ZH 12/12/2014
BM ignorou alerta sobre risco de fuga de condenado por morte de Molinas. Brigada abre inquérito para apurar se ação foi facilitada em presídio. Coronel aposentado foi assassinado há dois anos e tinha documentos sobre Rubens Paiva, morto no regime militar
por José Luís Costa
O desprezo a um alerta sigiloso permitiu a fuga da cadeia do soldado da Brigada Militar Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, um dos PMs condenados pela morte do coronel aposentado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, ex-chefe do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, nos anos 1980.
Uma semana antes da escapada, o documento circulou entre quartéis da BM e no Batalhão de Polícia de Guarda, responsável pelo controle do Presídio Militar, onde estava recolhido o soldado. O informe, sem esmiuçar detalhes, relatava que Maiquel pretendia fugir do mesmo modo que ocorreu. Apesar do aviso, nenhuma providência teria sido tomada.
O documento é uma das descobertas do inquérito-policial militar (IPM) que apura o caso. Maiquel fugiu na noite de sexta-feira passada do presídio, localizado dentro do terreno do Batalhão de Operações Especiais, no bairro Partenon, na Capital. O PM foi visto pela última vez no jantar, às 19h, e o sumiço foi percebido cerca de três horas depois, no momento da conferência dos presos. Nesse intervalo de tempo, ocorria um culto religioso no refeitório, localizado no piso térreo da cadeia.
Maiquel teria aproveitado para arrombar uma porta e uma janela, saltando para o pátio e, depois, o muro externo. Do lado de fora, um carro o esperava. A escapada não teria testemunhas nem registros de câmeras de vigilância.
Naquele mesma noite, o comando-geral da BM determinou abertura do IPM, já sob fortes suspeitas de que a fuga foi facilitada por omissão ou facilitação.
— O inquérito vai apurar o que aconteceu e quais atitudes foram adotadas. Todos dias chegam inúmeros informes e precisam passar por filtros. Existia uma informação e deveria ter sido mudada a rotina para tentar evitar a fuga — afirma o coronel Alfeu Freitas, subcomandante-geral da BM.
Maiquel, por ter mais de cinco anos de serviços à corporação, aguardava no Presídio Militar o desfecho do processo administrativo que deve resultar na exclusão dele. Depois, deveria ser levado para o Presídio Central. Ainda não há pistas do paradeiro do soldado.
Entenda o caso
O soldado da BM Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, lotado no 11ª Batalhão de Polícia Militar, na zona norte da Capital, estava preso desde 18 de dezembro de 2012.
Ele tem condenações que somam 29 anos e 11 meses de cadeia por assalto a uma farmácia e pelo latrocínio (roubo com morte) que vitimou o coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, em novembro de 2012. O objetivo seria roubar a coleção de 23 armas de Molinas.
Nos dois casos, Maiquel estava acompanhado do colega dele, o soldado Denys Pereira da Silva, 25 anos, condenado a 29 anos e 10 meses pelos mesmos crimes.
A morte de Molinas ganhou repercussão nacional porque a vítima tinha sido chefe do Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro.
Após o crime, foram encontrados documentos na casa de Molinas que comprovaram a passagem pelo DOI-Codi, em 1971, do deputado paulista Rubens Paiva, torturado e morto no Rio durante a ditadura militar, fato jamais admitido pelas Forças Armadas. O corpo de Paiva nunca foi encontrado.
ZERO HORA 07/12/2014 | 11h28
BM busca informações sobre paradeiro de soldado condenado por morte de ex-chefe do DOI-Codi. Investigação está sendo realizada com pessoas próximas a Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, foragido desde sexta
Maiquel de Almeida Guilherme foi condenado pela morte do ex-chefe do DOI-Codi, em 2012 Foto: Divulgação / SSP Sist Guardião
A Brigada Militar realiza uma busca "virtual", como define o corregedor Jairo de Oliveira Martins, para encontrar o soldado Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, que fugiu do Presídio Militar, em Porto Alegre, na noite da última sexta-feira.
O soldado, que trabalhou como PM no 11º Batalhão da Polícia Militar, foi condenado a 29 anos e 11 meses de prisão por dois crimes: a morte do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, nos anos 1980, em uma tentativa frustrada de assalto, e ao roubo a uma farmácia, ambos os crimes no final de 2012.
Conforme o coronel Martins, a BM está buscando informações com pessoas próximas do fugitivo, mas ainda não conseguiu identificar o paradeiro do soldado. Ninguém teria presenciado a fuga de Maiquel, mas acredita-se que tenha sido durante um culto religiosos, que ocorria no refeitório — ele teria fugido por uma janela. O comando-geral da BM determinou a abertura de um Inquérito-policial Militar para apurar a fuga, que será conduzido pelo tenente-coronel Arlindo Marques.
Maiquel ingressou na BM em 2009 e, por causa dos crimes, responde a um processo administrativo que deverá resultar na sua expulsão da corporação. Com Maiquel, também foi condenado pelos crimes o colega dele, Denys Pereira da Silva, 25 anos, que já foi excluído da BM – e está recolhido no Presídio Central de Porto Alegre.
Relembre o caso
Os policiais militares Denys Pereira da Silva, 24 anos (à época), e Maiquel de Almeida Guilherme, 33 anos, foram condenados pela Justiça gaúcha pela morte do coronel de reserva do Exército Júlio Miguel Molina Dias, 78 anos. O crime ocorreu após um assalto frustrado, em 1º de novembro de 2012.
Ex-chefe do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro, o oficial guardava em casa um tesouro histórico: uma pasta com 200 folhas, a maioria com timbre do Ministério do Exército, continha o registro de entrada do ex-deputado federal, engenheiro civil e empresário paulista Rubens Paiva, no DOI-Codi. A passagem dele pelo centro de tortura jamais foi admitida pelas Forças Armadas.
Nos documentos de Molinas também constavam manobras militares para encobrir o atentado à bomba no Riocentro, protagonizado por homens de serviço de espionagem do Exército, em 1981.
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