ALERTA: A criminalidade e a violência crescem de forma assustadora no Brasil. Os policiais estão prendendo mais e aprendendo muitas armas de guerra e toneladas de drogas. A morte e a perda de acessibilidade são riscos presentes numa rotina estressante de retrabalho e sem continuidade na justiça. Entretanto, os governantes não reconhecem o esforço e o sacrifício, pagam mal, discriminam, enfraquecem e segmentam o ciclo policial. Os policiais sofrem com descaso, políticas imediatistas, ingerência partidária, formação insuficiente, treinamento precário, falta de previsão orçamentária, corrupção, ingerência política, aliciamento, "bicos" inseguros, conflitos, autoridade fraca, sistema criminal inoperante, insegurança jurídica, desvios de função, disparidades salariais, más condições de trabalho, leis benevolentes, falência prisional, morosidade dos processos, leniência do judiciário e impunidade que inutilizam o esforço policial e ameaçam a paz social.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

CORRUPÇÃO NA PM E O PODER DOS MILICIANOS



Ao criar as UPPs, o governo agiu com rigor e eficácia para pacificar áreas conflagradas. É preciso ter a mesma determinação com os desvios éticos na polícia


POR EDITORIAL
O GLOBO 16/09/2014 0:00




A prisão do chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do Rio, coronel Alexandre Fontenelle, é fato da maior gravidade, não só por sua posição na hierarquia da corporação — o terceiro homem na cúpula da PM, responsável por um comando no qual se abrigam, como subordinados, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque, organismos de elite. O episódio, tanto mais preocupante por se tratar não só de mais uma evidência de que a banda podre continua operando de dentro da polícia fluminense, alerta também para o ponto até o qual a corrupção se infiltrou nas forças de segurança do estado.

Pelo que representa de desdouro para a imagem e a credibilidade da polícia do Rio, a detenção do coronel do COE tem a mesma dimensão da prisão do ex-chefe de Polícia Álvaro Lins, em 2008, também envolvido em casos de corrupção. Na época, Lins — já eleito deputado estadual — foi apanhado em flagrante (por crimes continuados quando era o número 1 da polícia fluminense) juntamente com homens de sua confiança. Da mesma maneira, o coronel Fontenelle não está sozinho no corpo da denúncia formulada pelo Ministério Público: também estão envolvidos o subcomandante do COE e outros oficiais da PM, numa onda de prisões dentro do oficialato que só confirma a emergência com que deve ser procedida a efetiva limpeza ética das polícias.

Não é novidade que a polícia fluminense está gravemente contaminada pelo tumor de sua banda podre — e mesmo a prisão de oficiais também não chega a ser fato inédito na corporação. No assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, por exemplo, estavam as digitais do tenente-coronel que comandava o batalhão da PM de São Gonçalo. E, de novo, entre os envolvidos no crime, motivado pela atuação da magistrada em processos contra a banda podre, estavam outros PMs. São episódios que se somam numa perigosa escalada de ações de agentes públicos que, em lugar de combater a criminalidade, a ela se aliam em troca de proveitos pessoais. Invariavelmente, à custa de nódoas na imagem da polícia.

A descoberta de que o coronel transformou seu comando numa central de achaques contra comerciantes da Zona Oeste dá-se numa semana em que O GLOBO publica série de reportagens sobre as milícias. Esse é outro nicho de desgaste para a credibilidade da polícia, em razão do grande número de agentes públicos da segurança com elas envolvidos. Corrupção no varejo, controle de grupos paramilitares e envolvimento direto com o tráfico (a outra ponta da promiscuidade de agentes públicos com o crime organizado) se juntam, em delegacias e quartéis, para minar a segurança pública no Rio. Ao criar o programa de UPPs, o governo agiu com rigor e eficácia para pacificar áreas conflagradas. É preciso ter a mesma determinação com os desvios éticos na polícia, depurando-a dos agentes que a desviam do seu papel constitucional. Se não, sequer as UPPs sobreviverão.



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