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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

ESCUTAS REVELAM COMO TRAFICANTES COMANDAVAM ATAQUES A UPPS NO RIO

TV GLOBO FANTÁSTICO Edição do dia 21/09/2014


Investigação descobriu que traficantes montaram um esquema de vigilância. Eles comandaram atos de vandalismo, saques e atentados contra a polícia.





Nesta semana, uma operação policial revelou como o crime organizado ataca em áreas pacificadas no Rio de Janeiro.

Escutas mostram que os traficantes comandaram atos de vandalismo, saques e atentados contra a polícia no Complexo do Alemão.

Oito meses de investigação, 27 presos e uma surpresa: o chefe da quadrilha, Edson Silva de Souza, de 27 anos, não tinha passagem pela polícia.

“Aqui é a casa do chefe do tráfico do Complexo do Alemão”, mostra um policial

No total, são 48 denunciados por tráfico de drogas. Apenas dez deles têm antecedentes criminais. São bandidos "Ficha Limpa", a novidade enfrentada pela polícia do Rio de Janeiro.

Gravações feitas com autorização da Justiça mostram que esses traficantes estavam por trás de incêndios em ônibus, ataques a prédios públicos e emboscadas contra policiais.

Em um telefonema gravado em fevereiro, Igor Lopes da Silva, gerente do tráfico no Complexo do Alemão, orienta outro homem antes de um ataque: cada bandido deveria descarregar a arma contra a polícia e fugir.

Igor: Deixa ‘vim’ descendo e arrebenta! Dá consciente. Cada um, um pente. E sai saindo, entendeu?

No dia 7 de março, Rodrigo Paes Leme foi morto durante uma patrulha. Quando o traficante Igor recebe a informação, a arma usada, um fuzil 762, vira ‘sete meiota’.

Homem: Falaram que foi de ‘sete meiota’.
Igor: Ah, lindo, lindo.

Seis policiais militares foram mortos neste ano no Alemão. O último da lista foi o capitão Uanderson Manoel da Silva, dez dias atrás.

Ele era comandante de uma das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, instaladas no complexo em 2012. Até agora, não tinha sido descoberta uma ligação entre esses episódios violentos.

A investigação descobriu que os traficantes montaram um esquema de vigilância com observadores que permaneciam 24 horas em casas e esconderijos a uma distância de apenas 200 metros da base da UPP. Cada passo dos policiais no Complexo do Alemão era monitorado. E os criminosos fizeram de tudo para sabotar o trabalho da polícia.

No fim de abril, a imprensa noticiou o caos que se instalou no Alemão depois que uma moradora de 72 anos de idade foi baleada e morta durante um tiroteio entre traficantes e policiais.

Quando a filha da vítima foi reclamar na sede da UPP, uma traficante, Risodalva dos Santos, ligou para Igor.

Risodalva: A filha da mulher chegou aqui desesperada, que ela morreu. Mas tem que juntar mais gente, cara, tem pouca gente.
Igor: Tá bom. Daqui a pouco, todo mundo vai se chegando.
Risodalva: O bagulho era alguém dar uma ordem para a gente jogar umas ‘gasolina’, né?
Igor: O bagulho é tacar logo fogo nessa base aí, logo.
Risodalva: Então... Vê essa visão aí e me dá um toque, que eu fico aqui na espera. Tô aqui com umas 15 ‘cabeça’ perto de mim.

A base da UPP e um posto de saúde acabaram sendo atacados. Ônibus foram incendiados, houve barricadas e protesto dos moradores.

Em outro telefonema, um menor de idade pede autorização a um chefe do bando para atear fogo aos carros de polícia.

Menor: Tem polícia normal, Bope, [Batalhão de] Choque, tudo. Deixa nós ‘tacar’ fogo então no carro deles?

O homem, não identificado, liga de volta e dá a ordem: "Pode tacar fogo em tudo".

No segundo dia de protestos, duas mulheres da quadrilha, Horrana Fidélis e Juliane de Oliveira, revelam como foi armado o saque a um supermercado.

Horrana: Vai para manifestação, não?
Juliane: Vai ter hoje?
Horrane: Ah, minha filha, mandaram saquear o mercado e eu ‘tô’ indo, meu amor.
Juliane: Tá. E, quando você estiver indo, tu me ‘liga’.
Horrana: Eu ‘tô’ indo, minha filha. Saquear, meu amor. Eu quero carne.

No fim dos dois dias de violência, Igor e um homem não identificado comemoram. ‘Pipoca’ é como eles se referem ao barulho dos tiros.

Igor: Tá escutando aí as ‘pipoca’?

Igor ainda faz piada: ‘Tá’ com pena?

“Todas essas ações eram orquestradas pelo tráfico de drogas. Todos esses protestos. Incêndios a carros particulares, incêndio a ônibus, saques a supermercados”, comenta o promotor de Justiça Fábio Miguel de Oliveira.

Um mês depois, outro policial foi baleado, mas sobreviveu. Em um telefonema para a namorada, Cristian Nascimento da Silva, da mesma quadrilha, confessa o envolvimento.

Cristian: ‘Polícia’ foi baleado ontem.
Mulher: Mas, foram os outros daí?
Cristian: É.
Mulher: Por que vocês fizeram isso?
Cristian: Ah, fazer o que, amor?

A quadrilha foi desbaratada por uma força tarefa entre a Polícia Civil e a Subsecretaria de Inteligência, com apoio do Ministério Público. Segundo os responsáveis pelo trabalho, as escutas evitaram outros ataques. E o maior desafio foi juntar provas contra criminosos que viviam como moradores inocentes, sem ficha policial.

“Eles colocavam pessoas idosas e menores de idade, que ficavam com telefones celulares, e através de aplicativos de mensagens, passavam informações sobre a movimentação dos policiais”, afirma o delegado Felipe Curi.

“Então em razão disso o que a gente fez? Foi inverter a lógica. Eles monitoravam a polícia e a gente passou a monitorar eles. É uma guerra de informação”, diz o subsecretário de inteligência, Fábio Galvão.

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