O Estado de S. Paulo 10 Novembro 2014 | 13h 11
Luiz Fernando Toledo
De acordo com a pesquisa do Fórum de Segurança Pública, a tropa mais letal do País é a do Rio, seguida por São Paulo e Bahia
SÃO PAULO - A polícia brasileira matou em média seis pessoas por dia entre 2009 e 2013. Em cinco anos, foram 11.197 mortes - número superior ao registrado pela polícia americana ao longo de 30 anos (11.090). Os dados são do 8.º Anuário de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A íntegra do estudo será divulgada nesta terça-feira, às 10h30, em São Paulo.
Segundo a pesquisa, a tropa mais letal é a do Rio, seguida pela da Bahia, do Pará e de São Paulo. A polícia fluminense, porém, reduziu para menos da metade o indicador. Em 2009, foram 1.048 homicídios provocados por policiais - 54% do registrado pelas polícias de todo o País.
Entre 2012 e 2013, houve leve diminuição de mortes. No Rio, a taxa foi de 2,6 vítimas por 100 mil habitantes em 2012, ante 2,5 em 2013. Em São Paulo também houve queda - de 1,8 morte por 100 mil habitantes para 1,5. O total de vítimas no País foi de 2.212 no ano passado - 635 em São Paulo e 416 no Rio.
A Bahia teve taxa de 2,1 mortes por 100 mil habitantes - 313 no total. No Pará, o número é de 152 em 2013, mas, se considerada a população, o Estado fica à frente de São Paulo - 1,9 por 100 mil habitantes. Estados como Mato Grosso do Sul, Ceará, Amapá e Acre podem estar subnotificados, uma vez que a pesquisa não encontrou informações disponíveis em alguns anos. As menores taxas estão justamente nesses Estados.
A maior parte das ocorrências foi registrada como confronto com PMs. No ano passado, foram 1.231 casos com policiais em serviço e 336 fora do trabalho.
Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) Bruno Paes Manso, um dos fatores que resultam no número de mortes é a desconfiança da PM, que faz o trabalho ostensivo, em relação à Polícia Civil, que investiga. “Isso não acontece em outros países, onde o ciclo é completo. Há uma desconfiança entre as corporações. O PM pensa que a Polícia Civil não vai prender o criminoso e acaba fazendo justiça com as próprias mãos”, disse.
Para o coronel reformado da PM e consultor de segurança José Vicente da Silva Filho, as mortes são consequência do número de morte de policiais em combate. “Há um fato pouco enfatizado, de que o Brasil é o país que tem a maior quantidade de policiais mortos no mundo”, afirmou. “É um absurdo culpar os policiais. A reação armada dos bandidos só aumentou.” Para ele, casos de “violência com as próprias mãos” são isolados.
Custo. O estudo também mostra que, no ano passado, a violência custou R$ 258 bilhões ao País - 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB). A maior parte do prejuízo está na perda do capital humano - R$ 114 bilhões.
O País investe 1,26% do PIB em segurança, enquanto Alemanha e Estados Unidos gastam 1,06% e 1,02%, respectivamente. A taxa de homicídios é maior no Brasil (24,8 por 100 mil habitantes) do que na Alemanha (0,8) e Estados Unidos (4,7).
A maior parte dos gastos está relacionada a morte e invalidez (R$ 114 bilhões), seguida por investimentos (R$ 61,1 bilhões). São Paulo foi o que mais investiu (R$ 9,27 bilhões), seguido pelo Rio (R$ 7,03 bilhões).
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O fato é que a Polícia brasileira mata porque está no meio de uma guerra urbana, a mais longa do mundo, patrocinada pela leniência dos Poderes da República que teima em não reconhecer e nem enfrentar. Nela morrem muitos policiais e civis e não é tao que "o Brasil é o país que tem a maior quantidade de policiais mortos no mundo”. É uma falácia dizer que a polícia brasileira é justiceira, apesar de existirem policiais no último nível de estresse que cometem crimes no cumprimento do dever e quando identificados são processados, punidos e excluídos da corporação. Também são falaciosos os argumentos que o problema da violência no Brasil estão nas forças policiais quando os bandidos são protegidos por leis permissivas, por uma justiça leniente, por presídios dominados pelas facções e pelas linhas abertas de fronteiras que favorecem o tráfico de armas e munição de guerra. Se o problema fosse policial, a guerra do rio já estaria vencida pelo Estado, mas a polícia ficou no pincel, já que não houve engajamento suficiente do judiciário, do legislativo e do ministério público. A sociedade organizada precisa dar uma basta e começar a exigir dos Poderes as obrigações em defesa do povo e o foco na finalidade pública para a qual existem e são pagos com supersalários e altos privilégios.
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