Ao criar as UPPs, o governo agiu com rigor e eficácia para pacificar áreas conflagradas. É preciso ter a mesma determinação com os desvios éticos na polícia
POR EDITORIAL
O GLOBO 16/09/2014 0:00
A prisão do chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do Rio, coronel Alexandre Fontenelle, é fato da maior gravidade, não só por sua posição na hierarquia da corporação — o terceiro homem na cúpula da PM, responsável por um comando no qual se abrigam, como subordinados, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque, organismos de elite. O episódio, tanto mais preocupante por se tratar não só de mais uma evidência de que a banda podre continua operando de dentro da polícia fluminense, alerta também para o ponto até o qual a corrupção se infiltrou nas forças de segurança do estado.
Pelo que representa de desdouro para a imagem e a credibilidade da polícia do Rio, a detenção do coronel do COE tem a mesma dimensão da prisão do ex-chefe de Polícia Álvaro Lins, em 2008, também envolvido em casos de corrupção. Na época, Lins — já eleito deputado estadual — foi apanhado em flagrante (por crimes continuados quando era o número 1 da polícia fluminense) juntamente com homens de sua confiança. Da mesma maneira, o coronel Fontenelle não está sozinho no corpo da denúncia formulada pelo Ministério Público: também estão envolvidos o subcomandante do COE e outros oficiais da PM, numa onda de prisões dentro do oficialato que só confirma a emergência com que deve ser procedida a efetiva limpeza ética das polícias.
Não é novidade que a polícia fluminense está gravemente contaminada pelo tumor de sua banda podre — e mesmo a prisão de oficiais também não chega a ser fato inédito na corporação. No assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, por exemplo, estavam as digitais do tenente-coronel que comandava o batalhão da PM de São Gonçalo. E, de novo, entre os envolvidos no crime, motivado pela atuação da magistrada em processos contra a banda podre, estavam outros PMs. São episódios que se somam numa perigosa escalada de ações de agentes públicos que, em lugar de combater a criminalidade, a ela se aliam em troca de proveitos pessoais. Invariavelmente, à custa de nódoas na imagem da polícia.
A descoberta de que o coronel transformou seu comando numa central de achaques contra comerciantes da Zona Oeste dá-se numa semana em que O GLOBO publica série de reportagens sobre as milícias. Esse é outro nicho de desgaste para a credibilidade da polícia, em razão do grande número de agentes públicos da segurança com elas envolvidos. Corrupção no varejo, controle de grupos paramilitares e envolvimento direto com o tráfico (a outra ponta da promiscuidade de agentes públicos com o crime organizado) se juntam, em delegacias e quartéis, para minar a segurança pública no Rio. Ao criar o programa de UPPs, o governo agiu com rigor e eficácia para pacificar áreas conflagradas. É preciso ter a mesma determinação com os desvios éticos na polícia, depurando-a dos agentes que a desviam do seu papel constitucional. Se não, sequer as UPPs sobreviverão.
Read more: http://oglobo.globo.com/opiniao/corrupcao-na-pm-o-poder-dos-milicianos-13944414#ixzz3DUYh8gyH
POR EDITORIAL
O GLOBO 16/09/2014 0:00
A prisão do chefe do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar do Rio, coronel Alexandre Fontenelle, é fato da maior gravidade, não só por sua posição na hierarquia da corporação — o terceiro homem na cúpula da PM, responsável por um comando no qual se abrigam, como subordinados, o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque, organismos de elite. O episódio, tanto mais preocupante por se tratar não só de mais uma evidência de que a banda podre continua operando de dentro da polícia fluminense, alerta também para o ponto até o qual a corrupção se infiltrou nas forças de segurança do estado.
Pelo que representa de desdouro para a imagem e a credibilidade da polícia do Rio, a detenção do coronel do COE tem a mesma dimensão da prisão do ex-chefe de Polícia Álvaro Lins, em 2008, também envolvido em casos de corrupção. Na época, Lins — já eleito deputado estadual — foi apanhado em flagrante (por crimes continuados quando era o número 1 da polícia fluminense) juntamente com homens de sua confiança. Da mesma maneira, o coronel Fontenelle não está sozinho no corpo da denúncia formulada pelo Ministério Público: também estão envolvidos o subcomandante do COE e outros oficiais da PM, numa onda de prisões dentro do oficialato que só confirma a emergência com que deve ser procedida a efetiva limpeza ética das polícias.
Não é novidade que a polícia fluminense está gravemente contaminada pelo tumor de sua banda podre — e mesmo a prisão de oficiais também não chega a ser fato inédito na corporação. No assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, por exemplo, estavam as digitais do tenente-coronel que comandava o batalhão da PM de São Gonçalo. E, de novo, entre os envolvidos no crime, motivado pela atuação da magistrada em processos contra a banda podre, estavam outros PMs. São episódios que se somam numa perigosa escalada de ações de agentes públicos que, em lugar de combater a criminalidade, a ela se aliam em troca de proveitos pessoais. Invariavelmente, à custa de nódoas na imagem da polícia.
A descoberta de que o coronel transformou seu comando numa central de achaques contra comerciantes da Zona Oeste dá-se numa semana em que O GLOBO publica série de reportagens sobre as milícias. Esse é outro nicho de desgaste para a credibilidade da polícia, em razão do grande número de agentes públicos da segurança com elas envolvidos. Corrupção no varejo, controle de grupos paramilitares e envolvimento direto com o tráfico (a outra ponta da promiscuidade de agentes públicos com o crime organizado) se juntam, em delegacias e quartéis, para minar a segurança pública no Rio. Ao criar o programa de UPPs, o governo agiu com rigor e eficácia para pacificar áreas conflagradas. É preciso ter a mesma determinação com os desvios éticos na polícia, depurando-a dos agentes que a desviam do seu papel constitucional. Se não, sequer as UPPs sobreviverão.
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