horas de imagens, foi identificado o Scénic na Avenida 24 de Outubro (próximo ao lugar onde o publicitário sacou dinheiro levado pelos ladrões) e duas vezes na Avenida Cavalhada. Num dos locais ele foi multado em um controlador de velocidade. A placa levou à identificação de um suposto envolvido no crime, que está foragido. A delegada ouviu até agora mais de 10 pessoas, incluindo gerente, caixas e guardas do banco, além de familiares da vítima.


A INVESTIGAÇÃO

AVANÇOU A TESTEMUNHA - Em 13 de março, é preso Jaerson Martins de Oliveira, o Baro, 41 anos. Uma testemunha afirma ter visto o homem no local do crime. Condenado até 2039, Jaerson cumpre pena em regime semiaberto por dois roubos e um assalto com morte, ocorrido em 2004.

PLACA DO CARRO - A polícia obteve a placa do carro usado na fuga ao suspeito (um Scénic) e descobriu o dono do veículo. Ele teria emprestado o carro a um filho, que repassou a uma terceira pessoa. Esse é um foragido, suspeito de envolvimento em três homicídios.

TÊNIS E CAPACETE - Os policiais apreenderam na casa de Jaerson um tênis semelhante ao usado pelo assassino (visível em imagens de circuito fechado de TV). Na residência de outro homem, também investigado, foram encontrados 10 capacetes. Um deles é parecido com o usado pelo matador.

NÃO AVANÇOU SILHUETA NÃO CONFERE - A silhueta de Jaerson Martins de Oliveira não confere com a do matador. Ele parece ser mais gordo e mais forte do que o assassino gravado pelo circuito de segurança. A polícia diz que ele pode ter engordado desde o dia do crime.

DEMORA NA PERÍCIA - Jaerson entregou três celulares à polícia. As perícias nos aparelhos, que poderiam reforçar indícios contra o suspeito, ainda foram concluídas.

O HOMEM ERRADO - Antes de uma testemunha apontar Jaerson, a polícia havia identificado impressões digitais no Civic da vítima. Era o manobrista do estacionamento onde Kunzler havia deixado o carro antes do crime. No mesmo dia, a polícia reconheceu o erro, e o suspeito foi liberado.

CONTROVÉRSIA TESTEMUNHA OCULTA - Embora seja o único suspeito identificado até agora, Jaerson Martins de Oliveira foi solto pela Justiça. De acordo com o despacho do juiz, os indícios contra o suspeito enfraquecem na medida em que a testemunha não foi identificada.

ÁLIBI - A Justiça levou em consideração também um álibi apresentado pelos advogados do suspeito. As imagens mostram Jaerson no trabalho no mesmo dia e local do crime. Os vídeos serão periciados.

TATUAGEM - Nos primeiros dias pós-crime, o vídeo sugere que o matador tem uma tatuagem na perna esquerda. A perícia terá de comprovar se a mancha é mesmo tatuagem. Jaerson, preso como suspeito do crime, não tem tatuagem nesse lugar.

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