ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

PRECIPÍCIO

Jornal Metro 19/02/2013

Diego Casagrande

Se você perguntar a um policial civil ou militar por que razão ele escolheu esta profissão, em regra, ouvirá: vocação! Os depoimentos caminham todos no mesmo rumo. Desde crianças estes bravos homens e mulheres desejam, de alguma forma, proteger o próximo, a sociedade. É como se no DNA deles houvesse uma programação que dissesse: eu quero servir, eu quero proteger! E por isso, milhares de gaúchos optaram por uma carreira arriscada, cansativa e, sobretudo, ingrata. Optaram por arriscar suas vidas em prol da população. Muitos deixam viúvas e órfãos por nós. E nós, a sociedade, representada pelos governos, damos uma banana a eles.

Em nosso estado, há pelo menos dois casos recentes de descaso, o que acaba sendo uma forma de violência e desprezo, com estes bravos homens da lei. Lembram do assalto à joalheria de Cotiporã, onde os bandidos usaram explosivos e fizeram reféns? Depois de proteger uma família de agricultores e tirar de circulação um dos maiores assaltantes de banco do estado, um policial militar foi baleado e perdeu os movimentos de uma das mãos. Afastado da corporação, deixou de receber o vale-alimentação, as horas extras e a gratificação salarial, tendo uma redução de 43% de seu salário. Como se não bastasse tudo isso, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República sugere que nenhum policial envolvido em tiroteio com morte seja promovido até que os inquéritos sejam concluídos. Ele, portanto, ficará também com a carreira congelada.

Outro caso chocante é o do soldado que levou uma pedrada na cabeça quando a Brigada Militar reprimia a desordem promovida por manifestantes contrários ao Tatu-Bola da Copa em frente ao Mercado Público. Foi em outubro do ano passado. Depois de ser internado e ficar mais de uma semana fora do trabalho ele retornou, contraiu uma infecção e desenvolveu uma síndrome rara, em que o corpo humano produz defesas em excesso. Resultado: o policial está ainda hoje em uma cama de hospital, onde só consegue mexer as mãos. Ele também perdeu os rendimentos e a família não tem dinheiro para custear exames, o tratamento, a compra de fraldas, a contratação de profissionais de fisioterapia e fonoaudiologia e a estadia em Porto Alegre, já que são todos do interior.

Se fossem juízes, promotores, defensores públicos, conselheiros do Tribunal de Contas, deputados, ex-governadores, ou qualquer outra categoria melhor aquinhoada dentro do setor público, estas coisas não aconteceriam. Precisar fazer campanha pedindo doações para comprar fraldas e comida é o fim da várzea. Os policiais civis e militares, que estão na linha de frente do combate ao crime, não são organizados e corporativos o suficiente para pressionar os governos, fazer lobby nos gabinetes dos deputados, compras espaços de propaganda na mídia, estas coisas todas que acabam fazendo a diferença e criando grupos de poder e força dentro do Estado. Poder e força que as polícias, tão maltratadas pelos governos e pela ideologia dominante no país, se um dia já tiveram, hoje perderam.

“A pior tirania é a exercida à sombra da lei e com aparência de justiça”, nos disse Montesquieu. E eu completo. Um estado que não protege seus verdadeiros heróis, está condenado ao precipício.

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